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Mostrando postagens com o rótulo latim

Corpus quasi vas est

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Jorge mentia com quantos dentes tinha, o que não era pouco considerando que ainda possuía inclusive os do siso. Arrotava falácias sempre batendo no peito do pé, como se tivesse as costas largas. Seu calcanhar de Aquiles, no entanto, residia no estômago que habitualmente roncava de sono. O que não o impedia de ter o maior umbigo do mundo. Mariana, quando presenciava essas cenas, ficava cheia de dedos, aonde perdiam-se anéis incontáveis como as estrelas do céu da boca. Já conhecia a garganta do namorado e não metia o nariz quando não era chamada. Enquanto Jorge metia os pés pelas mãos, Marina tratava de abanar as últimas sem coçar os primeiros. Um dia sentiu um soco no fígado ao reparar que ele dera mais uma demonstração de ter os olhos maiores que a barriga. Por mais que soubesse na ponta da língua ela não tinha mais estômago para aquilo. Deu-lhe com os dois pés nas nádegas traseiras* no meio do discurso cotovelar de Jorge. E nunca mais lhe deu as caras. *Esse blog é ...

Inimigos íntimos

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Nemésio atendeu o telefone às 3 horas da manhã. Era seu amigo Timeo pedindo que ele fosse imediatamente até a sua casa. Nem perguntou o que acontecera, já fazia idéia. Vestiu-se e foi até a casa da rua Grécia. Encontrou Timeo esperando na porta com um talho na testa de onde escorria muito sangue. Nemésio quis levá-lo para o pronto socorro, mas Timeo se recusou. Precisava se reconciliar com Dona. Timeo Danaos estava casado há 9 anos com Dona Ferentes e, durante todos esses anos tiveram cenas de guerra e de paixão. O motivo mais comum para as guerras eram os ciúmes mútuos de antigos namorados. Dona não podia sequer ouvir o nome de Eneida. Timeo odiava um certo Virgílio que nem sabia direito quem era. Não fora diferente naquela noite. O vôo de Timeo fora cancelado e ele voltou de ônibus do Rio, chegando de madrugada. Por mais que tivesse ligado para Dona, ela não acreditou na história, e o recebeu a golpes de canivete. Cabia sempre a Nemésio, o melhor amigo dos dois, apa...

Dentes atque pedes asinini exordia amoris

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Conta-se que a rainha Coleóptera III, esposa do faraó Tutancamon - o belo, certo dia levou um tombo nas escadarias de Mênfis e, na queda, perdeu seis dentes da frente. O soberano preocupado com a aparência de sua consorte e com medo de ser denominado o faraó da banguela chamou todos os médicos do alto Nilo para resolver a questão. Um dos médicos que participava costumeiramente de congressos internacionais comentou a respeito de uma descoberta do oriente chamada dentadura Yagyu, era uma invenção feita em madeira tsuguê, árvore nativa do Japão. Empolgado, o monarca mandou que uma missão fosse até aquele país remoto e só voltasse com um exemplar que coubesse na boca da rainha. Os missionários jamais voltaram e, quando se deu conta disso Tutancamon mandou que os médicos fizessem uma dentadura de junco, uma vez que não encontraram nenhum árvore de tsuguê em todo o reino. Não só, não encontraram, como não faziam a menor idéia do que seria uma árvore desse tipo. A dentadura de junco não resis...

Lepidopterae

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Papilionoidea sempre diz Hamearis me faz feliz Pieridae é sedução Pieris rapae o coração Delias seu perfume Lycaenidae seu lume Glaucopsyche seu ardor Lycaeides do meu amor Talicada sensação Riodinidae delicada Abisara o mar profundo Danaus é o meu mundo Nymphalidae brilho só Pararge nem te dó Hesperioidea paixão Carcharodus a canção Hedyloidea de verdade Rhofalocera na eternidade

