tag:blogger.com,1999:blog-79941031802396097592024-03-13T22:29:51.158-03:00Mens insana in cor sanoPara os momentos em que a vida precisa ser menos cartesiana ou , em bom latim : " Cor, vox, dens, frons, ren, splen, pes, lux sunt tibi; deest mens".(Gabriel Peignot, Amusemens Philologiques)
"I became insane, with long intervals of horrible sanity..."(Edgar Allan Poe)Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.comBlogger1050125tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-79993199634527431902023-01-24T16:07:00.005-03:002023-01-24T16:52:28.758-03:00Os bestsellers mais não lidos do mundo<p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><span style="background: white; font-size: 14pt;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_i5kFOnrAfoqQ6iHeMOF-YMupTB1LWs9bbpOeOCbj_4R8wgdHL54RsDCnnLNHQMmn6BwBQrwfx7293AG5-wLSZhs5L903BTADK1ySivFl2E_F3hwWKaexcvUCW7Bn4uJ6XPh3NnoKdO_5r3uiC2e1UWgKXX1IP9O9EKooDV9z4ZzhsPgLUg3nlQYxaA/s700/biblioteca.jpg" style="font-size: medium; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="586" data-original-width="700" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_i5kFOnrAfoqQ6iHeMOF-YMupTB1LWs9bbpOeOCbj_4R8wgdHL54RsDCnnLNHQMmn6BwBQrwfx7293AG5-wLSZhs5L903BTADK1ySivFl2E_F3hwWKaexcvUCW7Bn4uJ6XPh3NnoKdO_5r3uiC2e1UWgKXX1IP9O9EKooDV9z4ZzhsPgLUg3nlQYxaA/s320/biblioteca.jpg" width="320" /></a></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;"><span style="font-family: helvetica;">Não poucos livros da história foram tecnicamente
definidos como bestsellers, até porque a quantidade necessária para receber
esse nome é bastante baixa, cerca de 10 mil exemplares (em mercados editoriais
mais pobres como o nosso, 5 mil já é um bestseller).</span></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: helvetica;"><span style="background: white; font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">No entanto, ninguém nunca criou a categoria de
worst-read, aliás o termo (os piores, ou menos lidos) nem existe, acabei de
inventá-lo. São aqueles livros que vendem muito, são exaustivamente comentados,
mas quando você vai ver não passam de decoração da estante.</span></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: helvetica;"><span style="background: white; font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">A melhor maneira de detectar um worst-read é
quando percebemos que as pessoas fazem citações inexatas, baseadas no que
ouviram falar. Ou quando se referem a ele como um grande livro de “XYZ”, quando
na verdade é um livro sobre “PQR”.</span></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: helvetica;"><span style="background: white; font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">A lista abaixo comenta alguns que me chamam a
atenção, não é uma lista completa, certamente você vai lembrar de muitos outros
que merecem esse título. Vamos a eles:</span></span></p><p class="MsoNoSpacing"><br /></p><p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: helvetica;"><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">1.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><b><span style="background: white; font-size: 14pt;">O
nome da rosa</span></b><span style="background: white; font-size: 14pt;">: lembro que umas das coisas que me vieram à
cabeça quando li o livro, foi me surpreender como nossa população sabia latim
(se você leu o livro já entendeu o porquê) e como tinha interesse em grandes
debates teológicos como o nominalismo. Para piorar, como muitos viram o filme
sem ter lido o livro, comentavam a história como se ela se resumisse a um conto
da Agatha Christie.</span><span style="background-color: white; font-size: 14pt;"> </span></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: helvetica;"><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">2.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><b><span style="background: white; font-size: 14pt;">Ulysses</span></b><span style="background: white; font-size: 14pt;">:
injustamente considerado como um dos livros mais difíceis da história, a epopeia
de Stephen Dedalus exige um pouco de conhecimento histórico, artístico e
filosófico, mas não é algo ilegível. A trama é bastante simples e os diálogos,
não poucas vezes, espetaculares. Mas como leva a fama de ilegível, todo mundo
tem uma boa desculpa para não ter lido.</span></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: helvetica;"><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">3.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><b><span style="background: white; font-size: 14pt;">O
capital</span></b><span style="background: white; font-size: 14pt;">: é impressionante a quantidade de bobagens que se colocam na
boca de Marx, alegando que ele falou isso nessa obra. Apesar de ser um livro
obrigatório para quem estuda economia e sociologia, muitas vezes tenho a
impressão que as pessoas só leram um resumo (mal) feito por algum colega de
classe.</span></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: helvetica;"><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">4.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><b><span style="background: white; font-size: 14pt;">Ilíada,
Odisseia, Eneida</span></b><span style="background: white; font-size: 14pt;"> e outra epopeias clássicas: é
verdade que assim como não teríamos lutas sem que antes doze auroras raiassem,
e provavelmente não teremos leituras dessas obras tão cedo. O que fazer, todo
mundo tem seu calcanhar de Aquiles.</span></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: helvetica;"><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">5.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><b><span style="background: white; font-size: 14pt;">Em
busca do tempo perdido</span></b><span style="background: white; font-size: 14pt;">: quem não gosta de uma <i>madeleine</i>?
Provavelmente o bolinho doce deve ser o único personagem relevante para quem
nunca se atreveu a enfrentar os sete volumes da obra. Nesse ponto sou obrigado
a concordar com aqueles que tentaram em vão, o texto de Proust é melífluo e
arrastado.</span></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: helvetica;"><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">6.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><b><span style="background: white; font-size: 14pt;">Rápido
e devagar</span></b><span style="background: white; font-size: 14pt;">: o campeão de slides de powerpoint das redes
sociais, provavelmente o maior gerador do viés da pseudocitação. Compete par e passo
com o Capital como o livro mais distorcido da história da literatura. Com o
agravante de que muitas vezes é usado erroneamente em tomadas de decisão.</span></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: helvetica;"><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">7.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><b><span style="background: white; font-size: 14pt;">A
divina comédia</span></b><span style="background: white; font-size: 14pt;">. Alguém já ouviu alguém falar do céu de Dante? Ou
do seu purgatório? Todas citações são infernais, a ponto do adjetivo dantesco ser
sinônimo da morada de Cérbero. Será que ele realmente encontrou Beatriz? Será
que Virgílio (autor da Eneida mencionada acima) lhe transmitiu a praga de livro
não lido? Ah, apesar do título e contrariando alguns que pensam assim, o livro
não é uma comédia.</span></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: helvetica;"><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">8.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><b><span style="background: white; font-size: 14pt;">Shakespeare
em geral</span></b><span style="background: white; font-size: 14pt;">. Como poderia me esquecer do bardo? Criador da
dupla caipira Omelete e McBete, para quem existem tantas coisas entre o céu e a
terra que não vale a pena perder tempo lendo a sua vã filosofia. Você pode até
me acusar de estar aqui fazendo muito barulho por nada, mas se a conversa
acabar bem, tudo bem.</span></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: helvetica;"><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">9.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><b><span style="background: white; font-size: 14pt;">Nietzsche
em geral</span></b><span style="background: white; font-size: 14pt;">: se Kahneman é o rei dos slides de powerpoint, o
velho Frederico tornou-se o rei do copy paste do site de frase “O pensador”.
Que </span><span style="font-size: 14pt;">Übermensch que nada, o legal mesmo é
um deus que saiba dançar. Se visse o que fizeram com ele, ele teria de chamar o
super-homem para salvá-lo da loucura.</span></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: helvetica;"><span style="font-size: 14pt; text-indent: -18pt;">10.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><b style="text-indent: -18pt;"><span style="background: white; font-size: 14pt;">Bíblia</span></b><span style="background: white; font-size: 14pt; text-indent: -18pt;">: os bestseller dos bestsellers,
especialmente depois que Lutero defendeu que cada um deveria fazer sua própria
leitura e interpretação. Toda casa tem uma, geralmente enfeitando algum cômodo
da sala e aberta em algum versículo motivacional. No entanto a prática de muitos
dos seus defensores não tem nada a ver com o que consta do texto (e nem precisa
de muita interpretação para entender a diferença).</span></span></p><p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="background: white; font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><p></p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-75348470307891476262022-05-31T16:23:00.000-03:002022-05-31T16:23:01.982-03:00Baudrillard, Platão e Aristóteles<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSHJoCVqrmxv2GaaCyGgQ0oBm80h7bwCeAcyDrDkbTdZQYpEprdzb-rf46JJMFFSLc4WwBCTGD81SSa9RHccRilZOXkGLNsOEW4qMVLHRWYYFEcbbw-2riGVTI5GC0efUe2x1guqZXZBtov1mtushm2oSLGXtffm7hA9g4dGJdzUpu7Akp4gVbD7LeAQ/s300/matrix.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="168" data-original-width="300" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSHJoCVqrmxv2GaaCyGgQ0oBm80h7bwCeAcyDrDkbTdZQYpEprdzb-rf46JJMFFSLc4WwBCTGD81SSa9RHccRilZOXkGLNsOEW4qMVLHRWYYFEcbbw-2riGVTI5GC0efUe2x1guqZXZBtov1mtushm2oSLGXtffm7hA9g4dGJdzUpu7Akp4gVbD7LeAQ/w400-h224/matrix.jpg" width="400" /></a></div><br /><span style="background-color: white; font-size: 14pt;"><br /></span><p></p><p><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Ainda que não haja uma relação direta, é impossível não
sentir uma certa aproximação entre os simulacros de Baudrillard e a mimesis de
Platão (e a contraposição de Aristóteles sobre o mesmo tema).</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Baudrillard fala em estágios da simulação, partindo da
reflexão do real, para a perversão do real, daí para a ausência da realidade
básica e finalmente a completa disjunção entre o que se mostra e qualquer realidade
possível.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Platão, do seu lado fala da realidade una e perfeita
(primeiro nível), das cópias imperfeitas feitas pelo homem (segundo nível) e da
reprodução artística como a mimese do que já era imperfeito (terceiro nível).
Em A República, ele usa a expressão de três graus de separação entre a verdade
e a simulação.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Já Aristóteles, na sua Poética, era um defensor da mimética
artística que, segundo ele, tinha quatro funções: a primeira antropológica, uma
vez que mimetizar é inato à natureza humana, a segunda paidêutica (educacional),
pois é pela mimesis que o homem adquire seus primeiros conhecimentos, a
terceira estética, pelo prazer humano de contemplar e admirar as mimetizações
e, finalmente, a gnosiológica (aquela que relativa ao conhecimento), já que ao
nos depararmos com a mimesis podemos aprender e concluir o que são as coisas.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">A esses argumentos ainda propõe que a mimética tem o valor
elevado de dizer o que aconteceu e falar do que poderia acontecer.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">O questionamento, e aí caminhando na linha de Baudrillard, é
a nossa crescente incapacidade de diferenciar realidade de simulação e,
especialmente a simulação que sequer tem uma realidade associada a ela
(simulacro).</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Não pretendo cair no psicologismo barato que se refere a
essas simulações com uma fuga da realidade. Existe aqui um ponto que pode ser
melhor explorado por psicólogos sérios. Eu não sou psicólogo e, nem sempre,
muito sério.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">A realidade, percebida, até porque tudo o que definimos como
realidade não passa da nossa percepção subjetiva, como já se sabe desde os
tempos de Lao-Tzu, não é exatamente um campo florido. Ela é muitas vezes feia,
sempre incerta e sujeita e emergências e raramente lógica. O que não significa
que passamos a vida nos escondendo dela.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Você que agora está me lendo mediado por um recurso digital,
por mais “realista” que ele possa parecer, está diante de uma distorção da
realidade. O mais próximo que poderia estar dela seria conversando pessoalmente
comigo (e mesmo nessa situação, eu não seria um ser real, mas aquele que você
estaria percebendo).</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Você está lendo o que eu represento, não o que eu sou. De
qualquer forma, espero que essa representação me permita provocar seus
neurônios.</span></p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-40385659882632963322022-05-10T16:46:00.001-03:002022-05-10T16:46:39.869-03:00O pecado da escuta<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuJjGWf8XGKE_zW_WOC_OOcU-0fzNEpiC1YxzaSrS6CertCw-cTqNCZo8WZOe4ki3kpK6x5OmIjOn88unK2u8mPBWOG2bIzjuT9hNDCBo6Elap_G8xRDnEw0FtIzQdIORGBwfAakb3-OypRf-f72ERq1CYXkRJB8-JY8LoOP8xOIR5xa_FFhqh2SVUog/s1200/expulsos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="975" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuJjGWf8XGKE_zW_WOC_OOcU-0fzNEpiC1YxzaSrS6CertCw-cTqNCZo8WZOe4ki3kpK6x5OmIjOn88unK2u8mPBWOG2bIzjuT9hNDCBo6Elap_G8xRDnEw0FtIzQdIORGBwfAakb3-OypRf-f72ERq1CYXkRJB8-JY8LoOP8xOIR5xa_FFhqh2SVUog/s320/expulsos.jpg" width="260" /></a></div><br /><span style="background-color: white; font-size: 14pt;"><br /></span><p></p><p><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Dizem os relatos bíblicos que, no princípio, Deus criou Adão
e Eva e os instalou no paraíso, local onde poderiam usufruir de todas as
coisas, exceto comer do fruto de duas árvores: a do conhecimento e a da vida.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Como bons ouvintes, o casal
escutou a recomendação e a obedeceu durante um tempo que as escrituras não
definem a duração. Naquelas tardes fagueiras, à</span><span style="font-size: 14pt;">
</span><span style="font-size: 14pt;">sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais! Como eram belos os dias.
