Postagens

Santa Julienne

Imagem
Maristela não teve dúvidas quando resolveu desmanchar o namoro com Arnaldo. Não existia amor, nem os melhores momentos justificariam continuar com aquilo. Arnaldo ficou arrasado. Estava perdendo não só a namorada mas a companheira de esportes radicais. Com quem, agora, ela poderia praticar alpinismo e caiaque? Quem estaria ao seu lado nas trilhas noturnas? Ela estava irredutível, nenhum dos seus argumentos parecia sensibilizá-la. Apelou para a chantagem emocional. Lembrou que os dois estavam inscritos em parceria num curso de windsurf. Relembrou-a dos jantares à luz de lamparina às margens do rio Tubarão. Chegou a lembrá-la que ela ia ficar sem o único massagista que tinha resolvido seu crônico problema de músculos adutores. Nada. Maristela nem piscou. Disse que nada na vida a faria mudar de idéia. Arnaldo se conformou e resolveu levá-la de volta para casa. Já na porta do seu prédio perguntou se ela queria de volta o descascador de legumes a "julienne" que ela lhe havia empre...

Sinestenoite

Imagem
Sons da noite Um motor barulhento Um vizinho espirrando Rumor de vento Sabores da noite Uma chávena de chá Lembranças de trufas Castanha do pará Visões da noite Cravos na varanda Nuvens espaçadas Falas de Miranda Sensações da noite Pasta sobre os dentes Lençóis de muitos fios Cabelo sem pente O perfume da noite De sonhos é feito Um só aroma Único e perfeito

Quente, muito quente

Imagem
Arnaldo bateu o olho na geladeira da mercearia e seus olhos brilharam: salsichas Frigor Éder, aquelas mesmas que comia na sua infância. Salsicha fresca, não aquelas porcarias de pacotinhos que continham muita soja e quase nenhuma carne. Mostrou para a namorada e disse que aquela noite ia comer cachorro quente. Marilda, que também gostava do acepipe lamentou que já tinha se comprometido com a irmã de jantar na casa dela. Fez Arnaldo prometer que voltariam outro dia à mercearia e comprariam mais salsichas. Salsichas frescas, como é de domínio público, não devem ficar guardadas de um dia para o outro e, em hipótese alguma, podem ser congeladas. Continuaram as compras e, já no caixa, Arnaldo falou para Marilda que o que ele queria mesmo era que ela fosse para a casa dele comer o seu cachorro quente. Marilda não teve tempo de responder, quando a moça do caixa falou que estava com inveja dela, bem que gostaria de comer aquele cachorro quente, até porque estava morrendo de fome. Marilda foi f...

Um ano e tanto

Imagem
2010 não foi um ano qualquer. Grandes mudanças aconteceram. Anos de perdas e de ganhos, de montanha russa emocional e, certamente de muito aprendizado. Trabalhei bastante, mais do que gostaria e menos do que poderia. Quem sabe se algum dia eu ganhe na loteria e pare de trabalhar, é verdade que minhas probabilidades são muito reduzidas considerando o fato de que eu não jogo, acho que esse cálculo nem meu amigo Rogério que é estatístico conseguiria fazer. Trabalhei na igreja até meados do ano. Parei temporariamente. Pretendo voltar assim que me queiram de volta, não me entendo como um cristão se não estiver trabalhando. Agradeço meus alunos que continuam sentindo saudades das minhas aulas. Minha militância inclusiva se manteve. O ritmo foi um pouco menor mas continuei batendo pernas para falar a respeito de um mundo onde todos os seres humanos sejam considerados seres e humanos e onde a educação seja de fato um direito indisponível. Conheci pessoas novas nesse meio. Me encontrei com outr...