De cubitus

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Logo que ela chegou ao café ele reparou nas suas mangas curtas e sentiu um arrepio lhe percorrer a espinha de cima abaixo. Ela o conhecia bem para saber que era uma provocação. Justo ele, um homem do barroco dividido entre duas mentalidades, duas formas diferentes de ver o mundo. Ela o cumprimentou com um beijo no rosto e, como se fosse sem querer, esbarrou no seu braço com a ponta do cotovelo. Só serviu para acirrar o conflito dentro dele, o gosto pelas coisas terrenas, as satisfações mundanas e carnais e, ao mesmo tempo seus valores espirituais e seu subjetivismo. Ela sentou na sua frente, levantou acintosamente o braço para chamar a garçonete, ele a olhou de forma lasciva. Ela percebeu. Ato contínuo apoiou os dois cotovelos na mesa e apoiou o queixo nas mãos. Ele ficou ruborizado. Ela era um verdadeiro anjo de duas faces. Sorriso de mulher, choro de menina. Mais que duas faces, dois cotovelos despudoradamente nus à sua frente. Horas depois, ele tentava explicar ao delegado porque co...

Exumando o latim

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O Latim, dizem alguns, é uma língua morta. Até mesmo a igreja abandonou o seu uso desde que João XXIII errou uma declinação e concluiu que seria melhor rezar a missa em italiano mesmo. Apesar disso continua sendo usada com bastante frequência por biólogos, juristas e insanos que, afinal de contas, não deixam de ser uns caras de morte. Infelizmente, o que adrede ocorre nas citações da língua de Anastasius Bibliothecarius é que as traduções são muito mal feitas, como diriam os usuários originais do vernáculo: in rectus. Tomemos como exemplo básico a célebre frase de Desidério Erasmo: "Homines non nascuntur, sed finguntur". O desiderato de Desidério, antes de qualquer coisa, era ser chamado de Desiderius Erasmus pois, apesar de holandês, sempre almejou ser um nativo do Lacio. Por isso mesmo que sempre repetia que "o homem que não nasce onde quer, finge ser de outro lugar". De tanto repetir essa frase nas docas de Roterdam ela acabou ganhando o mundo através dos marinhe...

Nunc et semper

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... o rei a escolhera como parceira intelectual e amante. Amor que começa como adoração é o que fica. (Luís Fernando Veríssimo in Um rei secreto) No dia que Elisabete chegou à ilha ela logo reparou que as nuvens encobriam o topo do morro. Achou estranho. A topografia não era tão íngreme para que isso acontecesse. Mesmo assim não era possível ver o pico. Instalou-se na casa. O barqueiro ajudou a descarregar as caixas com mantimentos. Ela pagou o homem e combinou dele vir buscá-la um mês depois. Finalmente estava isolada do mundo. Depois de algum tempo sentada na grama, resolveu explorar aquela que seria a sua moradia pelos próximos 30 dias. Encontrou tudo no lugar, como tinham contado para ela. Inclusive as orientações sobre o funcionamento do gerador, que ela não pretendia usar, e do rádio, caso acontecesse alguma emergência. Apesar de afastada do mundo, a casa tinha algumas conveniências modernas. O fogão era à gás (que também alimentava o aquecedor de água), a cozinha era bem equipa...

Selo ou não selo*?

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Constantemente eu vejo blogs de amigos sendo premiados com condecorações oficiais da blogosfera. Recebem o selo Dardos, o selo Flechas, o selo Zarabatanas e, os melhores, já ganharam selo Bala de Festim. Tem o blog amigo, o blog massa, blog original, blog simpático, blog show e blog blog (os que receberam o selo glub glub morreram afogados, resquiecat in pacem ) Até hoje o Mens Insana se posicionava contra esse tipo de ação entre amigos. Agradeceu alguns confetes recebidos mas, como o síndico do blog não gosta de carnaval, acabou nem retribuindo nem espalhando serpentina. Até que hoje eu achei o único prêmio coerente com a missão, os princípios e valores insanos (se você não conhece a nossa carta de princípios leia o primeiro texto publicado aqui ) Revolvi lançar mais um prêmio blogante : O certificado de insanidade . Para manter a nossa filosofia, as regras do prêmio serão as seguintes : 1. Escolha os 7 blogs mais absurdos que você já leu 2. Apague-os dos seus favoritos e coloque na ...

