Os meus e os teus pés
A primeira coisa que faço quando chego na praia para a minha temporada de férias é arrancar os sapatos (ou tênis, ou qualquer coisa que me limite o movimento dos dedos). Depois disso tiro o relógio.
Tanto uns como o outro passam o tempo todo no armário e só são recuperados no dia da minha volta à irrealidade cotidiana.
Não foi diferente dessa vez. O que mudou é que passei mais tempo por lá (ao todo, 37 dias) e não fazia idéia do tamanho da tortura que seria voltar a calçar meias (não sei usar nenhum calçado fechado sem meias) e o meus tênis para enfrentar a estrada de volta.
Nas poucas vezes que dirigi recorri a um par de sandálias franciscanas que davam total liberdade aos meus pododactilos.
Na areia, na grama, nas ruas de pedra, exercitei meu lado digitígrado com prazer inominável. Não faço o gênero podólatra, até porque acho que o corpo humano é muito bonito para me fixar num único pedaço.
Pensando em tantos pés reprimidos que andam por aí em sapatos duros e saltos torturantes, me lembrei do poema do Neruda sobre os pés da amada.
Que sejam pés libertos da opressão calçadista :
Os teus pés
Tanto uns como o outro passam o tempo todo no armário e só são recuperados no dia da minha volta à irrealidade cotidiana.
Não foi diferente dessa vez. O que mudou é que passei mais tempo por lá (ao todo, 37 dias) e não fazia idéia do tamanho da tortura que seria voltar a calçar meias (não sei usar nenhum calçado fechado sem meias) e o meus tênis para enfrentar a estrada de volta.
Nas poucas vezes que dirigi recorri a um par de sandálias franciscanas que davam total liberdade aos meus pododactilos.
Na areia, na grama, nas ruas de pedra, exercitei meu lado digitígrado com prazer inominável. Não faço o gênero podólatra, até porque acho que o corpo humano é muito bonito para me fixar num único pedaço.
Pensando em tantos pés reprimidos que andam por aí em sapatos duros e saltos torturantes, me lembrei do poema do Neruda sobre os pés da amada.
Que sejam pés libertos da opressão calçadista :
Os teus pés
Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.
contemplo os teus pés.
Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.
teus pequenos pés duros.
Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.
Tua cintura e teus seios,
a duplicada púrpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouco levantaram vôo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.
a duplicada púrpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouco levantaram vôo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.
Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.
Comentários
Já desencanei, agora ele que aguente...
Mas voltando a sua receita, depois que os pés estão empanados, a gente frita ou assa?
PS: Pablo Neruda logo cedo falando dos pés fez minha unha encravada chorar...
Mal chego em casa, tiro sandália, tênis, e nem de chinelo fico. E Namorado vive reclamando a cada vez que me vê descalça, pega o chinelo... eu calço só pra satisfazê-lo, mas assim que sento em algum lugar, já levanto descalça! Tem jeito não...
Adorei Neruda.
Beijão!
Benvindo, amigo!
Que lindo poema de Neruda!
E que ótimo post!
Ai que se eu pudesse só andava com os pés descalços!
Acho que posso imaginar teu martírio na volta pra casa, hehehe
Um abraço,
Neli
Bel : não vou fazer o teste do soutien
Além de passar as férias, praticamente descalça ou de rasteirinhas, fico de vestido, sainha e roupas mais confortáveis, geralmente de algodão.
Colocar a calça jeans é uma tortura, é novamente ter que me moldar, me encaixar, me compactar, reprimir.
Pretendo em 2009, usá-las o menos possível e aproveitar ao máximo minha liberdade.
Beijos libertos
Lindo o Neruda, amei!