Corredor de ônibus
Mariana morava no Grajaú e todos os dias acordava às 5 da
manhã para ir trabalhar num escritório de contabilidade na Libero Badaró onde
estava há mais de três anos.
A viagem de ida não costumava ser muito sofrida, mas a de
volta era uma tortura. Mesmo quando saía pontualmente às 18h não chegava em
casa antes das 21h.
O trajeto incluía uma pequena caminhada até a praça do
Correio onde embarcava, às duras custas, no 5317. Uma viagem de quase 33 km e
depois mais um trecho à pé até a estrada do Capoeira, onde tinha a sua casinha com
Horácio.
Os dois estavam juntos há cinco anos. Ela o conhecera
numa festa de bairro e, não pouco tempo depois juntaram os trapos e as panelas.
Horácio era um sujeito trabalhador e carinhoso. Tinha uma
oficina de motos na Teotônio para onde ia e voltava de casa caminhando. Não
acordava tão cedo quanto Mariana e, como sempre chegava em casa antes dela,
preparava o jantar para a companheira exausta do dia de trabalho e da jornada
de ônibus.
Todo dia, quando chegava em casa, Mariana encontrava
Horácio já de banho tomado e no fogão. Algumas vezes estava tão cansada que nem
chegava a jantar. Ele a entendia.
A vida de Mariana era tranquila. Gostava do trabalho e
era feliz em casa. As horas de viagem de ônibus eram apenas um detalhe
desagradável com o qual ela aprendera a conviver.
Até o dia em que foi inaugurada a faixa exclusiva de
ônibus no corredor norte-sul.
Como todos os dias, ela saiu do trabalho, caminhou até o
ponto de ônibus que, para sua surpresa, estava menos lotado que de costume.
Mais surpresa ainda ficou quando seu ônibus chegou em 5 minutos e ela conseguiu
embarcar sem ficar com a sensação de sardinha na lata.
Mais surpresas ainda estavam por vir.
Em menos de quinze minutos já estava no Campo Belo. Em
seguida ela avistou o Borba Gato. A viagem não tinha ainda uma hora e ela já
deixara o autódromo de Interlagos para trás. Parecia um sonho.
Ficou com vontade de voltar para o centro e dar um beijo
no prefeito que implantara os corredores de ônibus. Até pagaria os 20 centavos
a mais na tarifa.
Não passava muito das 19h30 quando Mariana apertou o
botão para o ônibus parar no seu ponto.
Começou a fazer planos. Iria surpreender Horácio e,
quando ele chegasse do trabalho iria encontrar a janta pronta. Só ficou
frustrada ao ver que as luzes da casa estavam acesas e que não conseguiria
fazer esse mimo para o companheiro.
Abriu a porta. No sofá da sala, completamente nus estavam
Horácio e Adriana, a vizinha que morava na casa da frente.
Nem ouviu o que Horácio tentou dizer. Virou as costas,
voltou para o ponto de ônibus e embarcou, sem destino, no primeiro que passou.
E jurou que nunca mais votava naquele prefeito.
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