A cigarra hodierna


Tendo a cigarra em folguedos
Veraneado o feriado final,
Achou-se em doença extrema
Sentindo-se muito mal.

Não lhe restava fagulha
De oxigênio, a tagarela
Quis valer-se da formiga
Que morava perto dela.

Rogou-lhe que lhe ajudasse,
Pois tinha saúde e brio,
Algum ar com que manter-se
Té voltar-se o são feitio.

"Amiga – diz a cigarra –
Prometo à fé d'animal.
Cuidar-me até agosto
Com u´a máscara cabal."

A formiga nem uma fresta,
Abre, nem se junta.
"Durante a peste em que lidavas?"
À pedinte ela pergunta.

Responde a outra: "Eu passeava
Noite e dia, a toda hora."
– Oh! bravo, torna a formiga;
Passeavas? Pois então, e agora?

A partir da tradução de Bocage para Jean de La Fontaine (1621-1695), poeta e fabulista francês.

Descrição da imagem: gravura mostrando a cigarra conversando com a formiga, de Grandville para a edição de 1847 de La Fontaine

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