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Mostrando postagens com o rótulo insanidade

Os bestsellers mais não lidos do mundo

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Não poucos livros da história foram tecnicamente definidos como bestsellers, até porque a quantidade necessária para receber esse nome é bastante baixa, cerca de 10 mil exemplares (em mercados editoriais mais pobres como o nosso, 5 mil já é um bestseller).   No entanto, ninguém nunca criou a categoria de worst-read, aliás o termo (os piores, ou menos lidos) nem existe, acabei de inventá-lo. São aqueles livros que vendem muito, são exaustivamente comentados, mas quando você vai ver não passam de decoração da estante.   A melhor maneira de detectar um worst-read é quando percebemos que as pessoas fazem citações inexatas, baseadas no que ouviram falar. Ou quando se referem a ele como um grande livro de “XYZ”, quando na verdade é um livro sobre “PQR”.   A lista abaixo comenta alguns que me chamam a atenção, não é uma lista completa, certamente você vai lembrar de muitos outros que merecem esse título. Vamos a eles: 1.     O nome da rosa : lembro que umas das co...

Baudrillard, Platão e Aristóteles

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Ainda que não haja uma relação direta, é impossível não sentir uma certa aproximação entre os simulacros de Baudrillard e a mimesis de Platão (e a contraposição de Aristóteles sobre o mesmo tema). Baudrillard fala em estágios da simulação, partindo da reflexão do real, para a perversão do real, daí para a ausência da realidade básica e finalmente a completa disjunção entre o que se mostra e qualquer realidade possível. Platão, do seu lado fala da realidade una e perfeita (primeiro nível), das cópias imperfeitas feitas pelo homem (segundo nível) e da reprodução artística como a mimese do que já era imperfeito (terceiro nível). Em A República, ele usa a expressão de três graus de separação entre a verdade e a simulação. Já Aristóteles, na sua Poética, era um defensor da mimética artística que, segundo ele, tinha quatro funções: a primeira antropológica, uma vez que mimetizar é inato à natureza humana, a segunda paidêutica (educacional), pois é pela mimesis que o homem adquire seus ...

Rizoma, micélio e outros fungos quaisquer

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  Em 2005, o micologista americano Paul Stamets publicou seu livro Mycellium Running , um manual para o resgate micológico do planeta. Foi exatamente isso que você leu: cultivar mais cogumelos pode ser a melhor coisa que podemos fazer para salvar o meio ambiente. 25 anos antes, Gilles Deleuze e Feliz Guattari haviam publicado Mil Platôs , quase um tratado clássico de filosofia, que começa pela abordagem do que vem a ser um rizoma, propondo quase um jogo infinito [1] , sem começo, meio ou fim. Há cerca de dois meses, recebi pelo grupo de complexidade que participo, um artigo bastante extenso de Brandon Quitten chamado “Bitcoin is the mycellium of money” onde ele se baseia no livro de Stamets para traçar uma longa e detalhada analogia entre o micélio [2] e o mundo Bitcoin, e aqui cabe uma ressalva importante: Quitten faz esse paralelo exclusivamente em relação ao Bitcoin e não ao universo de criptomoedas, ainda que no decorrer do texto mostre como a existência de outras criptom...

Um estranho pretérito

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  Para mim, um dos mistérios mais inescrutáveis da nossa língua sempre foi a existência de um tempo verbal que atende pela alcunha de futuro do passado (ou do pretérito, que é exatamente a mesma coisa). Conheço muitas pessoas que sofrem de acrasismo*, outras de hipercrasismo*. Outros que vão de encontro a, quando deveriam ir ao encontro de, e vice-versa. Alguns acham que nunca veem o que esperam quando eles vêm assistir ao espetáculo da última flor do Lácio. Também, quem mandou que ela fosse burra e bonita? Eu sobrevivo bem até diante das mesóclises e não sofro com os verbos defectivos. Agora, futuro do passado? O que exatamente isso poderia significar? Mas, como diriam as organizações Tabajara, os meus problemas estão resolvidos, depois de ler alguns textos que circulam nas redes sociais, especialmente aquelas dedicadas ao público corporativo. Em um texto publicado nessa semana (portanto, ao apagar das luzes de 2021), o autor informava que até 2020 (sic) o Brasil deveria s...

