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Mostrando postagens de 2021

Rizoma, micélio e outros fungos quaisquer

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  Em 2005, o micologista americano Paul Stamets publicou seu livro Mycellium Running , um manual para o resgate micológico do planeta. Foi exatamente isso que você leu: cultivar mais cogumelos pode ser a melhor coisa que podemos fazer para salvar o meio ambiente. 25 anos antes, Gilles Deleuze e Feliz Guattari haviam publicado Mil Platôs , quase um tratado clássico de filosofia, que começa pela abordagem do que vem a ser um rizoma, propondo quase um jogo infinito [1] , sem começo, meio ou fim. Há cerca de dois meses, recebi pelo grupo de complexidade que participo, um artigo bastante extenso de Brandon Quitten chamado “Bitcoin is the mycellium of money” onde ele se baseia no livro de Stamets para traçar uma longa e detalhada analogia entre o micélio [2] e o mundo Bitcoin, e aqui cabe uma ressalva importante: Quitten faz esse paralelo exclusivamente em relação ao Bitcoin e não ao universo de criptomoedas, ainda que no decorrer do texto mostre como a existência de outras criptom...

Um estranho pretérito

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  Para mim, um dos mistérios mais inescrutáveis da nossa língua sempre foi a existência de um tempo verbal que atende pela alcunha de futuro do passado (ou do pretérito, que é exatamente a mesma coisa). Conheço muitas pessoas que sofrem de acrasismo*, outras de hipercrasismo*. Outros que vão de encontro a, quando deveriam ir ao encontro de, e vice-versa. Alguns acham que nunca veem o que esperam quando eles vêm assistir ao espetáculo da última flor do Lácio. Também, quem mandou que ela fosse burra e bonita? Eu sobrevivo bem até diante das mesóclises e não sofro com os verbos defectivos. Agora, futuro do passado? O que exatamente isso poderia significar? Mas, como diriam as organizações Tabajara, os meus problemas estão resolvidos, depois de ler alguns textos que circulam nas redes sociais, especialmente aquelas dedicadas ao público corporativo. Em um texto publicado nessa semana (portanto, ao apagar das luzes de 2021), o autor informava que até 2020 (sic) o Brasil deveria s...

Inquisições, gulags e cancelamentos

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  Ninguém na terra tem a coragem de ser aquele homem. Jorge Luís Borges – O deserto A primeira condição de uma dialógica cultural, nos ensina Edgar Morin no 4º volume de seu “O Método, é a pluralidade e diversidade dos pontos de vista. Ainda que não sejamos carentes nem de pluralidade e nem de diversidade e, consequentemente repletos de pontos de vista variados, nossa construção social nos imprime um selo na testa (e na alma) que nunca nos permitiu que esse diálogo de fato se efetivasse. Mudam as condições históricas, comportamentais, ambientais e sociais. Muda a dinâmica do poder, mudam as leis, muda até o tão falado zeitgeist. Só não muda o fato de que continuamos a ser uma humanidade dividida entre perseguidos e perseguidores – até os neutros são considerados opressores pelos perseguidos e coniventes pelos perseguidores. Isso quando não somos surpreendidos pelos opressores alegando que são perseguidos, com um discurso vitimista pedindo proteção. Ainda que todas as inquisiçõe...

A metafísica Kantica

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  “Uma vez que Kant é um dos mais difíceis dos filósofos modernos, eu não posso esperar ter conseguido deixar seus pensamentos inteligíveis ao público em geral. Não me parece claro que todos os aspectos do seu pensamentos sejam inteligíveis, nem para o próprio Kant.”   “Ainda que uma visão geral do sistema kantiano seja comum a todos os comentaristas da sua obra não existe nenhum acordo a respeito da força, ou mesmo do conteúdo, dos seus argumentos.”   Essas duas frase, extraídas do comentário de Roger Scruton sobre a obra de Immanuel Kant (Kant – A very short introduction. Oxford University Press. 1982) já seriam suficientes para desistir de tentar entender a filosofia kantiana, mas eu admito que sou cabeça dura e resolvi enfrentar a fera. Reconhecendo minha limitação para enfrentar face a face os originais do filósofo (e eu até tentei ler numa versão inglesa e depois de algumas muitas páginas reconheci que sozinho não chegaria a lugar nenhum), fui em busca de ajud...

Falando de Pascal

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 Argumentum ad Hominem (literalmente, argumento contra o homem) é um tipo de falácia de relevância, um subgrupo do que é conhecido no campo da lógica como falácias não-formais. Quando não tem mais argumentos para usar, um debatedor agressivo, em vez de refutar a verdade do argumento adversário, ataca diretamente o caráter pessoal do oponente. Blaise Pascal, matemático, físico, inventor, filósofo e escritor, foi também um teólogo jansenista (doutrina estabelecida por Cornélio Jansen, bispo de Ipres, fundamentada nos escritos agostinianos e muito aparentada com os princípios do calvinismo). Ainda que até hoje seja um dos pensadores mais relevantes da história não se tornou uma referência como Descartes, seu contemporâneo e de quem discordava frequentemente quanto à supremacia absoluta do racionalismo. Ninguém atribui a uma pessoa o epíteto de “pascaliano”, mas estamos cercados de pessoas ditas, ou autoproclamadas como cartesianos. O ant...