Eles escutaram e viram que isso era bom.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt;">Até o dia que apareceu um
certo diabo disfarçado de serpente e começou a sussurrar no ouvido de Eva que o
fruto das árvores deveria ser muito melhor que qualquer outra jabuticaba que
eles comessem, além disso, se ela provasse tal maravilha, ela se tornaria igual
a Deus. Eva escutou atentamente esse discurso e não só experimentou do fruto
proibido como também foi contar a novidade para Adão, que também escutou e
também atacou a especiaria.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt;">Cabum!! Apareceu o
todo-poderoso e perguntou o que eles tinham aprontado (como se Ele já não o
soubesse). Eles tentaram se esconder, mas não teve jeito, levaram a bronca e
foram expulsos do jardim do Éden para sempre e perderam a mamata.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt;">A partir daí tiveram que
garantir as refeições com o suor do seu rosto, enfrentar chefes abusivos, ficar
sem retorno dos recrutadores e candidatar-se a vagas de emprego em plataformas
automatizadas. A vida virou um inferno. Concluíram que tinha cometido um grande
pecado, o de escutar a serpente.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt;">Com o passar dos milênios,
seus descendentes, aos poucos, foram esquecendo da serpente, mas mantiveram no
seu inconsciente coletivo a certeza de que escutar era pecado, e dos piores. À
medida que o tempo foi passando desenvolveram um padrão (alguns chamam isso de
evolução) que consiste em só se interessarem por aquilo que lhes diz respeito,
e de só ouvirem o que manda o seu coração, até porque, depois de Freud,
descobriram que a cabeça não apita lhufas.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt;">Talvez por influência de
alguns escritores vitorianos, apegaram-se aos monólogos, que é o padrão das
conversas do nosso tempo. Eu falo, falo, falo (e sempre a meu respeito) e
quando o outro se atreve a abrir a boca, eu finjo que estou ouvindo, mas nunca
estou escutando (como se o robô do Will Robinson, estivesse falando: Pecado!
Pecado!)</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt;">O hábito ataca até mesmo as
conversas virtuais. Ninguém responde nada para ninguém, até porque ninguém vai
prestar atenção, e quando o outro se cala, retomamos o nosso assunto a partir
de onde tínhamos parado antes dessa brutal interrupção.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt;">Alguns poucos descrentes do
conceito de pecado ainda se aventam a escutar os outros, mas são raros. Outros
insistem que precisamos reaprender a escutar, uma heresia inominável que atenta
contra a pureza da não escuta.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt;">Tudo por causa de Adão, que
jogou a culpa na mulher. Ela, por sua vez, jogou a culpa na serpente. Mas a
transferência de culpa é outra questão de inconsciente coletivo que fica para
os próximos capítulos.</span></p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-12805174430682870402022-05-05T12:58:00.003-03:002022-05-05T12:58:30.765-03:00A ditadura das séries<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgykf66-vZcrEs1UhXQ_ikS6BKUXUtdh3WPVZgjQIXxndPQrKjlsJdkHo8kV4ACrmr8oITPIZAtMCPBbrAUUVDnLj53HmuGZr8KmNmBY0VuqM-FtkPo8s7y6gSncHC_u-zj2j3BAGcYAcdMq5gpA2aA5dCGxF2jJblnfoistoGoNFSIM7uHTv8TDFQzA/s1200/mercado-streaming-brasil.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="675" data-original-width="1200" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgykf66-vZcrEs1UhXQ_ikS6BKUXUtdh3WPVZgjQIXxndPQrKjlsJdkHo8kV4ACrmr8oITPIZAtMCPBbrAUUVDnLj53HmuGZr8KmNmBY0VuqM-FtkPo8s7y6gSncHC_u-zj2j3BAGcYAcdMq5gpA2aA5dCGxF2jJblnfoistoGoNFSIM7uHTv8TDFQzA/w400-h225/mercado-streaming-brasil.jpg" width="400" /></a></div><br /><p> <span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Na minha adolescência e início de juventude a novela das 10
da rede Globo era considerada cult (em oposição às dos demais horários que eram
consideradas bregas), especialmente porque eram aqueles que “transgrediam” nos
temas políticos e de comportamento sexual, bastante reprimidos nos anos 70 e
começo dos anos 80. A maior parte delas foi escrita por Dias Gomes, mas também
incluía outros nomes importantes como Jorge Andrade.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Eu não assistia nenhuma delas. Por dois motivos básicos, o
primeiro é que sempre abominei novelas, o segundo é que estudando de manhã, com
aulas começando às 7h30 não dava para ficar acordado até tarde ou acabaria
dormindo na sala de aula. O que me fazia um peixe fora d´água em muitas
conversas.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Mais de quarenta anos se passaram e eu continuo nadando no
seco por não acompanhar as novelas contemporâneas que ganharam o epíteto de
séries (mas continuam sendo, formalmente, folhetins ao melhor estilo do século
XIX). Inclusive as próprias novelas da Globo, depois passaram a se chamar de minisséries.
Apesar de atualmente poder me dar ao luxo de dormir mais tarde, eu continuo
abominando o gênero.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">De qualquer forma, menos do que a questão de estar por fora
da onda, o que me incomoda é a ditadura cultural das séries. Me explico.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Eu não sou exatamente uma pessoa afastada do mundo. Leio pelo
menos dois jornais por dia (ainda que não assista aos jornais televisivos),
acompanho publicações de uma infinidade de newsletters profissionais ou não,
leio vorazmente muitos livros por ano, acompanho a cena musical de vários
gêneros e até estou a par de alguns resultados esportivos. Ou seja, não sou uma
pessoa a quem falta assunto para conversar.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">O problema é que, seja lá qual for o assunto a respeito do
qual esteja conversando, dez em cada dez vezes, sou obrigado a ouvir: “...ah,
mas então você precisa ver a série X do streaming Y”. O que me leva à
constatação de que o nosso repertório cultural está cada dia mais limitado a
uma única fonte de entretenimento e de conversas.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Não que fosse tão diferente no passado quando elas também
eram limitadas pela televisão ou pelas capas das revistas semanais, mas são
cada vez mais raras as vezes que alguém me recomenda um livro, um artigo, um
filme comum, talvez pelo fato de que sejam cada vez menos as pessoas que os
consomem.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Para piorar, aquilo que nos é recomendado, seja pelo
algoritmo do aplicativo ou pelos amigos e conhecidos, se resume àquilo que
corresponde ao nosso gosto, aquilo que vamos curtir, sempre mais do mesmo, ou o
que o filósofo Byung-Chul Han chama da </span><i style="font-size: 14pt;">Komaglozen </i><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">(assistir sem parar),
algo que ele compara a proliferação de células cancerígenas ou de acúmulo de
gordura. E esse sem parar beira o limite, quando não o ultrapassa, de ficarmos
inconscientes. Com isso o nosso universo experiencial torna-se, todos os dias,
mais estreito, mais raso, mais emburrecedor.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Aqui também é uma raridade receber alguma recomendação que
contraponha o que pensamos, que nos leve a questionar as nossas crenças e
afirmações. Muitos acham que oferecer o contrário é provocação, outros tantos
acham que receber esse tipo de sugestão é ofensivo.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Termino repetindo um trecho de Telemorfose do Jean Baudrillard
que citei recentemente em outro texto: “...vale como metáfora universal do ser
moderno enclausurado no seu espaço pessoal, que não é mais o seu espaço físico
e mental, mas seu universo tátil e digital, o homem binário apanhado no
labirinto das redes, o homem convertido em seu próprio rato branco de
laboratório...um teste perpétuo ao qual nós estamos submetidos como cobaias
numa interação mental automática”</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Não esquecendo o fato de que os milhares de ratos de
laboratório serão usados uma única vez e, imediatamente após servirem aos
propósitos dos cientistas, são mortos ou fornecidos como alimentos para cobras.</span></p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-74024871066287384912022-04-05T11:43:00.006-03:002022-04-05T15:24:20.091-03:00Parafuso espanado<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh730qwWGzL2-erP5_faYUZbypWFKkdHeGxYQx-ZAq3hdOTBmpCGU8Xafkny7c1QCpzpZ6vQktcaSj2h7TBh3gwhWmj3zWw87WqNBpv4mAq8C0uItOyvDRntpia3F-foBB6MmchN9gBnNS8o4JOkuF9QbMi-KdzkAhiY_H9Bk-KsaQiaIabilLScimQwQ/s1024/espanado.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="802" data-original-width="1024" height="314" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh730qwWGzL2-erP5_faYUZbypWFKkdHeGxYQx-ZAq3hdOTBmpCGU8Xafkny7c1QCpzpZ6vQktcaSj2h7TBh3gwhWmj3zWw87WqNBpv4mAq8C0uItOyvDRntpia3F-foBB6MmchN9gBnNS8o4JOkuF9QbMi-KdzkAhiY_H9Bk-KsaQiaIabilLScimQwQ/w400-h314/espanado.jpg" width="400" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="background: white; color: black; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext;"><span style="font-family: arial;">Quando um pensador é citado em diferentes livros de diferentes
autores que eu gosto eu costumo ir atrás da fonte para saber mais a respeito.