A cigarra hodierna

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Tendo a cigarra em folguedos Veraneado o feriado final, Achou-se em doença extrema Sentindo-se muito mal. Não lhe restava fagulha De oxigênio, a tagarela Quis valer-se da formiga Que morava perto dela. Rogou-lhe que lhe ajudasse, Pois tinha saúde e brio, Algum ar com que manter-se Té voltar-se o são feitio. "Amiga – diz a cigarra – Prometo à fé d'animal. Cuidar-me até agosto Com u´a máscara cabal." A formiga nem uma fresta, Abre, nem se junta. "Durante a peste em que lidavas?" À pedinte ela pergunta. Responde a outra: "Eu passeava Noite e dia, a toda hora." – Oh! bravo, torna a formiga; Passeavas? Pois então, e agora? A partir da tradução de Bocage para Jean de La Fontaine (1621-1695), poeta e fabulista francês. Descrição da imagem: gravura mostrando a cigarra conversando com a formiga, de Grandville para a edição de 1847 de La Fontaine

Soneto do lugar comum

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  Eu caminhava em busca de um propósito Que tornasse   a minha vida disruptiva A coach me atendeu toda festiva A polímata pedia de um depósito   O valor era um imenso despropósito Mas ela retrucou bem assertiva Clamou de forma doce e emotiva Usando a resiliência de um compósito   Construiu-se a nova narrativa Pertencimento e ressignificação Empreendendo meus últimos tostões   Hoje clamo pelas redes, compaixão, Empatia me sugerem aos borbotões E uma vida mais contemplativa

A média é uma média é uma média

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Existem médias e médias. Aritméticas, geométricas, proporcional, quadrática. Há os que calculam médias, outros que só fazem média com as médias que não souberam sopesar, mas gostam de taramelar. As médias nunca são conservadoras ou progressistas, sempre se mantém como um valor de tendência central. Quem calcula a média entre π, φ e e chega a uma média completamente irracional. Outros, no entanto, preferem médias que sejam ponderadas. Isso não significa que toda média ponderada consegue ser harmônica, afinal não é qualquer um que consegue inverter seus valores sem lutar por eles. Mediante não é um calculador de médias, mas alguém que só calcula médias de forma condicional, a troco de alguma coisa. Da mesma forma, o mediador, é apenas alguém que se interpõe entre uma média e outra (ou entre um estatístico e outro) quando estão em conflito. Caso se interponha em posição vertical, é uma mediatriz e se, ao invés de se interpor, o mediador se coloca à margem do assunto, deixa se ser um med...

Atos de Deus

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Quando uma seguradora coloca nas ressalvas do seu contrato que a apólice não está coberta por “atos de Deus” 1.     Essa regra vale para quem acredita em qualquer deus ou só para algum específico? 2.     Os ateus estão liberados da cláusula? 3.     Os agnósticos podem questionar judicialmente a impossibilidade de provar a existência ou não existência de Deus? 4.     Os fatalistas que, em qualquer situação, dizem que foi a vontade de Deus, recebem o valor do seguro em caso de sinistro? 5.     Os politeístas ficam descobertos? 6.     Os que endeusam a si mesmos podem declarar que foi contra a vontade deles? 7.     Os que endeusam outras pessoas, precisam mencionar isso na contratação?

Todo mundo se acha expert em estatística

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Paramécio sofria de cibercondria, uma doença cada vez mais comum nos meios digitais. Ele era uma pessoa média, nem sempre muito ponderada, mas habitualmente bastante móvel. Sua principal margem de erro era ter alguns desvios padrões de personalidade que se manifestavam com muita frequência e que eram derivados integralmente de sua autoestima superdimensionada e do fato de nunca ter passado nas provas de matemática sem colar. Todas as manhãs acordava com dores nos quartis, o que sugeria um quadro sinóptico de inflamação da mediana. Apesar desse mal estar fora de moda, isso provocava grande dispersão de sinapses e crises de variância que eclodiam em opiononite aguda em redes sociais. Palpitava, aleatoriamente, sobre qualquer número que lia, de forma determinante. Nenhum senso crítico. Nenhuma correlação. Um hiperbólico sem efeitos de tratamento. Ignorava os intervalos contextuais, desprezava as relevâncias e, à guisa de impropério, atribuía a seus desafetos a alcunha ...

