A metafísica Kantica

 


“Uma vez que Kant é um dos mais difíceis dos filósofos modernos, eu não posso esperar ter conseguido deixar seus pensamentos inteligíveis ao público em geral. Não me parece claro que todos os aspectos do seu pensamentos sejam inteligíveis, nem para o próprio Kant.”

 “Ainda que uma visão geral do sistema kantiano seja comum a todos os comentaristas da sua obra não existe nenhum acordo a respeito da força, ou mesmo do conteúdo, dos seus argumentos.”

 Essas duas frase, extraídas do comentário de Roger Scruton sobre a obra de Immanuel Kant (Kant – A very short introduction. Oxford University Press. 1982) já seriam suficientes para desistir de tentar entender a filosofia kantiana, mas eu admito que sou cabeça dura e resolvi enfrentar a fera.

Reconhecendo minha limitação para enfrentar face a face os originais do filósofo (e eu até tentei ler numa versão inglesa e depois de algumas muitas páginas reconheci que sozinho não chegaria a lugar nenhum), fui em busca de ajuda.

Encontrei, dentre dezenas, dois comentários que me interessaram. O de Scruton, citado acima, e o de Gilles Deleuze (A filosofia crítica de Kant, Editora Autêntica. 2018). A escolha heterodoxa foi intencional, a de olhar o mesmo objeto pelas lentes de dois sujeitos díspares. Também comecei a ler um de Michèle Crampe-Casnabet, mas era chato demais.

De um lado Scruton, um inglês fleugmático e conservador que escreve de forma direta e didática. De outro Deleuze, um francês progressista, perturbador e hermético. A única coisa em comum entre os dois é terem sido professores de estética (o que, aliás, faz com que ambos lancem um olhar mais rigoroso sobre “A crítica do julgamento”)

Não tenho e nem terei a pretensão de tentar explicar o que aprendi: conhecimento objetivo, as faculdades superiores, a lógica da ilusão, os imperativos categóricos, a definição de beleza e do sublime (que Kant herdou de Burke), filosofia transcendental, lei e política.

Também não pretendo endossar irrestritamente suas ideias, se os próprios especialistas não entram em um acordo, quem seria eu para dar palpites?

Certamente ele tem seus méritos, caso contrário nem estaria em uma das prateleiras mais altas do panteão dos filósofos. Talvez a principal tenha sido a sua capacidade de compatibilizar extremos: racionalismo x empirismo, imanência x transcendência, mente x espírito, dentre outras. E o fez de forma quase irrefutável.

Sua demonstração de que tudo que é suprassensível não permite explicações lógicas (não são objeto do conhecimento científico) deveria ser levada mais a sério.

Por outro lado, Kant também tem os seus pontos fracos, especialmente nos temas mais rés-do-chão. Política, lei e moral cotidiana são temas onde ele não só se contradiz várias vezes, como acaba, quase sempre, saindo da estrada do real e caindo na utopia.

De qualquer forma, entendo que seja uma leitura fundamental, nem que seja para entender melhor toda a filosofia, teoria da ciência e psicologia que ele vai influenciar até os dias de hoje. Além de permitir que percebamos os traços kantianos que povoam muitos discursos da cultura ocidental.

Em todo caso, prepare-se, perto da metafísica kantica, a física quântica para brinquedo de criança.

Descrição imagem: quadro de Immanuel Kant quando jovem

Esse texto foi publicado originalmente no Balaio Caótico

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