Parafuso espanado

 


Quando um pensador é citado em diferentes livros de diferentes autores que eu gosto eu costumo ir atrás da fonte para saber mais a respeito. Foi o que aconteceu com o romeno Emil Cioran. Ele é conhecido por ser um filósofo mais pessimista que Schopenhauer, o que não é exatamente muito fácil, quase uma proeza, eu diria. É um cético radical.

Caso você não saiba ou não lembre-se, o ceticismo é um sistema filosófico fundado pelo filósofo grego Pirro (318 a.C.-272 a.C.), que afirma que o homem não tem capacidade de atingir a certeza absoluta sobre uma verdade ou conhecimento específico. No extremo oposto ao ceticismo como corrente filosófica encontra-se o dogmatismo, cheio de certezas.

O que não deixa de ser curioso, uma vez que ao afirmar peremptoriamente que não temos certeza de nada, acaba por criar o dogma da incerteza absoluta. Uma contradição inevitável.

Para entender melhor as teses de Cioran fui atrás de algo a respeito dele. Encontrei um livro que se propõe a ser uma introdução ao seu pensamento (cujo autor e título me dou ao direito de não reproduzir) e cheguei a algumas conclusões.

A primeira, sobre o livro em si, é que é muito mal escrito e pessimamente revisado, a ponto de que uma palavra recorrente no pensamento do filósofo, que é uma proparoxítona, aparecer 9 em cada 10 vezes sem acentuação. De qualquer forma, um leitor compulsivo como eu, é capaz de suplantar essa barreira.

A segunda é a pobreza de teses e de argumentos que sustentem essas teses. Pode até ser que essa pobreza seja reflexo do autor que comenta o filósofo, mas o conteúdo me lembrou um parafuso espanado, que gira, gira, gira e não sai do mesmo lugar. Aparentemente, pelo que vi em outras fontes, o problema é do próprio Cioran.

O nos que leva à terceira questão: supostamente tendo sido influenciado por Schopenhauer e Nietzsche, Cioran é dado a apresentar suas ideias em formato de aforismos. Segundo os bons dicionários do ramo um aforismo é um texto ou frase curta e sucinta, típica de estilos fragmentários, o que não acontece com o romeno. Seus aforismos não são curtos, nem fragmentários (aliás têm a consistência do samba de uma nota só).

Concluindo essas teses, o livro, no seu final, mostra a defesa insistente de Cioran da prática do suicídio, o que sempre me gerou uma dúvida existencial: como um pensador defende de forma tão convicta o suicídio sem nunca tê-lo praticado?

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