Foi o que aconteceu com o romeno Emil Cioran. Ele é conhecido por ser um
filósofo mais pessimista que Schopenhauer, o que não é exatamente muito fácil,
quase uma proeza, eu diria. É um cético radical.</span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: arial;">Caso você não saiba ou não
lembre-se, o ceticismo é um sistema filosófico fundado pelo filósofo grego
Pirro (318 a.C.-272 a.C.), que afirma que o homem não tem capacidade de atingir
a certeza absoluta sobre uma verdade ou conhecimento específico. No extremo
oposto ao ceticismo como corrente filosófica encontra-se o dogmatismo, cheio de
certezas. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: arial;">O que não deixa de ser
curioso, uma vez que ao afirmar peremptoriamente que não temos certeza de nada,
acaba por criar o dogma da incerteza absoluta. Uma contradição inevitável.</span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: arial;">Para entender melhor as
teses de Cioran fui atrás de algo a respeito dele. Encontrei um livro que se
propõe a ser uma introdução ao seu pensamento (cujo autor e título me dou ao direito
de não reproduzir) e cheguei a algumas conclusões.</span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: arial;">A primeira, sobre o livro
em si, é que é muito mal escrito e pessimamente revisado, a ponto de que uma
palavra recorrente no pensamento do filósofo, que é uma proparoxítona, aparecer
9 em cada 10 vezes sem acentuação. De qualquer forma, um leitor compulsivo como
eu, é capaz de suplantar essa barreira.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: arial;">A segunda é a pobreza de teses
e de argumentos que sustentem essas teses. Pode até ser que essa pobreza seja
reflexo do autor que comenta o filósofo, mas o conteúdo me lembrou um parafuso
espanado, que gira, gira, gira e não sai do mesmo lugar. Aparentemente, pelo
que vi em outras fontes, o problema é do próprio Cioran.</span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: arial;">O nos que leva à terceira
questão: supostamente tendo sido influenciado por Schopenhauer e Nietzsche,
Cioran é dado a apresentar suas ideias em formato de aforismos. Segundo os bons
dicionários do ramo um aforismo é um texto ou frase curta e sucinta, típica de
estilos fragmentários, o que não acontece com o romeno. Seus aforismos não são
curtos, nem fragmentários (aliás têm a consistência do samba de uma nota só).</span></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: arial;">Concluindo essas teses, o
livro, no seu final, mostra a defesa insistente de Cioran da prática do suicídio,
o que sempre me gerou uma dúvida existencial: como um pensador defende de forma
tão convicta o suicídio sem nunca tê-lo praticado?</span><o:p></o:p></span></p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-58124072510544885382022-02-09T17:48:00.004-03:002022-02-10T10:31:24.790-03:00Em busca da irrealidade perdida<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiSaUa6MkALsUFj43bFEQBKQUsQ14y1tXXjmLwo106KRAY-UrWyhXETy2L85gE9dY1dcR0SBF8gczD_CSzAbYFlfPv70KFdsWKIgIUY4VE31Yd5tFyZCg0_wNXJJw6SbUlQj0OpwQkM5nEgY09TAfKvCX0PpKzCo6bCWRNtjSJlS9eMWLgAcscidHzxvg=s400" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="347" data-original-width="400" height="348" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiSaUa6MkALsUFj43bFEQBKQUsQ14y1tXXjmLwo106KRAY-UrWyhXETy2L85gE9dY1dcR0SBF8gczD_CSzAbYFlfPv70KFdsWKIgIUY4VE31Yd5tFyZCg0_wNXJJw6SbUlQj0OpwQkM5nEgY09TAfKvCX0PpKzCo6bCWRNtjSJlS9eMWLgAcscidHzxvg=w400-h348" width="400" /></a></div><br /><p style="text-align: center;"><br /></p><p style="text-align: right;"> <i style="text-align: right;"><span style="background: white; font-size: 14pt;">Humankind can´t bear
very much reality</span></i></p>
<p align="right" class="MsoNoSpacing" style="text-align: right;"><i><span style="background: white; color: black; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext;">T.S. Eliot – Four quartets
</span></i><i><span style="background: white; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background: white; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background: white; font-size: 14pt;">A humanidade não suporta muita realidade, constatava Eliot em
1936, o tempo passado e o ponto futuro, o que será e o que já foi apontam para
o mesmo fim que é sempre o presente. Existir é ser algo temporário, o homem não
passa de um estranhamento que ele faz de si mesmo projetando-se no passado, no
presente e no futuro, as três êxtases como definiria Heidegger, as três maneiras
de estar fora de si mesmo.</span><span style="background: white; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">O tempo presente é a versão trazida a valor presente do
cavaleiros do apocalipse (a escatologia bíblica, favor não confundir com os
cavaleiros do zodíaco): a peste, a guerra, a fome e, finalmente, a morte. Essa
é a realidade que explode na capa dos jornais, nas TVs, nas redes sociais e nos
grupos virtuais, todos os dias.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">O passado não passa de uma memória irreversível, pode ter
sido bom ou ruim, mas ficou para trás.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">O que nos resta é o futuro e a eterna esperança de encontrar
nele alguma esperança redentora que seja diferente da realidade presente. Por
isso sempre estamos em busca das tendências para o futuro, especialmente
aquelas em que seja possível fugir da realidade.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Como bem observou o Courtnay Guimarães, o metaverso é apenas
mais uma forma de fuga da realidade, mais uma tentativa de lidar com a falta de
significado existencial para a vida.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Desde antes da fala de
Eliot, a humanidade está em busca desse lugar onde não tenha que lidar com a
realidade. O teatro grego já usava do recurso da catarse ( experimentar da
liberdade em relação a alguma situação opressora) como uma forma de purificação
ou purgação da realidade, outros se limitavam apenas a fugir através do uso de
alucinógenos (e muitos ainda se apegam a eles nos dias de hoje).</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">O mundo digital trouxe novas ferramentas para a fuga. Desde
as anacrônicas salas de bate papo, onde as pessoas já se identificavam com
avatares, passando pela experiência proto-metaverso do Second Life que, por
sinal, fracassou à medida que a realidade começou a povoá-lo.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">De certa forma é uma profecia previsível supor que quando a
vida real invadir o metaverso (e, de certa forma, já está fazendo isso),
começaremos uma nova busca de outra forma de redenção. Claro, turbinada por
alguma nova tecnologia, como menciono no meu “<a href="https://www.amazon.com.br/dp/B09PTGTQRH/ref=sr_1_1">O mito de um mundo melhor</a>”.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Alfred Whitehead, filósofo do começo do século XX (assim como
Eliot) já definia isso como a falácia da concretude extraviada, ou fora do
lugar. Segundo ele a nossa concepção do universo (e por extensão da vida) está
solidamente construída em termos de alta abstração e tomamos, por engano, as
nossas abstrações por realidades concretas.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">É óbvio que essa minha peroração não vai mudar em nada a
expectativa que se está construindo em torno do metaverso (eventualmente ele
será uma ferramenta interessante para determinados fins utilitários), mas
tampouco o metaverso vai mudar o vazio existencial da humanidade.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">O resto, já diria o príncipe da Dinamarca (onde havia uma realidade podre), é silêncio.</span></p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-52280035423360880422022-01-24T15:17:00.004-03:002022-01-24T17:09:04.318-03:00O olho de talião<p style="text-align: right;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjdOYlwyXWs7RR4w1lgvykUrfzalZtI-msd-BMwiK-gO7c4wk_EbG7M_jMbSspCHYBRvT6Tmg4-aW7kxy6q0IEA_vBXLS-4oCF_1nfJr-1DxzW0JkGCL_o7hWP_qmZAD7I99czaD0hpqsZKnxiLQoE42l4R8QCtb23UB3ocHjsd8yiYCu8GZaAd3xI5Sw=s448" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="299" data-original-width="448" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjdOYlwyXWs7RR4w1lgvykUrfzalZtI-msd-BMwiK-gO7c4wk_EbG7M_jMbSspCHYBRvT6Tmg4-aW7kxy6q0IEA_vBXLS-4oCF_1nfJr-1DxzW0JkGCL_o7hWP_qmZAD7I99czaD0hpqsZKnxiLQoE42l4R8QCtb23UB3ocHjsd8yiYCu8GZaAd3xI5Sw=w400-h268" width="400" /></a></div><br /> <p></p><p style="text-align: right;"><i style="text-align: right;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">para Jayme Serva, voz que clama no
deserto</span></i></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Autoritarismo
não é exatamente algo recente na história da humanidade, assim como nunca foi
privilégio de alguma corrente ideológica, nem de raças tribos, povos ou nações,
apenas variações de formas de sua aplicação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">O exercício
da “otoridade”, a prática de arbitrariedades autoritárias por pessoas que se
acreditam imbuídas de algum poder, comumente na burocracia empoderada atrás de
um escrivaninha, também não chega a ser algo inédito ou sinal dos tempos, basta
ler um pouco da literatura a partir do século XVIII (antes disso as
“otoridades” não davam seu imprimatur a quem as contestava) ou da história
desde sempre, para encontrar exemplos de abuso desse suposto poder.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Se ainda não
existe, alguém que se dedicasse a estudar os micro autoritarismos provavelmente
poderia escrever uma enciclopédia volumosa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">E, por mais
que isso nos pareça absurdo, sempre surgem novos autoritarismos, seja pela
mudança da estrutura social, seja pela cultura dominante de cada época.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Em um mundo
onde as pessoas estão cada vez mais autocentradas e criando novos guetos, não é
de surpreender que, apesar do discurso bom-mocista, a alteridade e o respeito
ao contraditório caminhem a passos largos para o pântano – até porque um mísero
brejo não seria capaz de acolher todas essas novas “otoridades”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">A diferença
básica é que ao invés de prender e arrebentar os que lhe são diferentes ou
contrários, a prática contemporânea é a de cancelar e tentar acabar com a
reputação do discordante, até por que os menos convictos se pelam de medo de
ficar de fora do universo digital.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">As novas
tecnologias que deveriam aproximar as pessoas ao invés de enriquecer o
processo civilizatório, estão provocando uma regressão acelerada. A cada dia
estamos mais próximos das práticas medievais, como já bem percebeu Cédric
Durand. Os feudos se multiplicam e os novos senhores feudais tornam-se a cada
dia mais violentos e cruéis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Inquisição,
caça às bruxas, fogueiras virtuais e muita tortura nas masmorras das redes
sociais é o conjunto de riscos que está sempre pairando sobre a cabeça daqueles
que ousam discordar do discurso oficial da igreja da modernidade. E, como a
modernidade é líquida, ninguém sabe se o alinhamento de hoje não será a heresia
de amanhã. Haja <i>mea culpa.<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Com esse
passos largos, agora turbinados pela velocidade exponencial das redes, não
vamos demorar muito para sairmos da idade média e chegar ao código de Hamurabi
e sua conhecida lei de talião, afinal basta voltar até 1700 a.C. Daí para o
neandertal é só mais um pulinho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Salve-se
quem puder!<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="line-height: 107%;">Descrição da imagem: foto da masmorra do Castelo de Rothenburgo na Alemanha e seus instrumentos de tortura</span></p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-1418648000263034072021-12-29T11:16:00.001-03:002021-12-30T19:53:37.148-03:00Rizoma, micélio e outros fungos quaisquer<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj9jupieMw0MIveJGiBvOLz03t8p9fzx-W4V348KqgFEy9Vrf4O48UvGVqvD3T5NKdy7PdWkhWzTBWrAqyVWXkFhoUTHypS33CoBcdsS0I-OtgM-W0gCBqcHipt3kgTalXICv57LsVu3P1tfHaFnC3m-lH-V-wGo5q3q87ay1A83whbX3VtBP1oaCv2nQ=s937" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="937" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj9jupieMw0MIveJGiBvOLz03t8p9fzx-W4V348KqgFEy9Vrf4O48UvGVqvD3T5NKdy7PdWkhWzTBWrAqyVWXkFhoUTHypS33CoBcdsS0I-OtgM-W0gCBqcHipt3kgTalXICv57LsVu3P1tfHaFnC3m-lH-V-wGo5q3q87ay1A83whbX3VtBP1oaCv2nQ=w400-h214" width="400" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Em 2005, o micologista
americano Paul Stamets publicou seu livro <i>Mycellium Running</i>, </span><span lang="PT" style="font-size: 14pt; mso-ansi-language: PT;">um manual para o resgate
micológico do planeta. Foi exatamente isso que você leu: cultivar mais
cogumelos pode ser a melhor coisa que podemos fazer para salvar o meio ambiente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">25 anos antes, Gilles Deleuze e Feliz Guattari haviam publicado </span><i style="font-size: 14pt;">Mil
Platôs</i><span style="font-size: 14pt;">, quase um tratado clássico de filosofia, que começa pela abordagem
do que vem a ser um rizoma, propondo quase um jogo infinito</span><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Micelio/Mic%C3%A9lio%5eJ%20rizoma%20e%20outros%20fungos.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="font-size: 14pt;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span></span></a><span style="font-size: 14pt;">,
sem começo, meio ou fim.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Há cerca de dois meses, recebi pelo grupo de complexidade que participo, um
artigo bastante extenso de Brandon Quitten chamado </span><i style="font-size: 14pt;">“Bitcoin is the mycellium
of money”</i><span style="font-size: 14pt;"> onde ele se baseia no livro de Stamets para traçar uma longa e
detalhada analogia entre o micélio</span><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Micelio/Mic%C3%A9lio%5eJ%20rizoma%20e%20outros%20fungos.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="font-size: 14pt;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span></span></a><span style="font-size: 14pt;">
e o mundo Bitcoin, e aqui cabe uma ressalva importante: Quitten faz esse
paralelo exclusivamente em relação ao Bitcoin e não ao universo de
criptomoedas, ainda que no decorrer do texto mostre como a existência de outras
criptomoedas acaba por fortalecer a imunidade do Bitcoin.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Assim que comecei a ler o
artigo, imediatamente o texto de Deleuze e Guattari me veio à lembrança. Será
que a dupla francesa já tinha estudado o reino fungi? Provavelmente não, até
porque o rizoma, por eles definidos era aquele é derivado da palavra grega
que significa “um punhado de raízes”. Normalmente, rizomas são
confundidos com raízes, podem parecer raízes, mas são, na verdade, hastes de
plantas modificadas e avançadas. O rizoma é um caule subterrâneo
horizontal que envia brotos e raízes, e essa horizontalidade é apenas uma das semelhanças
que tem com o micélio.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">O que segue abaixo são
reflexões a respeito dessas duas estruturas naturais, sem o objetivo de traçar
