Bonança
"We are
such stuff as dreams are made on." (William
Shakespeare)
Quando ele
viu aquele rosto algo lhe disse que era conhecido. Extremamente conhecido,
apesar disso não sabia exatamente de onde, ou quando.
Ela sorriu
para ele e veio na sua direção. Ele retribuiu o sorriso e começou a pensar em
formas de driblar a memória que o traia sempre quando mais precisava
dela.
Foi salvo
pela frase que ela usou para cumprimentá-lo. Não conversavam desde o dia da
formatura dela.
As imagens
começaram a correr rapidamente pela sua mente. Ele a conhecera na sua festa de
formatura. Era a namorada de um dos seus colegas de classe.
Meses
depois ele foi à formatura dela, que era da mesma classe de uma das suas primas.
Como ela
ainda estava com seu ex-colega, acabaram sentando na mesma mesa e conversaram
bastante durante a festa. Especialmente sobre Shakespeare de quem ambos
gostavam.
Nos anos
seguintes tiveram encontros esporádicos. Uma vez num corredor de um shopping
center, onde ela passeava com a irmã. Outra vez, em outro shopping, cruzando
nas escadas rolantes.
Perguntou o
que ela fazia naquele evento. Lembrava que ela era médica e estranhou sua
presença numa festa de entrega de um prêmio de jornalismo. Ela estava lá
ajudando a irmã que era a responsável pelo buffet da festa.
Trocaram
telefones e se despediram.
Nos dias
seguintes a imagem dela não saia da cabeça dele. Não sabia se ela estava com
alguém, arriscou convidá-la para ir ao teatro e jantar. Ela aceitou o
convite.
Foram ver
"A tempestade". No meio do segundo ato, quando Gonzalo dizia que ali tudo era
vantajoso para a vida, ele notou que ela abria discretamente a
bolsa.
Sairam
momentos depois. Ela recebera uma chamada do hospital e precisava ir ver um caso
de urgência.
Ele a levou
e ficou esperando. Quando ela ressurgiu ela cochilava na sala de espera. Já era
de manhã. Ela o convidou para tomarem café juntos.
Entre uma
xícara e outro descobriram-se um no outro.
Entre uma
xícara e outra entenderam porque o tempo demorara tanto em
aproximá-los.
Cada um era
o sonho e além do sonho do outro.
E cada um
passou a ser a vida e muito além da vida do outro.
Imagem: "Miranda - The
Tempest" de John William Waterhouse
Comentários
Hihihi!
Mas mm assim, Fábio, eu gostei muito!
Bjs!