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Mostrando postagens de maio, 2022

Baudrillard, Platão e Aristóteles

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Ainda que não haja uma relação direta, é impossível não sentir uma certa aproximação entre os simulacros de Baudrillard e a mimesis de Platão (e a contraposição de Aristóteles sobre o mesmo tema). Baudrillard fala em estágios da simulação, partindo da reflexão do real, para a perversão do real, daí para a ausência da realidade básica e finalmente a completa disjunção entre o que se mostra e qualquer realidade possível. Platão, do seu lado fala da realidade una e perfeita (primeiro nível), das cópias imperfeitas feitas pelo homem (segundo nível) e da reprodução artística como a mimese do que já era imperfeito (terceiro nível). Em A República, ele usa a expressão de três graus de separação entre a verdade e a simulação. Já Aristóteles, na sua Poética, era um defensor da mimética artística que, segundo ele, tinha quatro funções: a primeira antropológica, uma vez que mimetizar é inato à natureza humana, a segunda paidêutica (educacional), pois é pela mimesis que o homem adquire seus

O pecado da escuta

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Dizem os relatos bíblicos que, no princípio, Deus criou Adão e Eva e os instalou no paraíso, local onde poderiam usufruir de todas as coisas, exceto comer do fruto de duas árvores: a do conhecimento e a da vida. Como bons ouvintes, o casal escutou a recomendação e a obedeceu durante um tempo que as escrituras não definem a duração. Naquelas tardes fagueiras, à   sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais! Como eram belos os dias. Eles escutaram e viram que isso era bom. Até o dia que apareceu um certo diabo disfarçado de serpente e começou a sussurrar no ouvido de Eva que o fruto das árvores deveria ser muito melhor que qualquer outra jabuticaba que eles comessem, além disso, se ela provasse tal maravilha, ela se tornaria igual a Deus. Eva escutou atentamente esse discurso e não só experimentou do fruto proibido como também foi contar a novidade para Adão, que também escutou e também atacou a especiaria. Cabum!! Apareceu o todo-poderoso e perguntou o que eles tinham aprontado (

A ditadura das séries

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  Na minha adolescência e início de juventude a novela das 10 da rede Globo era considerada cult (em oposição às dos demais horários que eram consideradas bregas), especialmente porque eram aqueles que “transgrediam” nos temas políticos e de comportamento sexual, bastante reprimidos nos anos 70 e começo dos anos 80. A maior parte delas foi escrita por Dias Gomes, mas também incluía outros nomes importantes como Jorge Andrade. Eu não assistia nenhuma delas. Por dois motivos básicos, o primeiro é que sempre abominei novelas, o segundo é que estudando de manhã, com aulas começando às 7h30 não dava para ficar acordado até tarde ou acabaria dormindo na sala de aula. O que me fazia um peixe fora d´água em muitas conversas. Mais de quarenta anos se passaram e eu continuo nadando no seco por não acompanhar as novelas contemporâneas que ganharam o epíteto de séries (mas continuam sendo, formalmente, folhetins ao melhor estilo do século XIX). Inclusive as próprias novelas da Globo, depois pa