Santa Julienne

Maristela não teve dúvidas quando resolveu desmanchar o namoro com Arnaldo. Não existia amor, nem os melhores momentos justificariam continuar com aquilo.

Arnaldo ficou arrasado. Estava perdendo não só a namorada mas a companheira de esportes radicais. Com quem, agora, ela poderia praticar alpinismo e caiaque? Quem estaria ao seu lado nas trilhas noturnas?

Ela estava irredutível, nenhum dos seus argumentos parecia sensibilizá-la. Apelou para a chantagem emocional.

Lembrou que os dois estavam inscritos em parceria num curso de windsurf. Relembrou-a dos jantares à luz de lamparina às margens do rio Tubarão. Chegou a lembrá-la que ela ia ficar sem o único massagista que tinha resolvido seu crônico problema de músculos adutores.

Nada. Maristela nem piscou. Disse que nada na vida a faria mudar de idéia.

Arnaldo se conformou e resolveu levá-la de volta para casa. Já na porta do seu prédio perguntou se ela queria de volta o descascador de legumes a "julienne" que ela lhe havia emprestado.

Maristela irrompeu em lágrimas, começou a chorar aos soluços, sem parar. Se atirou nos braços de Arnaldo, que não entendeu mais nada.

Quando ela, finalmente, conseguiu voltar a falar lhe disse: " - eu fico sem paixão, sem aventuras, sem muriçocas, mas eu não vou sobreviver sem a sua "julienne" de legumes. "

Nunca mais falaram em separação

Comentários

Taty disse…
Ah o Amor! O que um belo prato não faz pelo amor! Amor não é só alimento para alma....
Jô Bibas disse…
Adorei. Cada um com suas idiossincrasias. Cada um com suas prioridades.
Boa semana!
O amor é lindo...rs

Bom dia!!!
O Tempo Passa disse…
Preciso aprender um "julienne" qualquer logo!
clau disse…
O que seria do todo se nao existissem os pequenos detalhes...?
Hihihi!
Bjs!

Postagens mais visitadas deste blog

Poemeto sintagmático

Basium, osculum e suavium

Embriaga-te de Baudelaire