regras ou modelos a serem aplicados de forma utilitária. Deixo ao leitor o
desafio de tirar suas próprias conclusões sobre eventuais usos práticos.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">O texto também não tem
como proposta reproduzir as constatações de Brandon Quitten sobre o universo
Bitcoin, se esse é um tema do seu interesse recomendo que leia o artigo
original que é excepcional.</span><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Micelio/Mic%C3%A9lio%5eJ%20rizoma%20e%20outros%20fungos.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="font-size: 14pt;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 14pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span></span></a></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span><b><span style="font-size: 14pt;">Similaridades entre
rizoma e micélio</span></b></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 14pt; text-indent: -18pt;">1.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-size: 14pt; text-indent: -18pt;">Conexão</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 14pt;">Toda vez que uma
multiplicidade se encontra presa numa estrutura, seu crescimento é compensado
por uma redução das leis de combinação. O rizoma extrapola essa lógica uma vez
que qualquer ponto de uma rizoma pode ser conectar a qualquer outro. É
justamente essa capacidade de conexão que garante seu crescimento e expansão.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 14pt;">Da mesma forma, o micélio
é uma estrutura radicial que é encontrada em todo o planeta, mesmo nas piores
condições ambientais, com milhões de terminais sensíveis e ativos.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 14pt; text-indent: -18pt;">2.<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-size: 14pt; text-indent: -18pt;">Descentralização e horizontalidade</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Diferentemente de
organizações humanas, tanto o rizoma como o micélio são completamente
descentralizados, seja no uso de recursos, na sua reprodução e em suas formas
de defesa. Assim como as outras formas de redes descentralizadas, como a
matéria escura ou nossas redes de neurônios, eles criam um sistema de consenso
entre as pontas, que estão na linha de frente com o ambiente e, portanto, o
conhecem melhor o que permite tomadas de decisão mais efetivas.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Sem um controle central, podem
resistir ao ambiente como seres unicelulares ou agregados como estruturas
reprodutivas multicelulares. Nesse contexto de adaptação moldável resistem aos
ecossistemas mais competitivos do planeta e têm a capacidade de “roubar”
vantagem competitiva dos seus vizinhos.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Ambos se desenvolvem de
forma horizontal, não recebem seus elementos de cima para baixo, mas os
absorvem de espécies diferentes. Quando um outro organismo gera uma inovação,
eles capturam essa informação genética e a reciclam em elementos base.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l1 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">3.<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14pt;">Multiplicidade<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Um rizoma ou um micélio
não tem sujeito nem objeto, somente determinações e relações com o todo, não
existe uma unidade de poder. Essa multiplicidade se define pelo externo, como
uma linha abstrata ou uma linha de fuga, que Deleuze e Guattari definem como
desterritorialização.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Todo rizoma tem segmentos,
estratos, territórios, significados e atributos, mas também linhas de
desterritorialização pelas quais ele foge sem parar. Nada muito diferente dos
fungi, que têm mecanismos para quebrar e defender seu próprio sistema.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l1 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">4.<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14pt;">Cartografia e decalcomania<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Um rizoma, ou um micélio,
não podem ser justificados por nenhum modelo estrutural ou gerativo, eles não têm
um eixo genético nem uma estrutura profunda. Não seguem o modelo binário da
árvore que se desenvolve a partir de uma raiz. A lógica da árvore é a da
reprodução do que já existe (decalque) com um eixo que a suporta.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">O rizoma/micélio é um mapa
voltado para a experimentação sobre o real (contexto). O mapa não reproduz uma
estrutura fechada sobre si mesma, ele a constrói. Assim como o nosso cérebro
não é uma matéria enraizada, nem ramificada (ainda que alguns insistam no uso
desses termos).</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><b><span style="font-size: 14pt;">Principais
características</span></b></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo2; text-indent: -18pt;"><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">1.<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14pt;">Conectam um ponto qualquer a outro ponto qualquer<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo2; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">2.<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14pt;">Não precisam ter similaridade de traços entre os
pontos<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo2; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">3.<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14pt;">Não se definem nem pelo uno, nem pelas partes
(múltiplo). Não são feitos de unidades, mas de dimensões.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo2; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">4.<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14pt;">Não tem começo ou fim, só meio<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo2; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">5.<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14pt;">Não são sujeitos nem objetos<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo2; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">6.<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14pt;">São metamórficos<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo2; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">7.<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14pt;">Não tem pontos de referência, mas pontos de fuga, de desterritorialização<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo2; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">8.<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14pt;">Não se autorreproduzem a partir de uma semente<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo2; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">9.<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14pt;">São sistemas acentrados, não hierárquicos e definidos
pela circulação dos seus estados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><b><span style="font-size: 14pt;">Conclusão inconclusiva</span></b></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Um rizoma (assim como um
micélio), usando o termo de Deleuze/Guattari é feito de platôs. Toda sua
multiplicidade é conectável com outras hastes ou células subterrâneas de
maneira a se estenderem indefinidamente (não é à toa que o reino fungi é o
maior reino do planeta).</span><span style="font-size: 14pt;"> </span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Se você conseguiu chegar
até aqui, espero que tenha gerado uma série de abstrações possíveis para o seu
cotidiano, suas práticas profissionais e seus negócios.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Não custa lembrar que os
fungos foram os únicos seres vivos que conseguiram sobreviver aos 5 grandes
eventos de extinção em massa do planeta.</span></p>
<div style="mso-element: footnote-list;"><!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Micelio/Mic%C3%A9lio%5eJ%20rizoma%20e%20outros%20fungos.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Para entender o jogo infinito recomendo o conceito original de James P. Carse.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoNoSpacing"><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Micelio/Mic%C3%A9lio%5eJ%20rizoma%20e%20outros%20fungos.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> <span style="background: white; color: black; font-size: 10pt; mso-color-alt: windowtext;">O micélio é
nome que se dá ao conjunto de hifas de fungos multicelulares. Cada hifa é um
filamento microscópico. O micélio auxilia vegetais na sustentação e
absorção de nutrientes e se desenvolve no interior do substrato.</span><o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoNoSpacing"><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Micelio/Mic%C3%A9lio%5eJ%20rizoma%20e%20outros%20fungos.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> <a href="https://www.brandonquittem.com/bitcoin-is-the-mycelium-of-money/"><span style="font-size: 10pt;">https://www.brandonquittem.com/bitcoin-is-the-mycelium-of-money/</span></a><span style="font-size: 10pt;"> </span><o:p></o:p></p>
</div>
</div>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-50104632956377676272021-12-15T15:59:00.002-03:002021-12-16T11:08:59.290-03:00Um estranho pretérito<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEivrzkPlB26HHGksiTtX5huE4p6og7uJmLIPYSCOiu0haLRQNre3G4mxs2EmVZG06W1-QVUIMUXeT2yOYkkSWYBv9XVOyXUue5YUSL1irPAG5j_qHtlihzyFCl9FtCZpj1wSw6ig9VaaJeUHxNXHKwpHd4l1aHkMLG5ZAPdaWLmDRu2Ufc1WK22njbV7Q=s300" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="299" data-original-width="300" height="299" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEivrzkPlB26HHGksiTtX5huE4p6og7uJmLIPYSCOiu0haLRQNre3G4mxs2EmVZG06W1-QVUIMUXeT2yOYkkSWYBv9XVOyXUue5YUSL1irPAG5j_qHtlihzyFCl9FtCZpj1wSw6ig9VaaJeUHxNXHKwpHd4l1aHkMLG5ZAPdaWLmDRu2Ufc1WK22njbV7Q" width="300" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Para mim, um dos mistérios
mais inescrutáveis da nossa língua sempre foi a existência de um tempo verbal
que atende pela alcunha de futuro do passado (ou do pretérito, que é exatamente
a mesma coisa). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Conheço muitas pessoas que
sofrem de acrasismo*, outras de hipercrasismo*. Outros que vão de encontro a,
quando deveriam ir ao encontro de, e vice-versa. Alguns acham que nunca veem o
que esperam quando eles vêm assistir ao espetáculo da última flor do Lácio. Também,
quem mandou que ela fosse burra e bonita? Eu sobrevivo bem até diante das
mesóclises e não sofro com os verbos defectivos.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Agora, futuro do passado? O
que exatamente isso poderia significar?</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Mas, como diriam as
organizações Tabajara, os meus problemas estão resolvidos, depois de ler alguns
textos que circulam nas redes sociais, especialmente aquelas dedicadas ao
público corporativo.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Em um texto publicado
nessa semana (portanto, ao apagar das luzes de 2021), o autor informava que até
2020 (sic) o Brasil deveria superar a barreira das 600 fintechs. Como assim
cara pálida? Será que a recém descoberta da reversão do tempo quântico já está
em curso e estamos voltando no tempo?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Fora outros que insistem
em fazer previsões para 2022 de coisas que já existem ou situações que já
aconteceram. Esse sim é o verdadeiro futuro do pretérito.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Enquanto as mães dinás e
demais fornecedores de amarrações e garantias de futuro proliferam em cartazes
pregados nos postes (ou serão posts?), a abúlica caterva que sobrevive às
custas de seu atavismo social consome com edacidade essas previsões sem nenhuma
provisão.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">E assim caminhamos
solenemente em direção ao abismo.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 18.6667px;">* não perca tempo buscando essas palavras no dicionário, acabei de inventá-las</span></p><p class="MsoNoSpacing"><b>Descrição da imagem</b>: modelo visual de reversão quântica </p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-22351807657818787882021-11-03T18:18:00.003-03:002021-11-04T15:05:32.301-03:00Inquisições, gulags e cancelamentos<p> </p><p class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;"><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvPyAf2yNLNxCYIysv7ivOXON1GUpFyIiO4xAC5YBI-ewr_sMWN0srzNqXEK8hsS3MfMuuikJOcyYyJvy647lnpVMuynfr1fRav7DNh9RFPfBCjb-C9CbciPt7QLdTqosagLC28kp-onva/s300/execu%25C3%25A7%25C3%25A3o3b-na-fogueira-253x300.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="253" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvPyAf2yNLNxCYIysv7ivOXON1GUpFyIiO4xAC5YBI-ewr_sMWN0srzNqXEK8hsS3MfMuuikJOcyYyJvy647lnpVMuynfr1fRav7DNh9RFPfBCjb-C9CbciPt7QLdTqosagLC28kp-onva/s0/execu%25C3%25A7%25C3%25A3o3b-na-fogueira-253x300.jpg" width="253" /></a></i></div><i><br /><span style="background: white; color: black; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext;"><br /></span></i><p></p><p align="right" class="MsoNoSpacing" style="text-align: right;"><i><span style="background: white; color: black; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext;">Ninguém na terra tem a
coragem de ser aquele homem. Jorge Luís Borges – O deserto</span></i><i><span style="background: white; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">A primeira condição de uma dialógica cultural, nos ensina
Edgar Morin no 4º volume de seu “O Método, é a pluralidade e diversidade dos
pontos de vista. Ainda que não sejamos carentes nem de pluralidade e nem de
diversidade e, consequentemente repletos de pontos de vista variados, nossa
construção social nos imprime um selo na testa (e na alma) que nunca nos
permitiu que esse diálogo de fato se efetivasse.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background: white; font-size: 14pt;">Mudam as condições históricas, comportamentais, ambientais e
sociais. Muda a dinâmica do poder, mudam as leis, muda até o tão falado zeitgeist.
Só não muda o fato de que continuamos a ser uma humanidade dividida entre
perseguidos e perseguidores – até os neutros são considerados opressores pelos
perseguidos e coniventes pelos perseguidores. Isso quando não somos
surpreendidos pelos opressores alegando que são perseguidos, com um discurso
vitimista pedindo proteção.</span><span style="background: white; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;"></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="background: white; font-size: 14pt;">Ainda que todas as inquisições do passado tenham sido
promovidas por grupos dominantes (ou minoritários que tornaram-se dominantes e
decidiram apagar o passado), hoje elas são promovidas indiscriminadamente por bandos
de todos os tamanhos, afinal, não se promove perseguição de maneira solitária:
é a suposta segurança que dá a um coletivo a percepção de poder. Que o digam as
torcidas de futebol.</span><span style="background: white; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">O diálogo cultural, que enriqueceria a todos através das suas
trocas de informações, ideias e conhecimentos, gera um processo de entropia
onde o calor da efervescência cultural aponta para renovadas eras do gelo.
