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Mostrando postagens com o rótulo contos

Insana convidada* - A montanha negra

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  Estamos indo para a nossa nova casa. Minha mãe esteve procurando, por muito tempo, uma casa qualquer em Santinas, cidade da vovó. Mas nunca encontrava uma casa decente. Um dia qualquer do mês passado, ela recebeu um e-mail da imobiliária. Nele dizia: “Olá Srta. Marcia. Sei que está procurando uma casa em Santinas. Infelizmente todas as casas estão ocupadas. Porem temos uma proposta. Foi desocupada na semana passada a casa dos Jacobs. A filha deles desapareceu há aproximadamente um ano. Então voltaram à cidade natal. Essa casa que lhe oferecemos fica na Montanha Negra. Um lugarzinho meio frio, com neblina, mas apenas 12km de distância de Santinas. A estrada é asfaltada e muito acessível. Segue uma foto da casa... Atenciosamente                    - Fabiana. “ A casa tinha uma aparência estranha. Moderna e antiga ao mesmo t...

Uma história de Natal

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...não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria... Lucas 2:10 Tudo na vida de Lúdico era uma festa, fosse o simples sorriso de alguém no meio da rua, fosse a comemoração mais estapafúrdia que pudesse participar. Não perdia um evento, encontro de ex-colegas, almoços de família e, até, o baile da 3a idade do parque, ainda que ele ainda estivesse longe de alcançá-la. Para ele o Natal era o ápice de um ano festivo e a linha divisória que marcava o início de mais um ano de comemorações. Amava todos os símbolos e hábitos natalinos. Ia ver a iluminação da Paulista, do Ibirapuera e da Rua Normandia. Comprava presentes para todos que imaginava que encontraria na ceia. Não poucas vezes entrou na fila e sentou no colo do papai noel de algum shopping, para deleite e risadas das crianças. Comia, bebia e cantava Jingle Bells em várias línguas até o sol raiar. No extremo oposto de toda essa alegria estava Lídimo. Um sujeito sério e carrancudo que achava intolerável todos os desvios d...

La nave non va

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As brumas envolviam o cais. As montanhas eram apenas vultos sombrios cobertas pela neblina. O barco estava pronto. Sófocles conversava com o capitão Paracelso, perguntando se seria conveniente sairem com aquele tempo. Apesar do hermetismo trimegístico do céu, o capitão garantiu que a segurança não estava comprometida. O conforto sim. Sófocles trocou meia dúzia de frases com Electra e decidiram zarpar em direção a Ítaca. Nem piratas, nem borrascas, nem dragões vão me impedir ...cantarolava Paracelso, enquanto os dois se acomodavam na proa. A navegação foi tranquila. Sófocles e Electra admiravam a vegetação das ilhas por onde passavam e, eventualmente avistavam basiliscos sobrevoando as praias. Chegaram a Ítaca para o banquete dos lictores. Degustaram mandrágoras, salsichas de javali de Erimanto regados a néctar e, claro, doses de ambrosia. Na hora de voltar a chuva começou. Nada ameaçadora. Cobriram-se com suas capas e embarcaram. Cansada, Electra, recostou no colo de Sófocles e adormec...

Conto sem fada

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Era uma vez um formoso príncipe, de longos cabelos morenos cacheados e olhos verdes que morava num reino muito muito muito distante. Um dia, sem querer, deixou cair no lago do palácio a sua peteca de badminton. Pensou que as trutas do lago deglutiriam a sua peteca e começou a chorar. " - Príncipe, não chore, vou pegar a peteca para você." - disse uma rã. " - Você faria isso para mim? perguntou o príncipe sem se dar conta que estava conversando com um anfíbio anuro. " - Claro, mas só farei isso em troca de um beijo." O príncipe que estava ansioso para retomar o seu jogo concordou. Então a rã pegou a peteca e ficou esperando o beijo, mas o príncipe pegou a sua peteca e voltou para a quadra para terminar o último set. A rã, furiosa, começou a gritar que queria o seu beijo. Cada vez que gritava o príncipe errava a sua jogada e já estava quase perdendo o jogo quando seu pai, o rei, o interrompeu. " - Do que está falando esse ...