O ralo

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O ralo é um buraco escuro ,feio e fedido que fica no fundo da pia. Geralmente é usado como referência pejorativa : "algo foi pelo ralo", "fulano entrou pelo cano (depois do ralo)" e, mesmo nas artes, o cheiro de ralo não era exatamente elogioso (por melhor que fosse o filme). O que poucos sabem é a origem histórica dos ralos, os melhores amigos das torneiras e das pias, cuja função é escorrer a água para dentro das fossas e dos esgotos. As primeiras referências sobre o ralo datam dos tempos das termas romanas. A idéia de algum tipo de coletor de água suja surgiu entre os escravos que tinham de carregar a água usada nos banhos em baldes de água até os esgotodutos romanos. Além de cansativa, essa prática provocava a deterioração gradativa das narinas. O mecanismo ainda não tinha sido criado quando a queda do império romano do ocidente interrompeu bruscamente os desenvolvimento tecnológico. Nessa época, Ovídio já questionava : " ralidae tradis ovile lupae? ",...

Hai kais sobre um mote latino

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Dubitando ad veritatem parvenimus . Cícero (De officiis) Mesmo se duvido Verdade nem sempre é Porto de chegada Ela olha e diz Questiona meu desejar Verosimilhança Liberdade dei Esta que nunca alcancei Fonte a renascer Rochedo no mar Inventa todos matizes Magia da cor Dúvida verdade Liberdade como o mar Chega sem partir * Haikai (Haïku ou Haicai) é um forma poética de origem japonesa, surgida por volta do século XVI, que valoriza a concisão. O haikai é a arte de dizer o máximo com o mínimo. Cada haikai capta um momento de experiência, um instante em que o simples subitamente revela a sua natureza interior e nos faz olhar de novo o observado, a natureza humana, a vida. O grande mestre haikaista foi Matsuô Bashô (1644-1694). É um poema de três versos, escrito em linguagem simples, sem rima, com dezessete sílabas poéticas (sendo cinco no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro). Outras séries de hai kais nesse blog

Basium, osculum e suavium

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Eu admito que sou um beijoqueiro. Não que eu saia aplicando beijos em qualquer um no meio da rua, mas tenho o hábito de cumprimentar amigas e mesmo alguns amigos de forma oscular. Mais que isso, costumo mandar beijos nas minhas mensagens por e-mail. Claro, só para as pessoas que eu considero amigas. E gosto de adjetivar meus beijos, assim como meu amigo MAQ que costuma enviar abraços "acessíveis", "inclusivos" - eu geralmente retribuo-os com abraços em desenho universal. Raramente tenho algum tipo de queixa. Mas já tive. Uma vez uma pessoa me pediu para parar de mandar beijos no encerramento dos meus e-mails porque o marido não gostava. Passei a mandar abraços. Ela reclamou de novo. Parei de mandar e-mails - seria ridículo mandar apertos de mão digitais. Quem não pode nem receber abraços virtuais merece ficar no isolamento. Os mais antigos relatos sobre o beijo remontam a 2.500 a.C., nas paredes dos templos de Khajuraho, na Índia. Diz-se que na Suméria, antiga Meso...

O meu parecer

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Segundo o princípio de direito intertemporal tempus regit actum, que norteia a aplicação das regras processuais, impõe-se a competência ratione materiae da Justiça. O agravante interpôs o presente recurso perante Vossas Excelências, Doutos Desembargadores Julgadores e requer-se a Vossa Excelência, Eminente e Emérito Desembargador Relator,diante dessa situação de alto risco, de se encontrar, de repente, por tardio assomo promovente súbito de um procurador, sujeita a uma incongruente e ineficaz citação de um cogitado crédito já prescrito. Conspícuos, concordarão os senhores, que a jurisprudência , sobejamenente qualificada via seus paracletos identificados. A saber : o demandado não foi intimado a demonstrar a lisura do vergastado exame, logo a contestação mostra-se inane e, em nenhum átimo do texto da própria proemial, pode a lei civil nédia concernente ao assunto em testilha, por não constar as decisões proferidas monocraticamente em cognição exauriente. Ad finiendum, considerando que...

