Lei do silêncio

Ana entendeu perfeitamente quando Carlos falou que sua mãe viria morar com eles. A mãe ficara viúva há pouco tempo e os filhos acharam melhor que ela não morasse sozinha. Carlos tinha a casa que permitia alojar a mãe.

A nora, apesar das lendas, se dava muito bem com a sogra e cuidou de todos os detalhes da instalação dela em sua casa com carinho e delicadeza.

O que eles não pensaram, em momento algum até a mudança era que, a partir daquele momento, não estariam mais sozinhos em casa, e no que isso implicava.

Naquela noite, quando Carlos se enroscou em Ana, caiu a ficha. Não que algum dos dois fosse exatamente escandaloso, mas também não eram nada silenciosos. Naquele momento, Carlos perdeu o ânimo, Ana não entendeu, aquilo nunca tinha acontecido antes, até Carlos murmurar: " - A mamãe..."

Ana desabou. Nunca mais aventuras no corredor. Temperos na cozinha, nem pensar. Chamou Carlos para levantar e ir até a cozinha para tomar um chá. Precisavam conversar.

Carlos comentou que ele era mais barulhento que Ana, poderia tentar se controlar. Ana duvidou que isso fosse possível. Não era.

Depois de muito conversar, concluíram que, mesmo nunca tendo gostos sadomasoquistas, poderiam experimentar usar mordaças. Ana tinha uma bela coleção de lenços de seda que serviriam.

Naquela mesma noite pegaram o lenço estampado de Barcelona e o azul marinho. Um amordaçou o outro e foram em frente. Funcionou bem, os únicos sons eram tão baixos que certamente a mãe não ouviria no quarto ao lado. Os beijos ficavam para o antes e o depois.

E assim continuaram a vida. A coleção de lenços era grande e sempre tinham um par enquanto os outros lavavam, mas um dia aconteceu da umidade do ar permanecer alta por quase uma semana e, naquela noite não tinham nenhum lenço seco. Ana tentou secar um par no ferro e acabou queimando a seda.

Durante o jantar ela comentou o fato com Carlos, que devolveu um sorriso consternado, e convidou-a para assistir um DVD depois do jantar.

Estavam no sofá vendo o filme quando a mãe chegou por trás deles, com dois lenços de seda nas mãos. Olharam um para o outro sem entender nada, ao que ela falou:

" - Esses lenços eram da sua avó, que teve 12 filhos. Usem essa noite, quem sabe me ajudem a, finalmente, ganhar um netinho."

Comentários

Bel disse…
hahahahahah mamãe também é gente!
Arimar disse…
Fábio.
Como dizia um personagem:
"Tolinha"... rs rs rs
Beijos
Taty disse…
Aiiiiiii.......que mico que os 2 pagaram!!!!
clau disse…
Hihihi!
Esta, realmente, foi MUITO boa, Fabio!!
E quem disse que as desculpas que inventamos servem para os outros, mais que para nòs mms?...
Bjs!

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