O crime do travesseiro

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Francisco achou estranho que tivesse esquecido de trancar a porta de casa. Percebeu, logo ao entrar, que algo tinha acontecido. Acendeu a luz e começou a examinar a sala. Tudo estava no lugar. Muito no lugar demais. Entrou na cozinha, mais uma surpresa. Pia limpa, chão brilhando. Até as marcas de gordura do fogão tinham desaparecido. Correu para o quarto. Um choque. A cama não só estava arrumada como tinham trocado os lençóis. Sua camisa vermelha, que ele sabia ter colocado no cesto de roupa suja, estava lavada, passada e pendurada no cabide. Não acreditava que Lucíola pudesse ter feito aquilo. Era um doce de namorada mas faxina não combinava com ela. Mesmo assim ligou para confirmar. Além de garantir que não tinha feito aquilo, Lucíola ainda teve uma crise de ciúmes. Queria a todo custo saber quem é que tinha a chave do apartamento além dela. Francisco ligou para o zelador, a única outra pessoa que tinha a chave. Ele afirmou que não dera a chave para ninguém, além do que, a sua cópia ...

Conto de fadas perfeito

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Era uma vez um cortesão que se apaixonou pela sua rainha. Não se sabe ao certo o por que, mas ela olhou para ele e encontrou aquilo que procurava. Se amaram loucamente. Foram felizes por uma vida e mais infinitas eternidades. Era uma vez uma vez uma princesa que beijou um sapo que desastradamente se afogava na sua xícara de café. Sob céus eclesiásticos eles descobriram vida um no outro e se tornaram um para sempre. Era uma vez um ogro que vivia solitário numa floresta tenebrosa. Um dia, raios luz cerúleos o encadilaram e ele conheceu o significado da felicidade. Nunca mais deixou de seguir aquela luz. Era uma vez um homem cheio de defeitos e vazio de esperanças. Um dia ele encontrou a mulher perfeita, que mudou a sua vida e o tornou um ser amoroso, feliz e apaixonado. Era uma vez um contador de histórias que tentava escrever o conto de fadas perfeito. Anotava histórias sem parar, uma mais linda que a outra. Se apaixonava cada vez que começava tudo de novo. Nunca conseguiu acabar nenhum...

A chave do castelo

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O primeiro cavaleiro chegou ao portão do castelo ao amanhecer. Dentro dele a princesa aguardava por aquele que fosse resgatá-la. Não havia dragões nem bruxas a serem vencidos. A princesa não tinha sido envenenada, nem estava numa torre guardada por abutres. Tudo que o cavaleiro precisava fazer era abrir o portão. Ao lado do portão um guardião segurava um molho de chaves, ao todo não passavam de uma dúzia delas. O primeiro cavaleiro, um herói lendário e cheio de si, olhou a princesa que o observava de uma janela vestida num longo vestido negro. Enfiou a mão na algibeira de onde tirou uma imensa chave, desprezando completamente as chaves do guardião. Como seria de se esperar a chave sequer entrou na fenda da fechadura. O cavaleiro, inconformado com seu fracasso, tentou derrubar o portão dando golpes com sua imensa chave. E foi embora. Da janela a princesa balançou a cabeça. No meio da tarde chegou o segundo cavaleiro. Seu cavalo e seus trajes não eram tão luxuosos quanto os do primeiro m...

O sinesíforo e a princesa

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Sérgio olhou para a fachada do prédio e se sentiu intimidado. Parecia luxuoso demais para ele. Constrangido falou com o porteiro e em minutos estava na porta de serviço do apartamento 31. Uma empregada lhe recebeu e pediu que ele se sentasse ali mesmo na cozinha que, em breve, a patroa viria conversar com ele. Não estava acostumado a negociar com mulheres, geralmente eram os maridos que se encarregavam disso. Não demorou muito e ouviu vozes. A empregada conversava com alguém. Antes que entendesse o que estava acontecendo a porta abriu e Carolina entrou. Se já estava constrangido com o luxo do lugar, ficou ainda mais com a figura dela. Não fazia o gênero árvore de natal da patroa anterior, pelo contrário era uma mulher linda e elegante sem recorrer a artíficios pirotécnicos. Ela olhou para ele, mediu-o de cima abaixo enquanto o cumprimentava. Fez as perguntas de praxe sobre experiência, empregos anteriores, motivo que o fizera sair do último emprego. Também fez algumas perguntas pessoas...

A volta de Humhummer

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A notícia se alastrou rapidamente no vilarejo. Humhummer estava de volta à região. As mães saíram pelas ruas em busca dos filhos e, com eles, se trancavam nas casas. Os homens voltaram do campo e se reuniram na casa do burgomestre. Na sua última passagem pela vila, o terrível ogro tinha provocado grandes estragos. Atacava as pessoas, os rebanhos, aterrorizava a todos. Poucos tentaram enfrentá-lo. Os que voltaram tinham feridas na jugular. Sobreviveram, mas nunca perderam as cicatrizes. Dessa vez não havia mais nenhum valente disposto a confrontar o monstro. Pensaram em já separar parte do rebanho e deixar no caminho, de forma que ele se afastasse saciado. O problema é que nenhum criador estava disposto a ceder parte dos seus animais. Cada um só pensava no seu próprio umbigo. O debate na casa do burgomestre só silenciava cada vez que o urro de Humhummer ecoava na floresta perto da vila. Já passava da meia noite e os urros pareciam cada vez mais próximos quando alguém bateu na porta. A m...