Para o levantamento de muitos

Imagem
“Eis que esse menino está destinado tanto para a ruína como para levantamento de muitos....e para ser alvo de contradição, para que se manifestem os pensamentos de muitos corações” (Lucas 2 :34-35) Quando o menino Jesus foi apresentado no templo, ele encontrou o velho e piedoso Simeão que falou as palavras acima a seu respeito. Palavras doces para os que crêem, palavras duras para os que não entendem o seu sentido. A cada Natal eu me impressiono como essa contradição fica mais aparente. Como alguns entendem essas palavras e como tantos se distanciam do sentido da comemoração, a ponto de muitos dos cartões que eu recebo, analógica ou digitalmente, sequer mencionarem o Natal, limitando-se a desejar boas festas. Para essas pessoas, o final do ano vai ser só mais uma oportunidade de comer e beber, talvez ganhar presentes. Talvez só um momento de desejar que 2011 seja melhor. Nós também desejamos que 2011 seja melhor para vocês todos, que seja o ano em que aqueles que ainda não tiveram a o...

Crítica teatral

Imagem
Alguns autores buscam em sua vida real ou imaginária os temas para desenvolverem suas produções artísticas. Esse fato é mais ou menos perceptível a cada novo texto e varia muito de autor para autor. Por outro lado, existem escritores que conseguem extrair de fatos corriqueiros todo um edifício ficcional que beira o delírio lisérgico. Esse é o caso da nova obra do teatrólogo galês Oso von Bach, o monólogo "Uma mulher exaltada", atualmente em cartaz no teatro da Aldeia Circular. A protagonista, interpretada magistralmente pela atriz Elisabeth Bell estrutura-se sobre uma série interminável de pequenos fatos e cada uma das reações ensandecidas da personagem. A forma como von Bach cria situações absurdas alterna momentos hilariantes e deprimentes. Nem na mais profunda alucinação de uma mente corroída por ácidos nefelibáticos tais situações beirariam sombras de uma existência factual. O auge da peça e da interpretação de Bell acontece no momento em que ela descreve como se exaltou ...

A tupida antologia de Novembro

Imagem
A regra do jogo é simples. Leia os comentários que foram publicados no blog no mês passado sem voltar aos textos originais. Para cada um deles imagine a sua própria história: O que vc fez com as coitadas das rosas? ele tenha terminado morrendo por causa de uma glicemia alta muita estranha essa geleia... será que terei o mesmo fim? Sem querer estragar a beleza da mitologia celta, mas vou resignificar minhas palavras continuo seguidor fiel das tuas traições acho que meus neuronios ainda estão embriagados mamãe também é gente! Esse post foi inspirado na minha enxaqueca, pode confessar! eu já ouvi essa orquestra de pulgas amestradas,lá na Praça da Sé...faziam fundo musical,pra uma pregação sobre o livro de Jó... E vai saber quem elas tinham mordido antes né? Fiquei zonza, de olhos esbugalhados e nó na língua... Será que dizem isso ser careta? Isso é o que acontece com quem confia demais

Novo golpe na praça

Imagem
Seus amigos não acreditaram quando ele disse que estava deixando sua casa. Não que achassem que ele fosse feliz com Raquel, mas sabiam que ela nadava em dinheiro, como que Ronaldo iria perder esse boquinha, pior, de forma voluntária? Quando casaram ninguém achou que ele estivesse aplicando o golpe do baú*, Ronaldo não era milionário mas também não era nenhum pé rapado. Raquel era proprietária de uma indústria muito bem sucedida. Quando abriu a financeira para vender seus produtos no crediário ficou mais rica. Quando um banco estrangeiro comprou a financeira e a indústria ela ganhou o suficiente para viver lautamente as próximas 31 encarnações. Claro que Ronaldo foi beneficiário da fortuna de Raquel. Conheceu o mundo, passou a frequentar os melhores restaurantes, só viajava de primeira classe ou de aviões particulares, tinha até um helicóptero para levá-lo onde quisesse, na hora que quisesse. Nada disso seduzia Ronaldo. Ele não aguentava mais viver cercado de seguranças armados, não tol...