A vã filosofia

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No meio da diafonia tinha uma eidos Tinha uma eidos no meio da diafonia Tinha uma eidos No meio da diafonia tinha uma eidos Nunca me esquecerei dessa aporia Na minha vida de doxas isostheneias em epokhe Nunca me esquecerei que no meio da diafonia Tinha uma eidos Tinha uma eidos no meio da diafonia No meio da diafonia tinha uma eidos.

Revogam-se as disposições em contrário

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Chavões, lugares comuns, ditos populares, sabedoria de para-choque de caminhão, clichês, frases estereotipadas e até fórmulas de sucesso do universo da auto ajuda estão ruindo em um mundo pandemoníaco. Ao mesmo tempo, descobrimos que tínhamos ouvido profetas sem perceber: “nada do que foi, será, do jeito que já foi um dia”; “nada será como antes, amanhã”; “das verdades que eu sabia, só sobraram restos”. Como brincava um autor desconhecido (falsamente atribuído a uma infinidade de pessoas de Adão a Luis Fernando Veríssimo e, claro, os indefectíveis frasistas fake da internet, Clarice Lispector e Arnaldo Jabor), no dia em que eu tinha descoberto todas as respostas da vida, mudaram todas as perguntas. Por essas e outras fica editada a seguinte lei. Art. 1 Com efeito imediato, fica expressamente proibido o uso das seguintes frases e termos, bem como suas respectivas variações: a)     Pior do que está não fica b)     Chegamos ao fundo...

Admistão defectiva

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Para o Jayme Serva que deu o mote  Caso eu te aborra ao escucir-me pelos seus corpúsculos borralhos , não deixe que o meu fretenir dele os seus pensamentos, são apenas o meu jeito de aprazá-lo. Caso tenha haurido sua eupatia, ao menos fornirei silogismos que buam suas afecções já comburidas. Se eu soesse embaí-lo, aduciria, ou mesmo condiria, as suas érebas conjecturas. Não garras tu, nem anada vagidos com o intento de susquir-se enquanto te aso. Eu demulcirei sua obduração e o seu jungido ao ponto de aducí-la. Lenirei sua crimeza acupremindo sua febra. Cada ansa de exir languirá seu âmago e adurirá seus tegumentos, pertransirá seu revelidos e exinanirá seus fados. Não me preclua, nada me monirá. Aqueles que estreseriam uma sazão sem nada adir, fremerão estanguidos até seu relinquir cabal. Se seu anelo for estresir minha nução, terá de moquir o que o jurupari amarfanhou. Sei que transirá minha disquisição como quem gorne eructações branquidas. Não irei gualdir meus ensejos ne...

Algoritmos osmados e assunados

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Depois de muitas voltinhas no grande Hadron, que parou de se debater para seu descanso habitual de festas natalinas e neoanualinas, meus amigos cérnicos confirmaram a validade e precisão do algoritmo que desenvolvi nas últimas décadas e, cuja eficiência, já havia dado sinais inequívocos de pertinência nas redes sociais. Não sem, como sói acontecer, alguns ressaibos dos oponentes vorazes de minhas elucubrações. Outrossim, e sem outros nãos, nem mesmo nosso petiz alcaide dignar-se-ia a entrar nesse tipo de disputa. Mas deixemos de patacoadas e vamos aos números finais. O principal resultado é que, caso 58,7% da população tivesse como práxis, 18,34% do que fala ou escreve, o mundo seria 4,16p melhor do que é hoje. No caso das redes sociais os valores chegam a ser mais assustadores, conseguiríamos uma evolução nos padrões mundiais de ética e reduções de carraspanas, além dos suso mencionados, de 67,34p para cada: 2% de frases de autoajuda que realmente ajudassem em algo 5% de redução ...