Uma odisséia em zD1

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Ano terrestre 3045, 5 de março Rosalina estava pronta para partir. E não era uma partida qualquer, ela seria a primeira astronauta a tentar atingir A1689-zD1, a mais distante galáxia conhecida da humanidade, depois dela nada mais se sabia. Estava preparada para uma longa viagem. No tempo terrestre a ida e volta durariam mais de 50 bilhões de anos, mas não era isso que a preocupava, já que no 4º milênio os seres humanos tinham se tornado quase imortais e viviam bem mais do que isso. Ouviu o fim da contagem regressiva e partiu. Ano terrestre 3045, 13 de março Ellypticus One, o foguete de Rosalina acabara de ultrapassar a lua. Ela olhou pela janela e lembrou das músicas e dos poemas que conhecia sobre o satélite. Ao longe reparou nas cidades que tinham sido construídas no mar da tranquilidade, tanta luz que, olhada da Terra, a lua se tornara cheia permanentemente. Aumentou o som da cabine, mais uma música de Walton começara. Ano terrestre 3045, 27 de julho Prestes a sair da Via Láctea rec...

A mulher do capitão

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Todos os dias no fim do dia, Rachel ia até o porto para se despedir de seu namorado, o capitão da balsa que liga a ilha ao continente. Todos os dias pela manhã, ela voltava para receber o seu namorado, o capitão da balsa que chegava. Uma rotina que durou anos a fio. O que o capitão da balsa não sabia era que ele não era o único na vida de Rachel, havia um outro, que era o capitão da balsa. Na verdade, duas balsas faziam a ligação entre aquele fim de mundo e a cidadezinha do litoral, alternadamente. Quando uma delas estava indo para a ilha, a outra voltava para continente. Menos aos finais de semana. A balsa que chegava na sexta feira só voltava no domingo à noite. A outra chegava só na 2a feira de manhã. Como que Rachel conseguiu seduzir Antonio e Henrique ninguém nunca soube. Mas todos na ilha sabiam o que acontecia. Como os dois só se encontravam no meio da travessia, mas nunca pessoalmente, não sabiam que eram amantes da mesma mulher. Mesmo os moradores do continente, que chegavam ...

Nunc et semper

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... o rei a escolhera como parceira intelectual e amante. Amor que começa como adoração é o que fica. (Luís Fernando Veríssimo in Um rei secreto) No dia que Elisabete chegou à ilha ela logo reparou que as nuvens encobriam o topo do morro. Achou estranho. A topografia não era tão íngreme para que isso acontecesse. Mesmo assim não era possível ver o pico. Instalou-se na casa. O barqueiro ajudou a descarregar as caixas com mantimentos. Ela pagou o homem e combinou dele vir buscá-la um mês depois. Finalmente estava isolada do mundo. Depois de algum tempo sentada na grama, resolveu explorar aquela que seria a sua moradia pelos próximos 30 dias. Encontrou tudo no lugar, como tinham contado para ela. Inclusive as orientações sobre o funcionamento do gerador, que ela não pretendia usar, e do rádio, caso acontecesse alguma emergência. Apesar de afastada do mundo, a casa tinha algumas conveniências modernas. O fogão era à gás (que também alimentava o aquecedor de água), a cozinha era bem equipa...

A teia

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Edgar já estava embrenhado há semanas nas cavernas da mata Atlântica. Dedicava-se a pesquisar os diversos tipos de aranhas existentes no Jacupiranga. Na verdade, depois de recolher exemplares de várias espécies, fotografar e catalogar outras, já pensava em encerrar seu tempo selvagem e voltar para a universidade para começar a escrever seu trabalho sobre seus estudos. Juntou suas mochilas com todo o seu material e começou a caminhada de volta. Uma chuva mais forte o obrigou a parar um bom tempo e, quando notou já estava anoitecendo. Teria de passar mais uma noite na mata. Não muito longe de onde estava avistou a boca de uma caverna. Não parecia ser das maiores, mas o suficiente para abrigá-lo naquela noite. Entrou, procurou vestígios de algum animal para se certificar de que não estava invadindo o espaço de alguém. Parecia tudo tranquilo. Descarregou a mochila onde estava seu saco de dormir, se instalou no lugar, comeu apenas algumas bolachas para não ter de abrir o saco de provisões ...