Linguagem do amor

O professor de morfologia estava no meio da aula quando Rebeca percebeu que Antonio olhava fixamente para ela.

Ela corou, mas não conseguiu disfarçar que também gostava dele.

Quando a aula acabou, ele a convidou para tomar um café na lanchonete da escola. Passaram o resto da manhã conversando sobre desinências.

Ele a levou para casa e antes de se despedir declarou seu amor radical pelos seus afixos. Ela o beijou com uma vogal de ligação.

A cada encontro conheciam-se mais. Trocavam receitas mesoclíticas de sopa fria de cenoura com gengibre, entre orações coordenadas e assindéticas.

O romance se aprofundou em outras línguas. A primeira vez que ficaram juntos alternaram momentos de furor apaixonado com as funções dos substantivos, advérbios e adjetivos apostos aos verbo to be.

Como denotavam uma existência perfeita a dois, juntaram suas polissemias e casaram-se com a mais correta entonação.

Amavam-se de forma articulatória e nunca perdiam a oportunidade, fosse verbal ou nominal, de estarem adjuntos.

Antonio era um sujeito cheio de predicativos, Rebeca, uma mulher de apostos.

Nunca se trataram de forma intransitiva e suas orações coordenadas eram constantemente copulativas.

Entre antonomásias e catacreses, construíram um lar isento de cacófatos ou solecismos.


Amar foi, eternamente, o verbo de ligação entre eles.

Comentários

Taty disse…
Já sei a quem recorrer quando namorar um professor de portugues ou de literatura brasileira! Ósculos dominicais.....
clau disse…
Coisas do alterego...? rss
Pq este Antonio me recorda alguém. rss
Bjs!
O Tempo Passa disse…
Esse vai pra minha sobrinha, Rebeca, que ainda não encontrou o seu Antonio.
Arimar disse…
Fabio.
Linda a história, mas tenho uma dúvida:
Se ela no início do relacionamento afetivo gramatical ela o beijou com uma vogal de ligação, posteriormente ocorreram beijos consonantais????

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