Vlud, o empanador

 


Meu nome é Vosferatu Drakul mas sou mais conhecido como Vlud, o empanador, epíteto que me foi dado pelos meu dotes culinários.

Segundo meu pai, somos descendentes diretos de Vlad, voivoda da Valáquia, temos o seu sangue, além de outros tantos que nos foram transmitidos pela genética ou pelo consumo.

Eu seria apenas mais um vampiro comum, ainda que de ascendência nobre, não fossem alguns dos meus hábitos peculiares que me afastam dos meus semelhantes.

O ponto mais crítico na minha relação com a comunidade hematófaga é o fato de que eu adoro alho. Cru, frito, assado, cozido ou torrado.

Não que eu não seja um consumidor habitual de outros acepipes. Como tantos vampiros, gosto de morcela, molho pardo, vinho tinto, tomates, beterrabas e frutas vermelhas. Carnes só as muito mal passadas, quase cruas.

E sangue, é claro. De preferência o AB negativo.

Meus coetâneos me desprezam pelo meu olor satívico, não me entendem e, provavelmente, nunca me entenderão.

Nem Radu, nem Mircea, meus irmãos, são capazes de conviver comigo. Dizem que meu palácio rescende os odores da minha cozinha e que o cheiro de alho é perceptível a centenas de jardas dos meus portões.

Nunca tive uma namorada. Vampiras como Christabel e Mircalla, condessa de Karnstein, me atraíram na juventude, mas o alho impedia qualquer aproximação. De outro lado, as não vampiras, mesmo as que também eram alhófilas, morriam de medo dos meus caninos.

Minha vida se resume envelhecer entre a cozinha e os meus livros.

Todas as manhãs, quando vou dormir, sonho com a chegada de Van Helsing, para, finalmente, descansar em paz.

Quando se cumprir minha missão, decorem meu túmulo com réstias de alho.

Crédito da imagem: Por Anónimo - http://neuramagazine.com/dracula-triennale-di-milano/ image, Domínio público

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