As moscas estão vencendo
Quem sabe um mínimo de história (infelizmente são poucos),
sabe que a política sempre viveu de jogos de interesses, manobras legais ou
não, golpes baixos e alianças espúrias. Sem contar o uso de venenos, traições e
manipulação de grupos de suporte.
Assim como sempre foi financiada por grupos que lucram com
as suas práticas e sustentada por massas de ingênuos e idealistas que acreditam
que líderes políticos podem transformar o mundo.
Não é à toa que Monteiro Lobato já definia a política como
uma gamela cheia de estrume onde se nutrem grupos de moscas. Alternam-se as
moscas, mas o estrume continua sempre o mesmo.
Eu sou daqueles que entendem que, sem mudar o conteúdo da
gamela pouco importa a cor das moscas que a sobrevoam.
Justamente por isso que sou contra as moscas domésticas,
varejeiras, de fruta, de estábulo, do vinagre, típulas, crisopas, de enxame,
amarelas e, até mesmo, contra as moscas brancas.
Em momento em que as pessoas se sentem obrigadas a se
incorporar a um mosquedo ou outro eu, que não me interesso por nenhum deles,
sou considerado como um alienado ou favorecedor do lado onde o estrume fede
mais (e ele fede mais sempre do lado oposto de quem esteja falando).
Quem me conhece um pouco melhor sabe que posso ser chamado
(e o sou) de um monte de coisas, menos de alienado.
O que não significa que seres inflamados pelo ódio, vingança
e desprezo de todos os tipos, não o façam e infelizmente o tem feito contra
tudo e todos que não estejam alinhados ideologicamente com a sua farândola.
Pessoas que costumam fazer discursos piedosos e religiosos,
mas não hesitam em ofender os seus semelhantes.
Pessoas que militam em causas que defendem a diversidade,
mas, nessas horas, não aceitam diversos das suas ideias.
Pessoas que rugem ferozmente pela aplicação da lei e da
justiça, desde que ela só seja aplicada contra os seus adversários.
Pessoas que discursam pela liberdade de opinião somente dos
seus asseclas.
Pessoas que acreditam que podem distorcer, fraudar e
manipular informação de acordo com o que lhes convém.
Pessoas que acreditam que a intolerância e o conflito são as
únicas ferramentas de debate.
Tenho amigos praticamente em todo o espectro
político-ideológico. Alguns conseguem argumentar de forma racional e educada
sobre as suas convicções. E eu os admiro por isso.
Infelizmente muitos se deixaram levar pela turba massa ou
pelas notícias plantadas nas mais diversas mídias da extrema esquerda à extrema
direita, e adotaram um discurso de ódio e ofensas aos demais.
Pior, quando questionados indiretamente por esse tipo de
postura, aproveitam para ofender de novo os adversários (o que, certamente, vai
aparecer nos comentários desse texto).
Pessoas que exigem um respeito que não têm. Uma honestidade
que não praticam. Uma educação que perderam no meio do caminho.
Enquanto perde-se tempo com esse bate-boca inócuo, o estrume
da gamela se multiplica, e as moscas refestelam-se. Tristes tempos.
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