Un aire de sofisticación

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Yo no soy un musicólogo. Tampoco soy venezolano. Jamás sabría decir si un joropo es un joropo o simplemente tiene un aire de joropo.* Lo que sé es que estuve recientemente en Buenos Aires y finalmente conseguí ver una presentación de La Chicana, grupo argentino que acompaño desde 2012, cuando los descubrí en un documental sobre el tango contemporáneo llamado Un giro extraño . Debido al documental yo creía, al principio, que ellos formaban un grupo de tango de vanguardia. Con el tiempo me di cuenta que realmente son de vanguardia, pero limitarlos al tango no corresponde a la verdad. Su primer disco es Ayer hoy era mañana (1997), un título que por sí mismo ya prepara al oyente para algo que lanza la noción de tiempo directamente al caos. Por razones obvias, mi iniciación ocurrió con el segundo álbum, también llamado Un giro extraño (2000). Luego que escuché la introducción de la primera pista, me di cuenta de que algo realmente sorprendente iba a suceder. Un violín ...

Um ar de sofisticação

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Eu não sou musicólogo. Nem venezuelano. Jamais saberia dizer se um joropo é um joropo ou apenas tem um ar de joropo . [1] O que eu sei é que recentemente estive em Buenos Aires e, finalmente, consegui assistir uma apresentação do La Chicana , grupo argentino que venho acompanhando desde 2012 quando os descobri em um documentário sobre o tango contemporâneo chamado Un giro extraño . Em função do documentário acreditei, num primeiro momento, que se tratava de um conjunto de tango vanguardista. Com o tempo descobri que eles realmente são vanguardistas, mas limitá-los ao tango é uma inverdade. O primeiro disco deles é Ayer hoy era mañana (1997), título que por si só já prepara o ouvinte para algo que lança a noção de tempo diretamente ao caos. Por motivos óbvios, a minha iniciação se deu com o segundo disco, também chamado Un giro extraño (2000) e, ao ouvir a introdução da primeira faixa, percebi que algo muito surpreendente estava para acontecer. Um violino que soava...

Maipu 994, 2º piso, ascensor

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Não há porteiro, mas há vizinhos e o coquetel que nos recebeu era em família e não a “media luz”. Não saberia precisar quando foi a primeira vez que me encontrei com Borges. Talvez com Ficções que fazia parte da coleção “Grandes obras da literatura universal” que eu devorei na minha adolescência e juventude. Na mesma época, a Folha de São Paulo publicou um poema inédito dele, “O deserto” , que me marcou de tal forma que, até hoje, eu tenho o recorte do jornal. Com o tempo fui descobrindo o mundo através dos olhos já cegos de Borges.   O Aleph, O informe de Brodie, a História universal da infâmia, o Livro de areia, o Jardim dos caminhos que se bifurcam. Depois todo o resto da poesia, a começar pelo Fervor de Buenos Aires. Os textos críticos, os seres imaginários, as palestras. A cada ida a Buenos Aires procurava algo novo, até o dia em que encontrei a obra completa publicada pela Emecé. Sua eterna editora. Depois mais alguns livros póstumos que não saíram, origi...

Um deca desafio

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Para Letícia e seus desafios de métricas   Amigos, carrapatos e formigas Correndo pelos campos de Lisboa Cantaram o aniversário das cantigas E a prosa antiquada de Pessoa O estrondo sepulcral desta garoa Em meio a tantas hostes inimigas Levanta a vela e zarpa da lagoa Singrando os mares lúdicas lombrigas Quem és que assim me entrega o desafio A luta ingrata, um metro tão ecoico, Um ritmo tão lúgubre e sombrio Compor este universo paranoico? Camões a sua mão eu parodio Soneto em decassílabo heroico

Poemeto sintagmático

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Ana lê sem tática Orações descoordenadas Que seu avô, cativo, Apostava restritivas Detido pelo agente da passiva Por contravenções sindéticas Adverbiou-se subordinado Ante seu adversativo sujeito Sou objeto sem predicados E denoto complementos Ad-hoc e ad-nominais Sem caráter explicativo.