Um estranho pretérito
Para mim, um dos mistérios
mais inescrutáveis da nossa língua sempre foi a existência de um tempo verbal
que atende pela alcunha de futuro do passado (ou do pretérito, que é exatamente
a mesma coisa).
Conheço muitas pessoas que sofrem de acrasismo*, outras de hipercrasismo*. Outros que vão de encontro a, quando deveriam ir ao encontro de, e vice-versa. Alguns acham que nunca veem o que esperam quando eles vêm assistir ao espetáculo da última flor do Lácio. Também, quem mandou que ela fosse burra e bonita? Eu sobrevivo bem até diante das mesóclises e não sofro com os verbos defectivos.
Agora, futuro do passado? O que exatamente isso poderia significar?
Mas, como diriam as organizações Tabajara, os meus problemas estão resolvidos, depois de ler alguns textos que circulam nas redes sociais, especialmente aquelas dedicadas ao público corporativo.
Em um texto publicado
nessa semana (portanto, ao apagar das luzes de 2021), o autor informava que até
2020 (sic) o Brasil deveria superar a barreira das 600 fintechs. Como assim
cara pálida? Será que a recém descoberta da reversão do tempo quântico já está
em curso e estamos voltando no tempo?
Fora outros que insistem em fazer previsões para 2022 de coisas que já existem ou situações que já aconteceram. Esse sim é o verdadeiro futuro do pretérito.
Enquanto as mães dinás e demais fornecedores de amarrações e garantias de futuro proliferam em cartazes pregados nos postes (ou serão posts?), a abúlica caterva que sobrevive às custas de seu atavismo social consome com edacidade essas previsões sem nenhuma provisão.
E assim caminhamos solenemente em direção ao abismo.
* não perca tempo buscando essas palavras no dicionário, acabei de inventá-las
Descrição da imagem: modelo visual de reversão quântica
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