Ut nunc sunt homines

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Andrômaco sempre pareceu ser um sujeito comum. Apesar do seu nome. Ele mesmo admitia que seus pais tiveram escolhas esdrúxulas. O nome de uma de suas irmãs era Minâncora, a outra chamava-se Maizena. Claro que foram expostos a todas as piadas e trocadilhos possíveis na infância e juventude. Fora isso, nunca chamou a atenção. Foi um aluno mediano, um jovem sem excessos, um trabalhador dedicado mas sem nenhum brilhantismo. Quando conheceu Mariana foi paixão à primeira vista de ambos os lados. Nesse momento ele se revelou um amante apaixonado. Depois de algum tempo, também mostrou ser fogoso. Mariana adorava o espírito de aventura do namorado. No começo dentro do carro, depois em lugares inesperados. Quando ela se dava conta não tinha como voltar atrás. Sempre riam das situações e eram felizes. Alguns poucos anos de namoro e resolveram casar. O evento não poderia ser mais tradicional. Casamento civil. Igreja com tudo que Mariana tinha direito, incluindo Mendelssohn na entrada e Wagner na s...

Scripta ferunt annos

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Cecília Meirelles dizia que escrevia por seu canto existia e sua vida estava completa. Pessoa se dizia um fingidor. Drummond fazia crônica da não notícia e da notícia. Afinal, porque escrevemos ? Ou, pelo menos, por que é que eu escrevo ? E por quê diabos é que insisto nesse ponto de interrogação solto no espaço ? Algumas pessoas me perguntam se a minha vida é assim agitada como os textos do Mens Insana. Crêem que cada uma das histórias é um experiência autobiográfica. Tenho de admitir que se assim fosse, eu seria o próprio paxá num harém de odaliscas, só comeria manjares e beberia néctar no Olimpo (pode reclamar, eu acabei de misturar tradições otomanas com mitologia grega, mas não esqueça que gregos e otomanos são vizinhos, além do que eu sou insano mesmo). Já cheguei a ser repreendido pela minha infidelidade e por estar bebendo demais. Já recebi mensagens preocupadas com a tendência suicida e necrófila em algumas mensagens. Alguns têm pena dos meus filhos, por terem um ogro como pai...

Vulgus vult decipi, ergo decipiatur

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Dura lex, sed lex : no cabelo só Gumex Certamente você já deve ter recebido pelo menos uma vez uma mensagem contando a história de um família que morreu de leptospirose por ter tomado cerveja direto da latinha. Ou aquela do sujeito que acordou numa banheira de gelo num hotel de Buenos Aires sem os dois rins. Não ? Mas aquela do sujeito que estava morto na sua mesa de trabalho há uma semana e ninguém percebeu você já recebeu... Esse tipo de “literatura”, onipresente na Internet já recebeu um nome e até existem sites dedicados a checar a veracidade das histórias. Um grande negócio que está se multiplicando tendo como alicerce a sua ingenuidade e a sua boa fé. Com certeza é preciso ser muito ingênuo para acreditar nessas histórias que imediatamente você repassa para todos os seus amigos e até para alguns inimigos. O que as lendas urbanas tem em comum ? Elas aparecem misteriosamente e se espalham espontaneamente e, como quem conta um conto aumenta um ponto, vão tendo suas variações. Todas ...

Ad abúlica caterva

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Ad abulica caterva Quando a barafunda se locupletou de solecismos infames, o seródio citadino começou a vociferar de forma abúlica. Nada seria mais deletério que tal acrisolamento mendaz. O arlequíneo pulveráceo tão pouco exerceu seu antagonismo nem suas práticas orizófagas. Em meio ao ribombar dos vulcões ariscos o prostídeo nefário perpetrava sua parenética de sulfúreos ódios. Ad caterva, ad caterva campeavam sofismas e solilóquios salazes. Por quê ? Por quê ? clamava o estíolo, clangorejando o opíparo. Serão lúbricos ? Serão píreos ? Porque será que avocam açodados os méleos onustos da minha estroinice. Mesmo que eu ababelhe os silogismos, nada será achaparrado por heliófagos seródios. Nunca meu epicínio campeará sofismas, nem a vil coorte egazeará onustos mordazes. Terei eu de acepilhar délios insidiosos ? Serei capaz de avocar um beligerante episódio ? Me deblaterarei entre anacrônicos férulas. Avocarei os álacres estíolos açodados por suas palúrdias coortes. E quando a mão do fad...