Tempos medonhos
Há tanta gente sozinha
Que a gente mal adivinha
(Vinicius de Moraes)
Há pouco mais de um mês uma amiga me mandou uma mensagem: perguntava se eu tinha falado com alguém da turma nos últimos dias. Ao saber que não, me avisou que o Fulano tinha morrido dois dias antes.
Depressão. Suicídio. Ninguém sabia disso, nem a esposa, ele sofreu calado até o momento em que desistiu de sofrer.
Não tinha mais que 40 anos. Eu tinha convivido com ele por cerca de 20. Nos encontrávamos pelo menos duas vezes por semana. Era um cara bem humorado, batalhador.
Como todos nós passou pelos seus perrengues, mas nada que apontasse nessa direção. Deixou a esposa e filhos.
Hoje de manhã vejo num post de rede social a notícia de que Beltrana tinha morrido.
Depressão. Suicídio. Todo mundo sabia que ela sofria da doença que nunca escondeu. Fazia tratamento para suportar, mas deve ter batido mais forte essa noite e, de manhã, se foi.
Tinha 37 anos. Trabalhou comigo por cerca de 10. Mantivemos o contato depois disso e, quando soube pelo que estava passando conversamos algumas vezes.
Sempre se mostrou confiante de que seria capaz de vencer.
Duas vezes em 40 dias, pensando o quanto a gente deixa de ver e perceber enquanto corremos atrás do vento e as nossas amizades se esvaem pelo mundo digital.
Quantos mais estão sofrendo calados? Quantos estão gritando por socorro sem que tenhamos tempo de ouvir. Serão realmente amigos ou apenas uma porção de bytes espalhados na nossas telas?
Pode estar ao nosso lado, pode ser da sua família. Pode ser você ou eu.
Minha sugestão? Se é que a sugestão de alguém, como eu, que viu isso acontecer duas vezes, sem ter percebido, possa servir: não se deixe iludir pelos posts divertidos ou pelos selfies sorridentes de quem você ama.
Encontre a pessoa ao vivo, converse e escute sem julgamentos. Disponha-se a ajudar da forma que for necessária. Pode ser doença, pode ser dinheiro, pode não ser nada disso e, ainda assim, a pessoa estar navegando nas profundezas.
Se não for nada, melhor. Você passou um momento agradável com alguém querido.
Se for algo, talvez você salve uma vida.
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