Novo golpe na praça
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Quando casaram ninguém achou que ele estivesse aplicando o golpe do baú*, Ronaldo não era milionário mas também não era nenhum pé rapado. Raquel era proprietária de uma indústria muito bem sucedida. Quando abriu a financeira para vender seus produtos no crediário ficou mais rica. Quando um banco estrangeiro comprou a financeira e a indústria ela ganhou o suficiente para viver lautamente as próximas 31 encarnações.
Claro que Ronaldo foi beneficiário da fortuna de Raquel. Conheceu o mundo, passou a frequentar os melhores restaurantes, só viajava de primeira classe ou de aviões particulares, tinha até um helicóptero para levá-lo onde quisesse, na hora que quisesse.
Nada disso seduzia Ronaldo. Ele não aguentava mais viver cercado de seguranças armados, não tolerava o puxa saquismo nas festas, nem o assédio de quem sempre tinha um ótimo negócio para lhe propor ou vender. Além disso, depois de enriquecer, Raquel nunca mais lhe dedicara a mesma atenção e o amor de Ronaldo foi arrefecendo até acabar.
Quando os amigos perguntaram quanto ele ia levar na separação ficaram ainda mais perplexos. Ele não ia levar nada, não queria nada que o lembrasse da vida de luxo. Ia pegar a mochila que tinha desde os tempos de mocidade, colocar as roupas que coubessem nela e ia embora. Não sabia para onde, nem como. Mas era um idealista, ia em busca da felicidade.
De fato, dias depois estava em todas as colunas de fofoca dos jornais, a socialaite Raquel tinha sido abandonada pelo marido. Ninguém, nem os melhores amigos sabiam do paradeiro de Ronaldo. E ninguém nunca soube que ele tinha se instalado numa pensão num vilarejo do interior do estado, casara de novo com uma moradora local e nunca teve nada além do que coubesse na sua mochila.
Por isso, até hoje, quando se fala de golpe do baú, sempre alguém lembra que também existe o golpe da mochila, praticado por seres românticos e felizes.
*Um baú é uma caixa retangular, geralmente de madeira, com tampa convexa e coberta de couro cru. Costumam ser grandes e fundos, podendo transportar uma grande quantidade de roupas e objetos. Era muito utilizado pelos nobres nas suas viagens. Pessoas ricas tinham muito o que carregar consigo, daí a origem do termo golpe do baú, ou seja, uma pessoa que se casa com alguém muito rico, apenas interessado nas suas posses.
Comentários
Sò que quando me aconteceu algo semelhante, e no meu caso, a minha mochila tinha mais ares de um conteiner...
Hihihi!
Bjs!