O varal da vizinha

Joel morava num apartamento simples. Quarto, sala, cozinha e banheiro e uma apertada área de serviço que desembocava num armário que o corretor chamou de despensa.

A área, um corredor entre a cozinha e o tal do armário, não tinha janelas (a roupa seca mais rápido, dizia o corretor, sem pensar nos dias de chuva) o que permitia uma visão panorâmica do varal da vizinha.


Vizinha que Joel nunca vira mais gorda, nem mais magra. Só sabia que era uma mulher pelo que via pendurado no varal.


Aliás, sabia da vida da moradora pelo que olhava pela janela. Ela devia fazer a mesma coisa comigo, ele imaginava.


Começou a analisar os hábitos. Ela nunca usava calça comprida (deve ser crente), gostava de roupas estampadas ou coloridas. Era ousada na lingerie. Certamente não praticava esportes pois nenhuma tipo de vestimenta esportiva aparecera no varal.


Um dia, ao chegar em casa, descobriu que a vizinha tinha um namorado. O homem subira com ele no elevador e entrara no apartamento da dona do varal.


Só poderia ser namorado,uma vez que nunca viu roupa masculina no varal.

Quando o encontrou novamente prestou mais atenção e percebeu que não era namorado, ele usava aliança, só podia ser amante.

Começou imaginar histórias. Supôs que ele a mantivesse, sem permitir que jamais saísse de casa.


Mas, se era amante, por que é que ele nunca ouvia nenhum som vindo do apartamento ao lado? Nem sequer um boa noite.


Passaram-se meses e, durante ele, Joel encontrou diversas vezes o namorado da vizinha. Geralmente chegando no final do dia e, algumas poucas vezes, saindo pela manhã.


Numa noite de calor, Joel trouxe trabalho para acabar em casa e se instalou na cozinha, onde a brisa que entrava pela janela da área deixava o ambiente mais fresco.
Já passava da meia noite, quando viu a luz da vizinha acender e ouviu o barulho do caminhar dos saltos.

Não resistiu. Foi para o olho mágico e ficou esperando ela sair. Não conseguiu ver seu rosto, mas era uma ruiva, grande e estava com roupa de festa.


Voltou a trabalhar.


Já de madrugada, silêncio absoluto na rua, até ouvir um carro parando. Foi até a janela da sala e viu a vizinha saindo de um táxi e entrando no prédio pela porta da garagem.


Joel pegou o saco de lixo da pia e ficou esperando com a porta entreaberta para, na hora que o elevador parasse no seu andar, ele saísse para jogar o lixo e visse a vizinha misteriosa.


Ficou de olho no painel do elevador, quando faltava um andar, ele abriu a porta. O elevador chegou e a porta se abriu.


Joel olhou para vizinha e ficou pasmo. A vizinha olhou para Joel e ficou vermelha. Ambos entraram rapidamente em seus apartamentos.


A vizinha era o suposto amante da vizinha, chegando com a maquiagem toda borrada.


Duas semanas depois uma empresa de mudança esvaziou o apartamento do vizinho(a) de Joel.

Comentários

Taty disse…
Você gosta de fazer bagunça com os varais!!!! Beijos
clau disse…
Ah... adorei esta estória... Só pq devo ter ficado mais curiosa que o próprio Joel!!rss rss
Arimar disse…
Fabio.
Será que o Joel é do tipo "espanta vizinhança "?
Mas a lição foi profunda: Cuidado com o que se põe no varal. rs rs.
Beijos

Postagens mais visitadas deste blog

Poemeto sintagmático

Basium, osculum e suavium

Embriaga-te de Baudelaire