Embriaga-te de Baudelaire

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  Existem livros que lemos na juventude e por mais que tenhamos gostado acabamos nunca voltando a eles.  Outros aos quais voltamos e nos perguntamos por que diabos eu tinha gostado disso? Nos últimos tempos voltei a ler Baudelaire. E me pergunto por que diabos demorei tanto para relê-lo? O "Spleen de Paris", também chamado de pequenos poemas em prosa é algo que deveria  viver na minha cabeceira.  Spleen, na acepção francesa da palavra (não confundir com o inglês onde quer dizer baço, ou sentimento de contrariedade) tem o sentido de melancolia.  A melancolia do vadio Charles pelas ruas e salões de Paris é doce, amarga, leve, dolorosa, compassiva e cruel. Precisa na escolha das palavras e infinitamente mais poética ( resgatando o sentido helênico de poiesis como atividade que revela a beleza do espírito, envolvendo, portanto, prazer e satisfação) que muita coisa escrita em verso que circula por aí. Deixo aqui uma amostra, o pequeno poema XXXIII (na tradução de Jos...

A cigarra hodierna

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Tendo a cigarra em folguedos Veraneado o feriado final, Achou-se em doença extrema Sentindo-se muito mal. Não lhe restava fagulha De oxigênio, a tagarela Quis valer-se da formiga Que morava perto dela. Rogou-lhe que lhe ajudasse, Pois tinha saúde e brio, Algum ar com que manter-se Té voltar-se o são feitio. "Amiga – diz a cigarra – Prometo à fé d'animal. Cuidar-me até agosto Com u´a máscara cabal." A formiga nem uma fresta, Abre, nem se junta. "Durante a peste em que lidavas?" À pedinte ela pergunta. Responde a outra: "Eu passeava Noite e dia, a toda hora." – Oh! bravo, torna a formiga; Passeavas? Pois então, e agora? A partir da tradução de Bocage para Jean de La Fontaine (1621-1695), poeta e fabulista francês. Descrição da imagem: gravura mostrando a cigarra conversando com a formiga, de Grandville para a edição de 1847 de La Fontaine

Soneto do lugar comum

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  Eu caminhava em busca de um propósito Que tornasse   a minha vida disruptiva A coach me atendeu toda festiva A polímata pedia de um depósito   O valor era um imenso despropósito Mas ela retrucou bem assertiva Clamou de forma doce e emotiva Usando a resiliência de um compósito   Construiu-se a nova narrativa Pertencimento e ressignificação Empreendendo meus últimos tostões   Hoje clamo pelas redes, compaixão, Empatia me sugerem aos borbotões E uma vida mais contemplativa

El vuelo de Estol

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  El gato de Schrödinger está vivo y maullando, pero Elvis está muerto. Mezclar física cuántica con ética no es para todos, especialmente en un libro que no es una conversación filosófica entre Heisenberg y Kant en un cafetín de Buenos Aires sino una novela cuyo género roza lo indecible.   “El vuelo del cóndor punk” de Acho Estol en algunos momentos parece un libro de acción, en otros un policial (no sin una buena razón, al fin y al cabo, ¿quién mató a Suloaga?) Y nunca deja de tener un aire de historia de amor. El narrador-personaje de Estol, un tal Federico Manuel Moreno, comienza la historia casi sin reconocerse frente a su imagen reflejada en una vidriera   y, a partir de ese momento, nos sumerge en una serie de aventuras. La historia está dividida entre dos accidentes importantes. Uno al principio y otro en las páginas finales, que nos sorprenden en una situación muy inesperada. Pero no lo digo porque no doy spoilers Sexo, drogas y rock and roll mezclado co...

Vamos ispicar ingrês

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Imagem de um porco fingindo ser erudito Juca aplicou uma enrolação para o famoso colégio Imperial de Londres quando realizou que não poderia pretender esconder muitos de seus costumes com medicinas. Exitou (sic) em mencionar suas convicções, por mais valorosas que fossem, especialmente quando tinha sido prejudicado pelo coronel. Adepto de argumentos antecipou as suas apologias cheias de apreciação. Ele que sempre atendera muitas leituras e suportara com seu patronato a livraria local e devolvera toda a fábrica de novelas, eventualmente. Seus parentes nunca intenderam sua sensibilidade e assistiram casualmente a queda da sua confidência e comodidade diante da competição. Ele sabia que estava equivocando sua graduação, plena de gratuidade, sem nenhuma ingenuidade. Prescreveu-se particularmente e retirou seu resumo dos recordes e dos requerimentos, sem reclamar nada. Acabou o dia comendo uma pasta cheia de preservativos no lanche.  

A média é uma média é uma média

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Existem médias e médias. Aritméticas, geométricas, proporcional, quadrática. Há os que calculam médias, outros que só fazem média com as médias que não souberam sopesar, mas gostam de taramelar. As médias nunca são conservadoras ou progressistas, sempre se mantém como um valor de tendência central. Quem calcula a média entre π, φ e e chega a uma média completamente irracional. Outros, no entanto, preferem médias que sejam ponderadas. Isso não significa que toda média ponderada consegue ser harmônica, afinal não é qualquer um que consegue inverter seus valores sem lutar por eles. Mediante não é um calculador de médias, mas alguém que só calcula médias de forma condicional, a troco de alguma coisa. Da mesma forma, o mediador, é apenas alguém que se interpõe entre uma média e outra (ou entre um estatístico e outro) quando estão em conflito. Caso se interponha em posição vertical, é uma mediatriz e se, ao invés de se interpor, o mediador se coloca à margem do assunto, deixa se ser um med...