Temos uma miríade de exemplos que apontam para tempos de estagnação ou de
conflitos sangrentos quando o desenvolvimento de críticas recíprocas foi
impedido.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Se, no passado, aqueles que eram considerados desviantes da
cultura estabelecida foram presos, condenados a trabalhos forçados,
institucionalizados, torturados, queimados, hoje, em tempo digitais eles são
cancelados (talvez apenas um eufemismo para a possibilidade de “liquidar” com
nossos opositores) em um processo descentralizado onde jogam, ao mesmo tempo, o
poder institucional e as facções representativas de todas as tribos.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">O pouco que temos de evolução artística, científica, cultural
é resultado de mentes desviantes. Os loucos, como eram denominados a seu tempo.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Condenamos todo tipo de intolerância, usando como argumento a
nossa própria intolerância e, se no passado, esses intolerantes eram os
inquisidores, defendemos o revanchismo como solução para promover a nossa
própria inquisição. A caça às bruxas medievais ou, como descreve Lilian
Hellman, aos denominados subversivos antiamericanos do macarthismo acontece
todos os dias nas redes. A única coisa que mudou foi a definição de bruxos.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Nosso delírio inconsciente (ou não) é o de promover o
linchamento público de qualquer um que discorde de nós.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Se não nos instruirmos a promover uma revolução mental que
permita aos humanos deixarem de se submeter às palavras de ordem do momento e,
ao mesmo tempo, a refletir sobre os pontos de vista discordantes, jamais
sairemos desse círculo vicioso e viciante.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Mesmo elevando encômios a pessoas como Mandela, Mahatma
Gandhi e Martin Luther King Jr., e reproduzindo bordões insípidos proclamando
que gentileza gera gentileza.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Mas ninguém tem a coragem de ser esse homem.</span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white;"><span style="font-size: x-small;">Descrição da imagem: pintura de Jacques de Molay, líder dos templários sendo preparado para morrer na fogueira.</span></span></p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-46668252452460329792021-09-13T16:45:00.001-03:002021-09-13T16:45:44.270-03:00A metafísica Kantica<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5biO28CuRxv6HpZj2TabI86GmCdWDgiU1Yf05pmPR6uwG01IoJ8EDiHE4oMPfVVQYRr_sYiu-9aAy9d5-KB4XvNe3_ZbW0wG6NjwK1ZBOy1ULlf0TF5WDLf4AX89mkV3SlvmScoRA2Q0B/s512/kant.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="307" data-original-width="512" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5biO28CuRxv6HpZj2TabI86GmCdWDgiU1Yf05pmPR6uwG01IoJ8EDiHE4oMPfVVQYRr_sYiu-9aAy9d5-KB4XvNe3_ZbW0wG6NjwK1ZBOy1ULlf0TF5WDLf4AX89mkV3SlvmScoRA2Q0B/w400-h240/kant.jpg" width="400" /></a></div><br /><i><span style="background: white; font-size: 14pt;">“Uma vez que Kant é um dos mais difíceis dos filósofos
modernos, eu não posso esperar ter conseguido deixar seus pensamentos
inteligíveis ao público em geral. Não me parece claro que todos os aspectos do
seu pensamentos sejam inteligíveis, nem para o próprio Kant.”</span></i><p></p>
<p class="MsoNoSpacing"><i><span style="background: white; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></i><i><span style="background: white; font-size: 14pt;">“Ainda que uma visão geral do sistema kantiano seja comum a
todos os comentaristas da sua obra não existe nenhum acordo a respeito da
força, ou mesmo do conteúdo, dos seus argumentos.”</span></i></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background: white; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Essas duas frase, extraídas do comentário de Roger Scruton
sobre a obra de Immanuel Kant (Kant – A very short introduction. Oxford
University Press. 1982) já seriam suficientes para desistir de tentar entender
a filosofia kantiana, mas eu admito que sou cabeça dura e resolvi enfrentar a
fera.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Reconhecendo minha limitação para enfrentar face a face os
originais do filósofo (e eu até tentei ler numa versão inglesa e depois de
algumas muitas páginas reconheci que sozinho não chegaria a lugar nenhum), fui
em busca de ajuda.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Encontrei, dentre dezenas, dois comentários que me
interessaram. O de Scruton, citado acima, e o de Gilles Deleuze (A filosofia
crítica de Kant, Editora Autêntica. 2018). A escolha heterodoxa foi intencional,
a de olhar o mesmo objeto pelas lentes de dois sujeitos díspares. Também
comecei a ler um de Michèle Crampe-Casnabet, mas era chato demais.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">De um lado Scruton, um inglês fleugmático e conservador que
escreve de forma direta e didática. De outro Deleuze, um francês progressista,
perturbador e hermético. A única coisa em comum entre os dois é terem sido
professores de estética (o que, aliás, faz com que ambos lancem um olhar mais
rigoroso sobre “A crítica do julgamento”)</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Não tenho e nem terei a pretensão de tentar explicar o que
aprendi: conhecimento objetivo, as faculdades superiores, a lógica da ilusão,
os imperativos categóricos, a definição de beleza e do sublime (que Kant herdou
de Burke), filosofia transcendental, lei e política.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Também não pretendo endossar irrestritamente suas ideias, se
os próprios especialistas não entram em um acordo, quem seria eu para dar
palpites?</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Certamente ele tem seus méritos, caso contrário nem estaria
em uma das prateleiras mais altas do panteão dos filósofos. Talvez a principal
tenha sido a sua capacidade de compatibilizar extremos: racionalismo x
empirismo, imanência x transcendência, mente x espírito, dentre outras. E o fez
de forma quase irrefutável.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Sua demonstração de que tudo que é suprassensível não permite
explicações lógicas (não são objeto do conhecimento científico) deveria ser
levada mais a sério.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Por outro lado, Kant também tem os seus pontos fracos,
especialmente nos temas mais rés-do-chão. Política, lei e moral cotidiana são
temas onde ele não só se contradiz várias vezes, como acaba, quase sempre,
saindo da estrada do real e caindo na utopia.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">De qualquer forma, entendo que seja uma leitura fundamental,
nem que seja para entender melhor toda a filosofia, teoria da ciência e
psicologia que ele vai influenciar até os dias de hoje. Além de permitir que
percebamos os traços kantianos que povoam muitos discursos da cultura
ocidental.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="background-color: white; font-size: 14pt;">Em todo caso, prepare-se, perto da metafísica kantica, a
física quântica para brinquedo de criança.</span></p><p class="MsoNoSpacing">Descrição imagem: quadro de Immanuel Kant quando jovem</p><p class="MsoNoSpacing">Esse texto foi publicado originalmente no <a href="https://balaiocaotico.com/2021/09/10/a-metafisica-kantica-por-fabio-adiron/" target="_blank">Balaio Caótico</a></p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-51894698290108105542021-06-14T12:36:00.006-03:002021-06-14T12:38:14.141-03:00Falando de Pascal<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUHd1N7PoLqB6jIBCSsi90TDP-qd0fCU0gDjNJ6uYAwyma19q0WwOeRRtD28hOKBByCtK4bIW2ypvZJo08AWpL586zb0MpgCCicXDZBWaAz-J0lJcDLbVHSupZY7KApVE1T7VYOMIpzmbi/s700/pascal.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="393" data-original-width="700" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUHd1N7PoLqB6jIBCSsi90TDP-qd0fCU0gDjNJ6uYAwyma19q0WwOeRRtD28hOKBByCtK4bIW2ypvZJo08AWpL586zb0MpgCCicXDZBWaAz-J0lJcDLbVHSupZY7KApVE1T7VYOMIpzmbi/w400-h225/pascal.jpg" width="400" /></a></div><br /> Argumentum ad Hominem (literalmente, argumento
contra o homem) é um tipo de falácia de relevância, um subgrupo do que é conhecido
no campo da lógica como falácias não-formais.<p></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Quando não tem mais argumentos para usar, um debatedor
agressivo, em vez de refutar a verdade do argumento adversário, ataca
diretamente o caráter pessoal do oponente.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Blaise Pascal, matemático, físico, inventor, filósofo e
escritor, foi também um teólogo jansenista (doutrina estabelecida por Cornélio
Jansen, bispo de Ipres, fundamentada nos escritos agostinianos e muito
aparentada com os princípios do calvinismo).</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Ainda que até hoje seja um dos pensadores mais relevantes da
história não se tornou uma referência como Descartes, seu contemporâneo e de
quem discordava frequentemente quanto à supremacia absoluta do racionalismo.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Ninguém atribui a uma pessoa o epíteto de “pascaliano”, mas
estamos cercados de pessoas ditas, ou autoproclamadas como cartesianos. O
antropocentrismo humanista não aceita o transcendental. Seja ele o Deus de
Pascal, seja qualquer de outro deus que possa estar acima da supremacia
racionalista do homem.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">“A vida de um homem não é mais importante para o universo do
que a de uma ostra”<a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></a>, escreveu o
filósofo escocês David Hume, outro que se opunha ao conceito do espírito humano
de Descartes.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Ainda que Hume não esteja falando nenhuma inverdade (a
cosmologia do século XX não o deixa mentir), o humanismo e o cartesianismo
continuam firmes e fortes no nosso tempo, a ponto de ser, inclusive, taxado
como uma religião por conservacionistas como Eherenfeld (mesmo que não
encontremos igrejas com a placa de “Igreja do Humanismo”)<a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span></a></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Por mais que as ideias de Pascal sejam brilhantes (e sua
matemática e física sobrevivam até hoje), é intolerável para os membros da
igreja do humanismo aceitarem um pensador que preferia apostar na existência de
Deus (ainda mais de um Deus único e todo-poderoso).</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">É mais intelectual ser ateu (ainda que eu, pessoalmente, entenda
que o ateísmo demande uma forma infinita de fé), ou mais chique se
autodenominar agnóstico, mesmo quando as pessoas que assim se etiquetam não
façam a menor ideia do que seja o agnosticismo e apenas o tomem como um ateísmo
gourmet ou light.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Mas voltemos a Pascal.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><b>A epistemologia de Pascal</b></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">A tese de Pascal de que é necessária a constatação dos
limites do conhecimento<a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[3]</span></a> se contrapõe à metafísica
racionalista, cujo ponto de partida é o Eu cartesiano e se apoia na análise
indutiva relacionada com a experiência empírica.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Sua lógica parte da geometria, ou seja, parte dos princípios
ou axiomas de base dos quais são derivadas outras proposições ou teoremas. A
geometria é uma ciência demonstrativa
cujo principal objetivo é a definição e a demonstração de proposições que
compõem um sistema.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Mas a geometria tem um objetivo impossível: cada nova
proposição definida e demonstração provada exige outras definições e
proposições e essas a outras até o ponto de uma regressão ad infinitum.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Aqui há um paralelo aristotélico: a necessidade de conhecer
a causa que produz um efeito e demonstrá-la de uma forma irrefutável. Uma vez
demonstrado é preciso entender o que provoca a causa anterior até o ponto em
que caímos no mesmo efeito ad infinitum em que os axiomas últimos são
indemonstráveis. </p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Pascal define esses axiomas como “primitivos” que somente podem ser apreendidos pela “luz
natural” (Descartes também supõe a existência de uma compreensão intuitiva ao
lado da racional, mas a coloca sujeita à luz da razão pura e independente
dessa, é algo indefinível, porém também racional, assim como o “nous” de
Aristóteles). <a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftn4" name="_ftnref4" title=""><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[4]</span></a></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Enquanto Descartes entende que o conhecimento líquido e
certo só se atinge pela razão, Pascal entende que aquelas certezas sobre o
princípios primitivos estão desvinculadas do pensamento, localizadas no
coração, interior da subjetividade, propondo dois modos de conhecer: o
conhecimento lógico-dedutivo efetuado pela razão e o conhecimento intuitivo
efetuado pelo coração.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">São conhecimentos tão absolutos que a tentativa de defini-los
gera uma circularidade de linguagem onde a explicação tem a mesma origem
semântica do que se tenta explicar, tornando uma “lógica tautológica”.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O que aponta para o limite do conhecimento racional: onde o
processo demonstrativo e lógico não pode ir além. A fundamentação do
conhecimento indica a existência de limites e a razão reconhecer que não tem
uma capacidade ilimitada de se quiser operar de uma maneira lógica e correta.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Dessa forma, Pascal não descamba nem para o dogmatismo (onde
se aspira ao conhecimento absoluto das coisas e a posse da verdade), nem para o
ceticismo (ausência de base para o conhecimento).</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Mesmo os princípios primitivos não podem ser considerados
últimos e absolutos, mas apenas que são entendidos por qualquer pessoa.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><b>Experiência e indução</b></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Segundo a física de Pascal é impossível seguir apenas o
modelo mecanicista para compreender os fenômenos da natureza. Alguns deles não têm
um sentido absoluto, mas são apenas os últimos que conseguimos compreender e
que a nossa racionalidade pode atingir. Além disso afirma que as experiências
são os únicos princípios da física.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Mesmo que a experiência seja considerada o principal
alicerce para construir hipóteses, ela é insuficiente quando se trata de
sustentar logicamente uma determinada teoria científica.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Então quando não podemos conhecer diretamente a coisa que é
objeto da experiência e observação, devemos recorrer a uma demonstração
indireta da verdade, pelo princípio do terceiro excluído, ou seja pela
demonstração do absurdo.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Na ausência de um critério último de verdade é necessária
uma maneira de demonstrar indiretamente a validade das hipóteses empíricas
através da demonstração por absurdo.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Bem antes de Popper propor seu falsificacionismo lógico<a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftn5" name="_ftnref5" title=""><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[5]</span></a>, já apregoava
Conan Doyle, nas palavras de Sherlock Homes:</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><i>Devemos sempre procurar a alternativa mais provável e tentar
destruí-la. É a primeira regra da investigação</i> <a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftn6" name="_ftnref6" title=""><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[6]</span></a></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><i>Depois de eliminar o impossível, aquilo que sobra, mesmo
parecendo improvável, deve ser a verdade</i>.<a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftn7" name="_ftnref7" title=""><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[7]</span></a></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Indutivismo é o raciocínio que, após considerar um número
suficiente de casos particulares, conclui uma verdade geral. A indução, ao
contrário da dedução, parte de dados particulares da experiência sensível. De
acordo com o indutivista, a ciência começa com a observação.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O uso desse processo lógico, também evita que contaminemos a
ciência com hipóteses ad hoc, que nada acrescentam ao conhecimento.<a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftn8" name="_ftnref8" title=""><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[8]</span></a></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Pascal, assim como Kant depois dele, compreenderam bem a
coerência interna e os aspectos positivos do racionalismo e do empirismo mas,
por outro lado, eles viram claramente também e colocaram em evidência os limites
e as insuficiências dessas duas posições.<a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftn9" name="_ftnref9" title=""><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[9]</span></a></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">A inexistência de um conhecimento metafísico da natureza dos
fundamentos, pode levar o pensamento a operar meramente a partir de definições
nominais.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><b>Pascal, o subversivo</b></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Escapando das soluções fáceis e simplistas, Pascal se torna
o subversivo que nada contra a corrente. Não é um intuitivo puro, nem
anti-intuitivo. Não descarta os conceitos fundacionistas, mas não se apoia
exclusivamente neles. Confronta arranjo reducionista da filosofia cartesiana que
quer deixar de fora tudo que não seja absolutamente racional.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Contra outras epistemologias do seu tempo, coloca em
movimento o desmonte do status quo, por meio da descrição que faz da imaginação
e da abrangência dessa na compreensão das coisas, nos seus Pensamentos<a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftn10" name="_ftnref10" title=""><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[10]</span></a></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Sua descrição da faculdade imaginação, no escopo do
pensamento de Pascal, desbarata a relação exclusiva que Descartes procura
estabelecer entre razão e juízo e que, muito diferentemente, coloca este último
de maneira inexorável sob o poderio instituidor da imaginação, poderio este,
por sua vez, que subjaz ao vínculo que esta faculdade mantém com a natureza.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><i>Porém – e com isso já se vai apontando a originalidade de
Pascal –, se esta posição tira água do moinho dogmático, tampouco a coloca nos
engenhos céticos ou relativistas</i>.<a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftn11" name="_ftnref11" title=""><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[11]</span></a></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Pelo contrário, a partir do reconhecimento dos limites colocados
ao saber humano e do consequente abandono da ilusão do estabelecimento de um
ponto fixo e seguro para as ciências (ilusão que mantemos até hoje no discurso
que a ciência resume a solução para todos os problemas humanos), deixa claro que
a legitimidade dos princípios de que nos valemos para a produção de
conhecimento não surgem pelo fato de serem fixos e imutáveis, mas de sua
constância.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">E esta constância não só basta enquanto estiver em vigor
como também ela é razoável graças à imaginação e ao vínculo que mantém com a
natureza, na qual, afinal das contas, não passamos de uma ostra.<o:p></o:p></p>
<div><!--[if !supportFootnotes]-->Texto publicado originalmente no "Balaio Caótico": https://balaiocaotico.com/2021/06/08/falando-de-pascal-por-fabio-adiron/<br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1">
<p class="MsoNoSpacing"><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><!--[if !supportFootnotes]--><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span><!--[endif]--></a> HUME, David. On
suicide. Penguin Books UK. Londres. 2005. Tradução livre.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn2">
<p class="MsoNoSpacing"><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><!--[if !supportFootnotes]--><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span><!--[endif]--></a> EHERENFELD,
David. A arrogância do humanismo. Editora Campus. Rio de Janeiro. 1992<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn3">
<p class="MsoNoSpacing"><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><!--[if !supportFootnotes]--><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[3]</span><!--[endif]--></a> PINTO, Rodrigo
