Sem fumaça

Rosana ouviu o apito do celular e ficou imaginando quem poderia estar lhe mandando torpedos numa hora daquelas. Não acreditou quando viu que era uma mensagem de Sérgio, perguntando se ela tinha melhorado da dor de cabeça.

Até seria uma atitude gentil, não fosse o detalhe que ela estava no quarto e Sérgio, seu marido, estava na sala vendo televisão.

Ela não respondeu. Cinco minutos depois o telefone tocou. Era Sérgio querendo saber se ela tinha recebido o torpedo. Quando disse que sim ainda foi obrigada a ouvir a cobrança de que não tinha recebido e depois ia reclamar que ele não se preocupava com ela.

Ficou tão brava que desligou o celular e tirou o telefone fixo do gancho. A dor de cabeça piorara e ela queria dormir.

Não conseguiu. Dez minutos depois Sérgio apareceu na porta do quarto reclamando que não conseguia falar com ela e só caia na caixa postal.

Ela enfiou a cabeça embaixo do travesseiro. Não dormiu, pensando a noite inteira. No dia seguinte dedicou-se à pesquisa de antropologia e etnologia.

Um mês depois avisou Sérgio que estava indo embora e que ele não se desse ao trabalho de procurá-la.

Mudou-se para uma aldeia indígena no interior do Acre que não conhecia nenhum meio de comunicação à distância, nem sinais de fumaça.

E tornou-se uma mulher feliz.

Comentários

Sem sinais de fumaça é muito sem graça... mas mesmo assim, aí que inveja!!!
clau disse…
Uau!...
Com esta tecnologia toda, o problema da comunicaçao, do dialogo, parece mm ter assumido ares surreais!rss
Penso a mesma coisa que a sua Rosana, qdo me vejo ali nas alturas, no meio do Mont Blanc...
Bjs!
Bel disse…
Esse post foi inspirado na minha enxaqueca, pode confessar! hahahahaha

Ainda bem que Marido sabe que preciso de silêncio, e quando quer saber se eu melhorei, deita junto, dá um beijo e olha com a carinha de quem tá perguntando. Perfeito!


Ah, eu é que uso o celular pra chamá-lo, qdo preciso de socorro, e não posso falar alto!


(Sérgio teve o que merecia!!!)
Bel disse…
Sim, cadê a antologia de outubro???

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