Contículo galicista
Saltava aos olhos a avalanche de batom que ela usava. Parecia um bibelô, mas se sentia chique com toda aquela maquiagem que ainda incluía um rouge e as unhas marrom criadas por sua manicure-pedicure. Ela estava mais para pierrô do que para madame. Não importava. Naquela tarde iria à matinê com seu namorado, um camelô escroque vendedor de raquetes e agiota de cupons, que conhecera no guichê de uma butique. Para completar a toalete, usava um vestido de popeline e crochê que vira na vitrine da loja. Depois de assistirem o balé, foram a um restaurante. Ela, querendo evitar gafes, seguiu os pedidos sugeridos pelo garçom. Comeu filé, omelete e um purê maionese. Bebeu uma champagne de buquê duvidoso, um glacê de sobremesa. Dali foram a uma boate onde sorveu mais duas ou três taças de conhaque. Ela voava como se tivesse tirado um brevê. Seu vôo, no entanto, parecia ter sido vítima de alguma sabotagem, a cabine girava, não achava o guidão, tudo parecia ser uma grande maquete. Devia ser algum ti...