Cras semper zingiber

A rainha Semíramis levava ao seu lado na carruagem real o esdrúxulo bobo da corte. Tukulti-Ninurta era o seu nome, homenagem de seu pai, ao grande imperador assírio.

Semíramis o chamava carinhosamente de o pequeno Zab.

Depois de cruzarem o bairro dos Nisibis, Zab sugeriu à Semiramis que detivessem a carruagem para uma caminhada pela floresta real.

A monarca ponderou que suas calçaduras não eram adequadas para tal empreitada e contrapropôs atividades diversas no palácio.

Zab, que era bobo, mas tinha juízo, prontamente acedeu à sugestão da alteza, por menos alta que fosse. Além do que, nunca se arrependera das propostas de sua senhora.

Nas câmaras palacianas o que a rainha queria mesmo era realizar uma grande faxina. Por mais azul que fosse o seu sangue, desde criança a soberana era atavicamente chegada numa faxina.

A maneira que encontrava de se realizar era limpanho o cantinho do pequeno Zab, onde podia esfregar com força.

A rainha arrastava os criados para a consecução dos seus objetivos, enquanto Zab, à distância, ficava enrolando.

Sons e aromas espalhavam-se pelos corredores palacianos refletindo a frenética atividade dos dois.

Horas depois, encerrados os trabalhos e encerados os tacos, ambos precisavam de um chá de cadeira. O lacaio de plantão, no entanto, trouxe chá de gengibre.

Zab olhou para Semíramis que olhou para Zab olhando para Semíramis. Conheciam bem os efeitos colaterais do gengibre mas não o recusaram.

A rainha engasgou do primeiro ao último gole. O bobo teve um acesso de hiperatividade.

Só se recuperaram com doses intensas de pera com chantilly.

E combinaram que a faxina continuaria até que os infinitos aposentos do palácio estivessem brilhando. Um trabalho para sempre.

Comentários

Taty disse…
Preciso tomar cuidado com o gengibre e as peras! Com absinto tem efeito colateral?
Faxinar é uma terapia e tanto, sabia sua rainha...

Boa tarde

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