H. Pascal e a questão dos limites do conhecimento in Cadernos Espinosanos #24.
Universidade de São Paulo. 2010<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn4">
<p class="MsoNoSpacing"><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftnref4" name="_ftn4" title=""><!--[if !supportFootnotes]--><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[4]</span><!--[endif]--></a> Nous (em grego
antigo, νοῦς: 'intelecto', 'mente', 'razão'), termo filosófico grego que não
possui uma tradução direta para a língua portuguesa, significa atividade
do intelecto ou da razão, em oposição à atividade dos sentidos.
Muitos autores consideram o termo como sinônimo de "inteligência" ou
"pensamento". Fonte Wikipedia<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn5">
<p class="MsoNoSpacing"><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftnref5" name="_ftn5" title=""><!--[if !supportFootnotes]--><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[5]</span><!--[endif]--></a> POPPER, Karl. A
lógica da pesquisa científica. Cultrix. São Paulo.2013<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn6">
<p class="MsoNoSpacing"><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftnref6" name="_ftn6" title=""><!--[if !supportFootnotes]--><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[6]</span><!--[endif]--></a> DOYLE, Conan. A
aventura de Black Peter<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn7">
<p class="MsoNoSpacing"><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftnref7" name="_ftn7" title=""><!--[if !supportFootnotes]--><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[7]</span><!--[endif]--></a> DOYLE, Conan. The
sign of four<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn8">
<p class="MsoNoSpacing"><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftnref8" name="_ftn8" title=""><!--[if !supportFootnotes]--><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[8]</span><!--[endif]--></a> Na ciência,
uma hipótese ad hoc é geralmente criada com o intuito de tentar
provar o que uma nova teoria proposta não consegue explicar, evitando que seja
desacreditada. Em Filosofia, as hipóteses ad hoc surgem também como
argumentos inventados a partir do próprio fato que se pretende explicar.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn9">
<p class="MsoNoSpacing"><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftnref9" name="_ftn9" title=""><!--[if !supportFootnotes]--><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[9]</span><!--[endif]--></a> GOLDMANN,Lucien.
Le Dieu Caché. Paris. Gallimard. 1959<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn10">
<p class="MsoNoSpacing"><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftnref10" name="_ftn10" title=""><!--[if !supportFootnotes]--><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[10]</span><!--[endif]--></a> PASCAL, Blaise.
Pensées. Createspace. Paris.2015<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn11">
<p class="MsoNoSpacing"><a href="https://d.docs.live.net/cfd848de3d0ae47e/Adiron/Adiron/Cursos/Complexidade/Textos/Pascal/Pascal.docx#_ftnref11" name="_ftn11" title=""><!--[if !supportFootnotes]--><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[11]</span><!--[endif]--></a> SILVA, Dalila P.ANTI-INTUICIONISMO E
ANTIFUNDACIONISMO: O PAPEL DA IMAGINAÇÃO NA EPISTEMOLOGIA DE PASCAL in Cadernos
Espinosanos #40. Universidade de São Paulo.2019<o:p></o:p></p>
</div>
</div><div><div id="ftn11">
</div>
</div><div style="mso-element: footnote-list;"><div id="ftn11" style="mso-element: footnote;">
</div>
</div>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-70360331642757675222021-04-22T20:41:00.001-03:002021-04-22T20:43:02.044-03:00Embriaga-te de Baudelaire<p> </p><p class="MsoNormal"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfelPdhemtQu_BLmKIsYlJYJ-Lr1j-FwgzmLrlgtYR0Opu6a-pNOsGWZUHtUJDFUxgg3_ivEdcPxMCUklesPBDQomcOPAzHIcc-EkfDOsX23483Zora70_a3hEWPzXC3tS1AT-VXQy7Efn/s850/SAM_5284%252BC.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="637" data-original-width="850" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfelPdhemtQu_BLmKIsYlJYJ-Lr1j-FwgzmLrlgtYR0Opu6a-pNOsGWZUHtUJDFUxgg3_ivEdcPxMCUklesPBDQomcOPAzHIcc-EkfDOsX23483Zora70_a3hEWPzXC3tS1AT-VXQy7Efn/w400-h300/SAM_5284%252BC.jpg" width="400" /></a></div><span style="font-family: arial;"><span style="font-size: medium;">Existem livros que lemos na juventude e por mais que tenhamos gostado acabamos nunca voltando a eles. </span></span><p></p><p class="MsoNormal"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Outros aos quais voltamos e nos perguntamos por que diabos eu tinha gostado disso?</span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Nos últimos tempos voltei a ler Baudelaire. E me pergunto por que diabos demorei tanto para relê-lo?</span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">O "Spleen de Paris", também chamado de pequenos poemas em prosa é algo que deveria viver na minha cabeceira. </span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Spleen, na acepção francesa da palavra (não confundir com o inglês onde quer dizer baço, ou sentimento de contrariedade) tem o sentido de melancolia. </span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="line-height: 107%;">A melancolia do vadio Charles pelas ruas e salões de Paris é doce, amarga, leve, dolorosa, compassiva e cruel. Precisa na escolha das palavras e infinitamente mais poética (</span>resgatando o sentido helênico de poiesis como atividade que revela a
beleza do espírito, envolvendo, portanto, prazer e satisfação) que muita coisa escrita em verso que circula por aí.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Deixo aqui uma amostra, o pequeno poema XXXIII (na tradução de José Lino Grunewald, a que melhor consegue verter as palavras e o espírito baudelaireano, a versão original está logo abaixo)</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><b><span style="font-size: medium;">Embriaga-te</span></b></span></p><p class="MsoNormal"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Deve-se
estar sempre bêbado. Está tudo aí: é a única questão. A fim de não se sentir o
fardo horrível do tempo, que parte tuas espáduas e te dobra sobre a terra, é
preciso te embriagares sem trégua.<br />
<br />
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a teu gosto. Mas embriaga-te.<br />
<br />
E se alguma vez sobre os degraus de um palácio, sobre a verde relva de uma
vala, na sombria solidão de teu quarto, tu acordas com a embriaguez já minorada
ou finda, peça ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo
aquilo que gira, a tudo aquilo que voa, a tudo aquilo que canta, a tudo aquilo
que fala, a tudo aquilo que geme, pergunte que horas são. E o vento, a vaga, a
estrela, o pássaro, o relógio, te responderão: "É hora de se embriagar!
