Todo mundo se acha expert em estatística
Paramécio sofria de
cibercondria, uma doença cada vez mais comum nos meios digitais. Ele era uma
pessoa média, nem sempre muito ponderada, mas habitualmente bastante móvel.
Sua principal margem de erro
era ter alguns desvios padrões de personalidade que se manifestavam com muita
frequência e que eram derivados integralmente de sua autoestima
superdimensionada e do fato de nunca ter passado nas provas de matemática sem
colar.
Todas as manhãs acordava
com dores nos quartis, o que sugeria um quadro sinóptico de inflamação da
mediana. Apesar desse mal estar fora de moda, isso provocava grande dispersão
de sinapses e crises de variância que eclodiam em opiononite aguda em redes
sociais.
Palpitava, aleatoriamente,
sobre qualquer número que lia, de forma determinante. Nenhum senso crítico. Nenhuma
correlação. Um hiperbólico sem efeitos de tratamento.
Ignorava os intervalos
contextuais, desprezava as relevâncias e, à guisa de impropério, atribuía a
seus desafetos a alcunha de qui-quadrados irracionais ou de vetores quadráticos
de Bernoulli.
Defendia uma cosmogonia
sem regressão, que julgava ser apenas uma falácia histogramática dos seguidores
de Bayes, um bando de outliers de uma amostra desparametrizada.
A eventual probabilidade
de estar errado era, para ele, uma hipótese nula. Os que se atreviam a
corrigi-lo eram obtusos insignificantes.
Um amigo lhe sugeriu se
tratar, fosse com um psicanalista indutivo ou com um descritivo. Talvez uma
análise de variância ou um teste F pudesse lhe indicar um tratamento para essa propensão
não preditiva.
Rejeitou peremptoriamente
essa possibilidade. Afinal, sua função bidimensional era cumulativa e
atemporal.
Deseducadamente, mandou o
amigo catar ocorrências multivariadas em Niterói e guardá-las num box-plot
matricial.
Veio a óbito tentando
saltar de uma rede elástica, acreditando que efeitos binários fatoriais lhe
salvariam.
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