O discurso do olhar


Não era a primeira vez que ele ouvia falar em linguagem corporal, mas era a primeira em que alguém lhe dava um roteiro mais detalhado.

Ele estudou, observou, reparou. Aprendeu todos os truques e sinais.


Aliado aos seus conhecimentos de análise de discursos, aprendido durante anos de leitura de Lacan e Barthes, julgou ser capaz de, praticamente, ler pensamentos e intenções
.

Exceto no dia que a viu pela primeira vez. Tentou entender seus movimentos, mas não conseguia manter a concentração fora dos olhos dela. Prestava atenção em cada palavra que ela pronunciava, esperava achar o significado oculto por trás delas. Nada.

Quando foi dormir não conseguiu. Ficou tentando entender o que havia por trás daquele secreto discurso do olhar.


Uma demonstração de poder de sedução? Um jogo provocativo à sua capacidade de entender as pessoas?


Todas as leituras o levavam a crer que ela estava apaixonada por ele. O que era humanamente impossível.


Propôs um novo encontro, passou horas em meditação preparatória para não se deixar enganar pelas aparências.

Não adiantou nada, assim que avistou os olhos dela, perdeu completamente a compostura. E despencou nos seus braços.

Com o tempo descobriu que era tudo verdade. Sua leitura estava correta. Aqueles olhos tinham um discurso nada secreto.


Suas palavras eram transparentes e seus movimentos sem nenhuma falsidade.


Casaram-se no fim do verão. E ele nunca mais precisou observar mais nada em niguém.

Os olhos dela lhe bastavam.

Comentários

Ah os olhares... que bom que encontrou o seu...
Bom dia!
Taty disse…
Na dúvida, ataque...às vezes, os resultados são maravilhosos. Beijos.
Bel disse…
"Ah, se eu pudesse saber
o que dizem seus olhos..." já dizia o poeta. E é tão bom quando se entende o olhar! Tão bom quanto por os
"olhos nos olhos,
quero ver o que você diz,
quero ver como suporta
me ver tão feliz..."

Enfim, os olhos são os olhos. ;)
Arimar disse…
Fabio.
Olhar para lá de lacaniano !
Que beleza esse amor deles.
Beijos

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