Caparidáceas

Imagem
Ele sabia que aquele era o jantar da sua vida. Não poderia cometer nem um erro, nem um deslize. Depois de muito tempo ele finalmente tomara coragem de convidá-la para jantar na sua casa e, surpreendentemente, ela aceitara o convite. Justo ela que sempre lhe pareceu ser a estrela inatingível. Até o seu melhor amigo tentou dissuadí-lo de qualquer tentativa. Era areia demais para seu caminhão. Dormiu muito pouco nas noites que antecederam o encontro. Noites em busca de pratos perfeitos, testando e retestando as receitas. Recorreu a um sommelier para escolher os vinhos. Nada. Nada podia dar errado. Nada. Quando ela chegou a mesa da sala parecia um restaurante de luxo. Louça inglesa, taças de cristal tcheco, talheres de prata e guardanapos bordados a mão. Serviu a salada de endívias com queijo de cabra e amêndoas com um vinho suave. A carne assada com um molho de alcaparras, acompanhada de risotto milanese e de um borgonha valente, mas macio. Não se arriscou na sobremesa, preferiu comprá-la...

O melhor caminho

Imagem
" - ZYD456, a sua Rádio Tráfego (não confundir com tráfico que é sempre um mau caminho) indicando os caminhos menos péssimos para se deslocar na cidade. Patrocínio exclusivo da Norte Oceânia - "Não há turba que me perturbe" e apoio inestimável da CET - Companhia do Engarrafamento do Trânsito, sem a qual essa rádio não existiria. Abrimos nossos microfones agora para os nossos ouvintes. Conte de onde você vem e para onde vai, e nós te ajudamos a chegar. Na linha está o Astrogildo. Fala Astrogildo, onde é que você está encalacrado..." " - Oi cara...preciso de ajuda. Eu estou indo de Guarulhos para Santo Amaro, peguei a Marginal Tietê e o trânsito está fluindo bem demais, será que não pode me dizer como é que eu faço para pegar um engarrafamento?" " - Astrogildo, o melhor caminho é exatamente esse marginais Tietê e Pinheiro até a ponte João Dias, está tudo livre, em 15 minutos você chega lá..." " - Mas eu não quero chegar em 15 minutos, não tem ...

Cefalalgia

Imagem
Não era nada diferente do que acontecia entre outros casais. Mariana algumas vezes estava com dor de cabeça e, quando isso acontecia, Jorge ficava desconcertado olhando para o teto. Acontece que, num dia em que Mariana realmente estava com uma dor de cabeça infernal Jorge não se conteve e disse que ia ser com ou sem dor de cabeça. Mariana ensaiou um protesto, mas acabou cedendo. Era melhor aguentar a dor de cabeça do que se arranjar outra. O que ela não esperava é que mal tinham acabado, a dor de cabeça desaparecera completamente. Quando comentou isso com Jorge ele deu um riso irônico, até parecia que ele tinha acreditado na tal da dor. Mas Mariana sabia que a dor era real antes e inexistente depois. Tentou entender o que tinha acontecido, não conseguiu e resolveu que aquela situação precisava de uma comprovação científica. Dias depois Mariana teve um dia cheio de reuniões externas. Ficou muito tempo na rua, debaixo de sol forte. As pontadas na cabeça começaram no final da tarde. Ao ch...

A cor do som

Imagem
Elisa chegou em casa cansada e nervosa. O dia, definitivamente, não tinha sido dos melhores. O calor acentuara a sua dor de cabeça, o chefe a culpara por um erro que não era dela e quando ela pediu ajuda a um dos colegas de trabalho ainda teve de ouvir que ele não era mágico para resolver os problemas do mundo. Olhou para o relógio e ficou ainda pior, faltava um pouco mais de uma hora para os seus convidados chegarem e ela nem tinha começado a fazer o jantar. Entrou no chuveiro, tomou um banho rapidíssimo e voou com as suas tarefas. Arrumou a mesa enquanto a carne assava no forno, arrumou os vasos de flores, escolheu os discos para tocar durante o jantar, colocou a água no fogo para cozinhar o macarrão. Estava dando os últimos retoques na salada quando seus amigos começaram a chegar. Depois de muitos anos iria rever parte da turma da faculdade. Mantinha um contato remoto com alguns deles e mais próximo com duas amigas. Ela não via André desde o dia da formatura, mas lembrava da admiraç...