Para não ser como os escravos martirizados do tempo, embriaga-te; embriaga-te
sem cessar. De vinho, de poesia ou de virtude, a teu gosto."<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="font-family: arial;"><span style="font-size: medium;">Enivrez-vous </span></b></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"><span style="font-size: medium;">Charles Baudelaire, Petits
poémes en prose, 1869<br />
<br />
Il faut être toujours ivre. Tout est là: c'est l'unique question. Pour ne pas
sentir l'horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la
terre, il faut vous enivrer sans trêve. Mais de quoi? De vin, de poésie ou de
vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous.<br />
<br />
Et si quelquefois, sur les marches d'un palais, sur l'herbe verte d'un fossé,
dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l'ivresse déjà
diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l'étoile, à l'oiseau, à
l'horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout
ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est et le vent, la
vague, l'étoile, l'oiseau, l'horloge, vous répondront:<br />
<br />
"Il est l'heure de s'enivrer! Pour n'être pas les esclaves martyrisés du
Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à
votre guise."</span><span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><b>Descrição da imagem</b>: uma mesa com toalha branca e várias garrafas vazias ou meio cheias (ou meio vazias, se preferir)</span></p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-81679148472512267762021-03-29T12:51:00.007-03:002021-03-29T12:51:57.194-03:00A cigarra hodierna<p></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdrPjZRXECyqZDdD4G3QyuZwAhF2klqSbD6UoD7sc3f1A2Jqh2P5TUdHVtM_bYBcJjiNCDm9Br_mYEuYNh4D9kH5e0OXffnFCHAvQ7eAQoWXAUf1c0Pamk0WFaBMCNpuoDPfidjOf-KkM7/s736/La-Fontaine-La-Cigale-et-la-Fourmi-par-Grandville-1847.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="612" data-original-width="736" height="333" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdrPjZRXECyqZDdD4G3QyuZwAhF2klqSbD6UoD7sc3f1A2Jqh2P5TUdHVtM_bYBcJjiNCDm9Br_mYEuYNh4D9kH5e0OXffnFCHAvQ7eAQoWXAUf1c0Pamk0WFaBMCNpuoDPfidjOf-KkM7/w400-h333/La-Fontaine-La-Cigale-et-la-Fourmi-par-Grandville-1847.jpg" width="400" /></a></span></div><span style="font-size: medium;"><br />Tendo a cigarra em folguedos<br />
Veraneado o feriado final,<br />
Achou-se em doença extrema<br />
Sentindo-se muito mal.<br />
<br />
Não lhe restava fagulha<br />
De oxigênio, a tagarela<br />
Quis valer-se da formiga<br />
Que morava perto dela.<br />
<br />
Rogou-lhe que lhe ajudasse,<br />
Pois tinha saúde e brio,<br />
Algum ar com que manter-se<br />
Té voltar-se o são feitio.<br />
<br />
"Amiga – diz a cigarra –<br />
Prometo à fé d'animal.<br />
Cuidar-me até agosto<br />
Com u´a máscara cabal."<br />
<br />
A formiga nem uma fresta,<br />
Abre, nem se junta.<br />
"Durante a peste em que lidavas?"<br />
À pedinte ela pergunta.<br />
<br />
Responde a outra: "Eu passeava<br />
Noite e dia, a toda hora."<br />
– Oh! bravo, torna a formiga;<br />
Passeavas? Pois então, e agora?<br />
<br />
A partir da tradução de Bocage para Jean de La Fontaine (1621-1695), poeta
e fabulista francês.</span><p></p><p class="MsoNormal">Descrição da imagem: gravura mostrando a cigarra conversando com a formiga, de Grandville para a edição de 1847 de La Fontaine</p><p></p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-14728729007325628742021-03-23T12:27:00.000-03:002021-03-23T12:27:02.284-03:00Soneto do lugar comum<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgteqj-fQwC1eJF-zi8VP8kKtdyRhmcX7ppO8BbAA-gnJUL0Pu-eCQ7WmQn1iLGnDemA6pCBIfLNDfjXSAnX7Ehyphenhyphen7DRR3mfEuNH3K-2Gk7JzHzcpdjx6a5wB4tzmLBOwgAIDNCioOEQgg4c/s1600/jaguar+3.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1039" data-original-width="1600" height="260" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgteqj-fQwC1eJF-zi8VP8kKtdyRhmcX7ppO8BbAA-gnJUL0Pu-eCQ7WmQn1iLGnDemA6pCBIfLNDfjXSAnX7Ehyphenhyphen7DRR3mfEuNH3K-2Gk7JzHzcpdjx6a5wB4tzmLBOwgAIDNCioOEQgg4c/w400-h260/jaguar+3.JPG" width="400" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Eu caminhava em busca de um propósito</span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Que tornasse <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a minha
vida disruptiva<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">A coach me atendeu toda festiva<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">A polímata pedia de um depósito<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">O valor era um imenso despropósito<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Mas ela retrucou bem assertiva<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Clamou de forma doce e emotiva<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Usando a resiliência de um compósito<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Construiu-se a nova narrativa<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Pertencimento e ressignificação<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Empreendendo meus últimos tostões<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Hoje clamo pelas redes, compaixão,<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Empatia me sugerem aos borbotões<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">E uma vida mais contemplativa</span><o:p></o:p></p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-11102662664153080182021-03-14T20:58:00.002-03:002021-03-14T22:04:53.736-03:00El vuelo de Estol<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeXhxgXVSzFog_MC6oshKAO-4eWv9vjRDHBogDGf0Cfcv1TWaGJkgpNnZ0E9eX3RRgNnC0MRLszaB5iJdcabf_kpGfGCHCekZJlPceOVWiQbyEZdiD2EIEG69emICsLXoVma_HbEgPliHQ/s2048/Vuelo-del-c%25C3%25B3ndor-punk-Acho-Estol.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="1434" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeXhxgXVSzFog_MC6oshKAO-4eWv9vjRDHBogDGf0Cfcv1TWaGJkgpNnZ0E9eX3RRgNnC0MRLszaB5iJdcabf_kpGfGCHCekZJlPceOVWiQbyEZdiD2EIEG69emICsLXoVma_HbEgPliHQ/s320/Vuelo-del-c%25C3%25B3ndor-punk-Acho-Estol.jpg" /></a></div><br /><span style="font-size: 14pt;">El gato de Schrödinger está vivo
y maullando, pero Elvis está muerto.</span><p></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Mezclar física cuántica con ética
no es para todos, especialmente en un libro que no es una conversación
filosófica entre Heisenberg y Kant en un cafetín de Buenos Aires sino una
novela cuyo género roza lo indecible.</span><span style="font-size: 14pt;"> </span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span lang="ES-AR" style="color: black; font-size: 14pt; mso-ansi-language: ES-AR; mso-themecolor: text1;">“El vuelo del cóndor punk” de
Acho Estol en algunos momentos parece un libro de acción, en otros un policial
(no sin una buena razón, al fin y al cabo, ¿quién mató a Suloaga?) Y nunca deja
de tener un aire de historia de amor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">El narrador-personaje de Estol,
un tal Federico Manuel Moreno, comienza la historia casi sin reconocerse frente
a su imagen reflejada en una vidriera </span><span style="font-size: 14pt;"> </span><span style="font-size: 14pt;">y,
a partir de ese momento, nos sumerge en una serie de aventuras.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">La historia está dividida entre
dos accidentes importantes. Uno al principio y otro en las páginas finales, que
nos sorprenden en una situación muy inesperada. Pero no lo digo porque no doy
spoilers</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Sexo, drogas y rock and roll
mezclado con familia, estafadores y religión. No es cualquier bartender el que
puede transformar estos ingredientes en algo fluido y sabroso, además de
provocar siempre la curiosidad en el lector sobre lo que sucederá en las
siguientes páginas.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">No solo el personaje principal y
su alter ego familiar están bien construidos, sino que todos los personajes
secundarios están bien diseñados en sus lugares. Ninguno de ellos es
prescindible en el texto.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">No es novedad que los argentinos
se hayan convertido en maestros de la literatura fantástica, incluso cuando
cuentan historias aparentemente cotidianas. Que lo diga Mariana Enríquez, y
ahora Estol.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Que vengan más vuelos. Estoy
listo para abordar, mismo que después de todo, todos lloremos con Garua</span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;"><br /></span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: x-small;">Descripción de la imagen: portada del libro donde se ve un campo con símbolos esotéricos</span></p><p class="MsoNoSpacing"><br /></p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-91735180945159461632021-03-08T17:42:00.002-03:002021-03-08T17:42:22.412-03:00Vamos ispicar ingrês<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit08-IGcQf8s7SdQPIoHNd4ZDPbNtkNT5FvN1QnC3epkVIGhn3NDiS5cC04g-_4XFF6ZKKmrsxt-iY4YJrWVak0RfD9AbYAnN7bBN2XniYWO8OeFfCQ489rLwpjzX8djnKwL70pBJtzIew/s594/Toby_learned_pig-e1505738832733.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="594" data-original-width="447" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit08-IGcQf8s7SdQPIoHNd4ZDPbNtkNT5FvN1QnC3epkVIGhn3NDiS5cC04g-_4XFF6ZKKmrsxt-iY4YJrWVak0RfD9AbYAnN7bBN2XniYWO8OeFfCQ489rLwpjzX8djnKwL70pBJtzIew/s320/Toby_learned_pig-e1505738832733.jpg" /></a></div><div style="text-align: center;">Imagem de um porco fingindo ser erudito</div><br /><p></p><p><span style="font-size: medium;">Juca aplicou uma enrolação para o famoso colégio Imperial
de Londres quando realizou que não poderia pretender esconder muitos de seus
costumes com medicinas.</span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Exitou (sic) em mencionar suas convicções, por mais
valorosas que fossem, especialmente quando tinha sido prejudicado pelo coronel.</span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Adepto de argumentos antecipou as suas apologias cheias
de apreciação.</span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Ele que sempre atendera muitas leituras e suportara com
seu patronato a livraria local e devolvera toda a fábrica de novelas,
eventualmente.</span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Seus parentes nunca intenderam sua sensibilidade e assistiram
casualmente a queda da sua confidência e comodidade diante da competição.</span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Ele sabia que estava equivocando sua graduação, plena de gratuidade,
sem nenhuma ingenuidade.</span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Prescreveu-se particularmente e retirou seu resumo dos
recordes e dos requerimentos, sem reclamar nada.</span></p><p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: medium;">Acabou o dia comendo uma pasta cheia de preservativos no
lanche.</span></p><p class="MsoNoSpacing"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNoSpacing"><o:p> </o:p></p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-46171360715508095712021-01-31T21:18:00.000-03:002021-01-31T21:18:17.004-03:00A média é uma média é uma média<p><span style="font-size: 14pt;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWNnw6J67JTE096OoyZht2qAwarQx7m5hM7hf7J8eRa5rjlw67lrCHgPKszS_h_1ONfqDE9zZ59FZ69Ci0GnE1Aw4XH2Fv5-KA46mTD7y-wqjqrXSLPHkQ0zsQSIjkFEUpFgszpJVCwVwa/s540/media.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="91" data-original-width="540" height="68" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWNnw6J67JTE096OoyZht2qAwarQx7m5hM7hf7J8eRa5rjlw67lrCHgPKszS_h_1ONfqDE9zZ59FZ69Ci0GnE1Aw4XH2Fv5-KA46mTD7y-wqjqrXSLPHkQ0zsQSIjkFEUpFgszpJVCwVwa/w400-h68/media.png" width="400" /></a></div><br /><span style="font-size: medium;">Existem médias e médias.<br /><br />Aritméticas, geométricas, proporcional, quadrática. <br /><br />Há os que calculam médias, outros que só fazem média com as médias que não souberam sopesar, mas gostam de taramelar. <br /><br />As médias nunca são conservadoras ou progressistas, sempre se mantém como um valor de tendência central. <br /><br />Quem calcula a média entre <b>π, φ</b> e <b>e</b> chega a uma média completamente irracional. Outros, no entanto, preferem médias que sejam ponderadas. <br /><br />Isso não significa que toda média ponderada consegue ser harmônica, afinal não é qualquer um que consegue inverter seus valores sem lutar por eles. <br /><br />Mediante não é um calculador de médias, mas alguém que só calcula médias de forma condicional, a troco de alguma coisa. <br /><br />Da mesma forma, o mediador, é apenas alguém que se interpõe entre uma média e outra (ou entre um estatístico e outro) quando estão em conflito. <br /><br />Caso se interponha em posição vertical, é uma mediatriz e se, ao invés de se interpor, o mediador se coloca à margem do assunto, deixa se ser um mediador e passa a ser uma medianiz. <br /><br />Mediastino é uma média calculada do fundo do peito. O “d” é o medial da média. <br /><br />Os países países de língua espanhola nunca são, por princípio, contra qualquer média que, para eles, é um promédio <br /><br />E, caso você considere esse texto mediano, não o chame de médio, esse tipo de confusão é típica dos neófitos.</span>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-76480041267094615642020-09-22T19:35:00.000-03:002020-09-22T19:35:08.505-03:00Vlud, o empanador<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzdpuVcR5v8ht3s3JCNQTayfgGfYvdBANDrZVloLaHN9inXbWzV2XI0fBnqUXNctK55j_gd3w_S_pQZKX05-dhGQAGqXqV5Zd3SUginlTvwYho63KU6pNYRf4A0Abg09wJ_ETfvrPpkisS/s969/800px-Vlad_Tepes_002.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="969" data-original-width="800" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzdpuVcR5v8ht3s3JCNQTayfgGfYvdBANDrZVloLaHN9inXbWzV2XI0fBnqUXNctK55j_gd3w_S_pQZKX05-dhGQAGqXqV5Zd3SUginlTvwYho63KU6pNYRf4A0Abg09wJ_ETfvrPpkisS/s320/800px-Vlad_Tepes_002.jpg" /></a></div><br /><span style="font-size: 14pt;">Meu nome é Vosferatu
Drakul mas sou mais conhecido como Vlud, o empanador, epíteto que me foi dado
pelos meu dotes culinários.</span><p></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Segundo meu pai, somos
descendentes diretos de Vlad, voivoda da Valáquia, temos o seu sangue, além de
outros tantos que nos foram transmitidos pela genética ou pelo consumo.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Eu seria apenas mais um
vampiro comum, ainda que de ascendência nobre, não fossem alguns dos meus
hábitos peculiares que me afastam dos meus semelhantes.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">O ponto mais crítico na
minha relação com a comunidade hematófaga é o fato de que eu adoro alho. Cru,
frito, assado, cozido ou torrado.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Não que eu não seja um
