Cinderello
Durante toda a sua vida Felipe guardou com cuidado o par de sapatos de cristal que tinha herdado de sua avó.
Só deveria entregá-los à mulher que ele descobrisse como sendo a primeira e a última de sua vida.
Não seria uma missão fácil, ele sabia, a começar pelo tamanho dos sapatos que eram minúsculos, o que limitava seus namoros a mulheres com pés de crianças.
Mariana sofreu dolorosamente com bolhas e calos antes de concluir que não o amava tanto assim para passar o resto da vida com bandaids nos calcanhares.
Justina foi vítima de um encurtamento da musculatura ísquio tibial e vivia com dores na na região lombar.
Claudinha, por outro lado, enfrentou a formação de neuromas e o abandonou antes que virassem uma fascite plantar.
O metatarsos de Carolina não resistiram sequer uma semana aos calçados de cristal oferecidos pelo namorado.
Ana Maria concluiu que cristal não era permeável e não permitia nenhum tipo de ventilação para os seus pés delicados, logo começaram a surgir fungos entre os dedos.
A vida amorosa de Felipe se dividia entre encontros românticos e visitas aos ortopedistas.
Até o dia em que conheceu Sara. Um mulherão que calçava quase 40 e que o deixou completamente apaixonado e confuso. Como resolver a situação?
Estavam caminhando pelo parque do Ibirapuera quando ele, finalmente, tomou coragem, e contou a história dos sapatos para ela.
Ela sorriu e pediu para ver os sapatos. Pegou-os, olhou-os com carinho e admiração.
Depois quebrou os dois no primeiro poste que encontrou e atirou os cacos de vidro no lixo reciclável.
E viveram felizes para sempre.
Comentários
beijos de terça feira
Bjs!
Rs....rs, mostrando logo no começo como uma relação deve seguir, baseada na reciclagem.
;-D.. beijao!