Uma rosa é uma rosa

Imagem
Fernando nunca levou a sério pessoas que fossem viciadas em qualquer coisa. Achava essa história de dependência física, química ou psicológica uma besteira. Coisa de gente fraca que não tinha autocontrole ou capacidade de gerir suas próprias vidas. Pessoas como ele não permitiam que nada fosse mais forte que a razão. Chegou mesmo a perder alguns amigos por isso. Suas críticas nunca eram leves e seus comentários, mesmo em tom de brincadeira, eram ferinos. Outros relevavam, afinal, tirando essa mania, ele não era um mau sujeito. Fernando só perdeu as estribeiras no dia em que um colega de trabalho disse que ele tinha dependência psíquica de falar mal das dependências dos outros. Para contrariar esse tese ficou mais de dois meses sem tocar no assunto. Foi nessa época que, num sábado, foi tomar chá na casa de uma velha tia que ele sempre visitava. Entre chás, torradas e biscoitos, ela trouxe uma novidade que ganhara de uma neta: um vidro de geléia de rosas. Fernando achou estranho comer fl...

Traje dos céus

Não é a primeira vez que eu cometo uma traição nesse blog, pelo contrário, sou um traidor contumaz como se pode ver aqui . Também não é a primeira vez que traio Yeats, ele já me puxou as pernas à noite pelo que fiz com o vagante Aengus . Dessa vez traio os seus sonhos, ou serão os meus? Traje dos céus Tivesse eu trajes tecidos nos céus, Permeados de ouro e prata e luz, O azul e o sombrio e escuro traje De noite à noite à meia luz, Lançaria sob teus pés minha capa Mas pobre eu sou, só sonhos tenho Sob teus pés lancei meus sonhos Pise suavemente, caminhas em sonhos. Anthony Hopkins em 84 Charing Cross Road também tinha devaneios com esse poema O original é o seguinte Cloths of heaven William Butler Yeats HAD I the heavens' embroidered cloths, Enwrought with golden and silver light, The blue and the dim and the dark cloths Of night and light and the half-light, I would spread the cloths under your feet: But I, being poor, have only my dreams; I have spread my dreams under your feet; ...

A vetusta antologia de Outubro

Imagem
Acho que eu acabei sendo muito sério esse mês e, como consequência, a maioria dos comentários também o foi. Mas sempre tenho companheiros insanos a tergiversar pletoras. Aí vão os melhores comentários de Outubro Se um dia eu crescer...também quero ser assim... Entupa todos os ralos do seu lar com estopa. Pois é... O certo mesmo é ser piranha do brejo e morder tudo quanto é calcanhar. ...se essa caixinha ficar quieta,eu consigo contar... também é composto de colágeno... Essa brincadeirinha dos pontos pretos me deixou pálida... nos dieron la lección de la vida en la greda morte chegar num café com cultura... Que mente é essa, a minha??? Cicuta é bebida fraca, tem algo + forte? Vou imprimir e destribuir na feira. chamado o capitão caverna para ajudá-la Uahahahaha...pessoa louca..

Lei do silêncio

Imagem
Ana entendeu perfeitamente quando Carlos falou que sua mãe viria morar com eles. A mãe ficara viúva há pouco tempo e os filhos acharam melhor que ela não morasse sozinha. Carlos tinha a casa que permitia alojar a mãe. A nora, apesar das lendas, se dava muito bem com a sogra e cuidou de todos os detalhes da instalação dela em sua casa com carinho e delicadeza. O que eles não pensaram, em momento algum até a mudança era que, a partir daquele momento, não estariam mais sozinhos em casa, e no que isso implicava. Naquela noite, quando Carlos se enroscou em Ana, caiu a ficha. Não que algum dos dois fosse exatamente escandaloso, mas também não eram nada silenciosos. Naquele momento, Carlos perdeu o ânimo, Ana não entendeu, aquilo nunca tinha acontecido antes, até Carlos murmurar: " - A mamãe..." Ana desabou. Nunca mais aventuras no corredor. Temperos na cozinha, nem pensar. Chamou Carlos para levantar e ir até a cozinha para tomar um chá. Precisavam conversar. Carlos comentou que el...

Sem fumaça

Imagem
Rosana ouviu o apito do celular e ficou imaginando quem poderia estar lhe mandando torpedos numa hora daquelas. Não acreditou quando viu que era uma mensagem de Sérgio, perguntando se ela tinha melhorado da dor de cabeça. Até seria uma atitude gentil, não fosse o detalhe que ela estava no quarto e Sérgio, seu marido, estava na sala vendo televisão. Ela não respondeu. Cinco minutos depois o telefone tocou. Era Sérgio querendo saber se ela tinha recebido o torpedo. Quando disse que sim ainda foi obrigada a ouvir a cobrança de que não tinha recebido e depois ia reclamar que ele não se preocupava com ela. Ficou tão brava que desligou o celular e tirou o telefone fixo do gancho. A dor de cabeça piorara e ela queria dormir. Não conseguiu. Dez minutos depois Sérgio apareceu na porta do quarto reclamando que não conseguia falar com ela e só caia na caixa postal. Ela enfiou a cabeça embaixo do travesseiro. Não dormiu, pensando a noite inteira. No dia seguinte dedicou-se à pesquisa de antropolog...

Cena hiperrealista

Imagem
Na Praça Clóvis, Bevilacqua ainda ressonava junto ao meio fio ao som da sua orquestra de pulgas amestradas tocando um pout-pourri de Benny Goodman. Os primeiros passantes da madrugada olhavam acintosamente a cena, o que não os impedia de lançar cáusticas bitucas nos bueiros arratazanados. A moça de camisa rosa paramentava os abrolhos discrepantes que pendiam solertemente das vitrines da alma Corega! Corega! Bradava Cantinflas do alto do seu tabuleiro de rapadura na esquina da Maria Quitéria. Os janisteus cabrobravam paulatinamente os pneumáticos espreguiçantes, entre ladrilhos e abutres. Desde a praça, ramos pendiam flácidos entre columbiformes e amorfas lagartas que atacavam vorazes as penas de morte. Tua perplexidade diante de fatos combustíveis inexorava a multidão. E eu saí pelas ruas em busca do tempo mordido.

Escravos de Jó

Imagem
Rinaldo e Karina começaram a namorar na adolescência e nunca se separaram. Também nunca casaram. Nem eles mesmos sabiam explicar o por quê (ou os vários por quês). Chegaram mesmo a comprar e mobiliar um apartamento com a intenção de morarem juntos, o que nunca aconteceu. O apartamento virou um lugar de refúgio para eles. Ambos usavam o lugar sozinhos, algumas vezes; muitas outras juntos, geralmente nos finais de semana. O que não impedia que um dormisse na casa do outro de vez em quando. Rinaldo morava coma mãe, já idosa. Karina coma irmã mais nova. Nem uma nem a outra jamais questionaram o arranjo de vida dos dois. Já o resto do mundo não entendia nada. No começo ainda tentavam explicar, depois desistiram e começaram a se divertir com as reações das pessoas. No supermercado os olhos arregalados dos caixas quando separavam as compras da minha casa, da sua casa e da nossa casa. No cabelereiro ela ria quando Rinaldo chegava com a mãe e saía com ela dizendo que ia até em casa antes de vol...

Para sempre

Imagem
Para A & B, meus modelos de vida a dois Ela me olhou com aqueles olhos verdes que sempre me emocionaram e me disse que estava com saudades do seu amor. Não falava de forma amargurada mas estava claro que aquilo a incomodava. " - Mas ele viajou ontem à noite... além disso vai ficar fora somente três dias", falei, tentando fazer com que ela não se sentisse triste. "- Eu sinto saudades quando ele vai até o banco e volta em meia hora. Três dias são uma eternidade, além disso estou só desde ontem à noite..." " - Você sabe que ele precisa trabalhar, isso faz bem para a cabeça dele", insisti. " - Eu sei... eu sei... eu sei que é bom para ele, mas, o que eu sinto? Não tem o mesmo valor?" " - Claro que tem, mas ele ainda trabalha só para poder te mimar..." " - O melhor mimo que ele pode me dar é ficar comigo o tempo todo." E encerrou o assunto. Fomos tomar um chá com torradas e conversamos sobre lembranças da família. Fui para casa...