consumidor habitual de outros acepipes. Como tantos vampiros, gosto de morcela,
molho pardo, vinho tinto, tomates, beterrabas e frutas vermelhas. Carnes só as
muito mal passadas, quase cruas.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">E sangue, é claro. De
preferência o AB negativo.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Meus coetâneos me
desprezam pelo meu olor satívico, não me entendem e, provavelmente, nunca me
entenderão.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Nem Radu, nem Mircea, meus
irmãos, são capazes de conviver comigo. Dizem que meu palácio rescende os
odores da minha cozinha e que o cheiro de alho é perceptível a centenas de
jardas dos meus portões.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Nunca tive uma namorada. </span><span style="font-size: 14pt;">Vampiras como Christabel e
Mircalla, condessa de Karnstein, me atraíram na juventude, mas o alho impedia
qualquer aproximação. De outro lado, as não vampiras, mesmo as que também eram
alhófilas, morriam de medo dos meus caninos.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Minha vida se resume
envelhecer entre a cozinha e os meus livros.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Todas as manhãs, quando
vou dormir, sonho com a chegada de Van Helsing, para, finalmente, descansar em
paz.</span></p>
<p class="MsoNoSpacing"><span style="font-size: 14pt;">Quando se cumprir minha
missão, decorem meu túmulo com réstias de alho.</span></p><p class="MsoNoSpacing">Crédito da imagem: Por Anónimo -
http://neuramagazine.com/dracula-triennale-di-milano/ image, Domínio público</p>Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0Unnamed Road, Bom Jardim - RJ, 28660-000, Brazil-22.1777068 -42.4333044-50.404792024000713 -77.5895544 6.0493784240007109 -7.2770543999999973tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-25358650911113427882020-07-23T15:02:00.000-03:002020-07-23T15:02:08.219-03:00Walden, a vida como um projeto de tédio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjM4ypj0D5SC9-ZHD87KvE3Nu01vNOCSSz4OA3c8DFQejDOQHUx83RP-wdtDKmRSFGIrr5djX356GC2HNOmecbUHv7Yd5z29Mk8h1-gSSNoTuHp-I1uexvFRPlTc4zLL_WnK31arqysY9x/s1600/Walden_Thoreau.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="950" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjM4ypj0D5SC9-ZHD87KvE3Nu01vNOCSSz4OA3c8DFQejDOQHUx83RP-wdtDKmRSFGIrr5djX356GC2HNOmecbUHv7Yd5z29Mk8h1-gSSNoTuHp-I1uexvFRPlTc4zLL_WnK31arqysY9x/s400/Walden_Thoreau.jpg" width="236" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Depois de um tempo de
interrupção, hoje acabei de ler Walden, considerado o texto clássico de David
Henry Thoreau.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O enredo do livro é muito
simples. O autor retira-se em 1845 para a floresta da Nova
Inglaterra, próxima à cidade de Concord, onde constrói com as próprias mãos,
sua casa e seus móveis, passando a viver com o mínimo necessário e em intenso
contato com a natureza. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Isola-se da sociedade,
não por misantropia - ele recebe visitas e as retribui - mas com o
propósito de obter uma maior compreensão da sociedade e de descobrir as
verdadeiras necessidades essenciais da vida<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Sob o risco de ser execrado
pelos fãs do autor, julgo ter sido um dos livros mais entediantes e chatos que
li na minha vida. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Thoreau, que é um
excelente poeta e, na maioria dos seus textos, um bom ensaísta, se tornou um
mito pelas suas posições anarquistas e pacifistas e, especialmente, pelo fato
de ter sido preso ao se recusar a pagar impostos a um governo escravagista e
também porque se recusava a financiar a guerra com o México. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Seu ato de desobediência
civil, gerou um excelente ensaio, por sinal.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O ensaio “<i>Life without
principle</i>” deveria ser lido por todos aqueles que apregoam uma vida com
propósito nas suas carreiras profissionais.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Infelizmente não é o que
ocorre com Walden. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O texto é melífluo, as descrições
abusam de detalhes irrelevantes e a linguagem beira o infantil. Um relato de
dois anos que só podem ser úteis para quem tem objetivos monásticos de vida.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Para completar, a
conclusão do livro soa como um manual de auto ajuda de má qualidade (perdão
pelo pleonasmo, é uma ênfase desnecessária).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu recomendo muito a
leitura de Thoreau. Ao mesmo tempo recomendo distância de Walden.</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<br />Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-43906327295651078682020-07-08T12:18:00.000-03:002020-07-08T12:18:06.520-03:00Pandemia eterna<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoYsKHgGGWxaafJjUHggc8nhw8ZyIyxwV5xSjLY4ZpRmeJG8tkIlcvMUWdNmc1JXM3_kfrzT6BRIsdMLbn0tNKkDKWecnSCBuX65iMH2o3qxCUg-fQvYCdMxpyeYxZ9qGt3yaGydS4Lwi1/s1600/freepik.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="417" data-original-width="626" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoYsKHgGGWxaafJjUHggc8nhw8ZyIyxwV5xSjLY4ZpRmeJG8tkIlcvMUWdNmc1JXM3_kfrzT6BRIsdMLbn0tNKkDKWecnSCBuX65iMH2o3qxCUg-fQvYCdMxpyeYxZ9qGt3yaGydS4Lwi1/s320/freepik.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Não é de hoje que está em
curso um vírus que tem afetado muitas pessoas. Diferentemente de outras cepas,
essa não prejudica quem está infectado, mas quem convive com as pessoas que o
contraíram.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Desconheço sua origem,
mas, certamente, não surgiu a partir de animais silvestres, nem foi criado em
laboratório de genética. Diga-se de passagem, ele não afeta nenhum animal,
exceto o <i>homo</i>, dito <i>sapiens</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Denominado <i>vocêtemque </i>ele
faz com que seu portadores, continuamente, fiquem impondo suas ideias e
soluções para outras pessoas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">É uma profunda
disseminação de <i>vocêtemque isso, vocêtemque que aquilo, vocêtemque aquilo
outro.<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Apesar de ser um vírus que
se manifesta mais nas relações pessoais, ele não é incomum nas relações de
trabalho, uma vez que quem carrega o vírus não sabe muito bem distinguir uma
situação da outra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Os afetados pelo vírus,
geralmente, não praticam aquilo que preconizam, uma vez que um dos efeitos
colaterais da contaminação é o de criar uma camada de perfectibilidade ilusória
neles.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Já as pessoas que são
perseguidas pelos contaminados costumam sofrer as mais variadas consequências:
desânimo, irritação, depressão - que podem levar a óbito a autoestima, os seus
projetos de vida e os seus sonhos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Até onde é do meu
conhecimento não existe ninguém desenvolvendo uma vacina para esse mal. <o:p></o:p></span></div>
<br />Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-62458101901435335882020-07-01T20:13:00.000-03:002020-07-01T20:13:40.340-03:00Atos de Deus<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCOWDA_AifK4zcrFMpniWPB8-5GlXnBa6v-K0uiKUOhnujfjhswVhaTUsukub4KrWUIJvTgdYTmBVvt4eHYH3sfSvpMMZfzZOQGCzZEsPwWTn6GAP78FF6quOt9HAPD8RBjSdv3EQLF1EM/s1600/actofgod.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="476" data-original-width="512" height="297" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCOWDA_AifK4zcrFMpniWPB8-5GlXnBa6v-K0uiKUOhnujfjhswVhaTUsukub4KrWUIJvTgdYTmBVvt4eHYH3sfSvpMMZfzZOQGCzZEsPwWTn6GAP78FF6quOt9HAPD8RBjSdv3EQLF1EM/s320/actofgod.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Quando uma
seguradora coloca nas ressalvas do seu contrato que a apólice não está coberta
por “atos de Deus”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">1.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Essa regra vale para quem acredita em
qualquer deus ou só para algum específico?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">2.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Os ateus estão liberados da cláusula?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">3.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Os agnósticos podem questionar judicialmente
a impossibilidade de provar a existência ou não existência de Deus?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">4.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Os fatalistas que, em qualquer
situação, dizem que foi a vontade de Deus, recebem o valor do seguro em caso de
sinistro?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">5.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Os politeístas ficam descobertos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">6.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Os que endeusam a si mesmos podem
declarar que foi contra a vontade deles?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">7.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Os que endeusam outras pessoas, precisam
mencionar isso na contratação?<o:p></o:p></span></div>
<br />Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-36303905432672744352020-06-24T17:33:00.001-03:002020-06-24T17:34:18.849-03:00Caminhos difíceis e turbulentos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-VcJXT0NpgKwJS9dHVJ6-ZrNRBR16bvez6XbuZNDvK3PHAs8ChIQHNgaAvdAz9DVwDam513kiNuZ9euojsx62nqxYaN6rZRAS6KJGuNSO0dEICgrsDGczmZOTqzo6qFMaFJjCHRRDgYca/s1600/Rough-and-Rowdy-Ways_Bob-Dylan.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="1000" height="197" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-VcJXT0NpgKwJS9dHVJ6-ZrNRBR16bvez6XbuZNDvK3PHAs8ChIQHNgaAvdAz9DVwDam513kiNuZ9euojsx62nqxYaN6rZRAS6KJGuNSO0dEICgrsDGczmZOTqzo6qFMaFJjCHRRDgYca/s400/Rough-and-Rowdy-Ways_Bob-Dylan.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Caminhos difíceis e
turbulentos (<i>Rough and rowdy ways</i>) é o novo álbum do senhor Robert Allen
Zimmerman, a.k.a, Bob Dylan, que bem poderia se chamar dias difíceis e turbulentos
em tempos de pandemia. De qualquer forma, sua temática não é a crise mundial,
mas muito da história e das referências do seu autor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Como diz meu amigo Omar
Giammarco, não é à toa que esse jovem que em 2021 vai completar 80 anos, ganhou
um prêmio Nobel de literatura. </span><span style="font-size: 14pt;">Ok, é apenas um compositor
popular você vai argumentar, e eu contra argumentarei que sua poesia não é nada
popular, ainda que ele, como músico, seja um dos grandes ícones populares da
história. É só a minha opinião, mas eu o considero o maior poeta de língua
inglesa do pós guerra, coincidentemente, começa a aparecer na época em que
morreram Cummings e Sylvia Plath.</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">O disco começa, não por
acaso, com <i>I contain multitudes</i>, verso de Walt Whitman, que nele dizia
que prosseguia para completar sua próxima dobra do futuro. Dylan vai rever o
passado em muitas das canções, talvez se preparando para a sua próxima dobra,
com referência explícitas de momentos obscuros de Blake e de Poe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Em <i>False Prophet</i>,
como um profeta da verdade, canta que ele vai para onde apenas os solitários
conseguem ir, cercado por uma brisa fria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">A história da poesia
continua em <i>My own version of you</i>, uma história de um Frankenstein em
busca da sua criatura, cita Shakespeare, brinca com a palavras em versos de
métricas diferentes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<i><span style="font-size: 14.0pt;">I've Made Up My Mind to
Give Myself to You</span></i><span style="font-size: 14.0pt;"> é mais uma canção
linda e melancólica, o viajante da longa estrada do desespero, onde não
encontrou ninguém para acompanhá-lo, mas não deixa de ser uma grande balada
romântica (sem dúvidas, uma das mais belas declarações de amor já escritas).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Em <i>Black Rider</i>, não
está claro se este é um indivíduo literal ou simbólico. De fato, a maneira como
a letra pode ser lida é, muito provavelmente, as duas coisas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">A música seguinte serve
como uma homenagem a um músico de blues, com o nome de Jimmy Reed. Mas o modo
como Bob Dylan faz isso não é falando sobre o próprio homem, pelo menos não
diretamente. Pelo contrário, parece que lembrar de Jimmy, que faleceu em meados
da década de 1970, também o faz olhar para sua própria vida, incluindo sua
carreira. De fato, nota-se que, mesmo no som, <i>Goodbye Jimmy Reed</i> é uma
reminiscência do passado de Dylan. E juntando todas as letras, o que Bob parece
finalmente expressar é uma grande admiração pelo músico que influenciou muita
gente no rock.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Mãe das Musas, onde quer
que esteja, eu já vivi muito além do que deveria ser a minha vida. Esse é
apenas um dos versos trágicos de <i>Mother of Muses</i>, que acaba com a frase
que está voltando para casa, uma expressão que, definitivamente, não se refere
à sua moradia terrena. De certa forma um pedido dúbio de inspiração e de
redenção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Em 10 (ou 11) de janeiro de
49 a.C Júlio César atravessou o Rubicão, violou a lei e tornou inevitável
o conflito armado e tomou o poder em Roma. Segundo Suetônio, César teria então
proferido a famosa frase Alea jacta est ("a sorte está lançada" ou
"os dados estão lançados"). Dylan lança sua sorte também nessa
travessia em <i>Crossing the Rubicon</i>, que também é uma referência </span><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; mso-ansi-language: PT;">à idéia de um
indivíduo atingir um ponto em que não pode voltar atrás. E o modo como Bob
Dylan o usa nessa música parece geralmente se referir ao conceito de
mortalidade. Isso quer dizer que as letras são dedicadas principalmente a olhar
para sua vida, bem como as vidas de outras pessoas, com o entendimento de que seu
tempo na Terra é realmente finito. E, no processo, eles de fato escreveram as
histórias imutáveis de suas vidas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<i><span style="font-size: 14.0pt;">Key West (Philosopher
Pirate), </span></i><span style="font-size: 14.0pt;">definitivamente é uma
autobiografia ou, considerando o espírito do álbum, um obituário previamente
escrito para quando a morte chegar, mesmo que o espaço geográfico seja citado,
e louvado, como o lugar onde se pode encontrar a imortalidade. O texto é
profundo como uma sepultura e leve como uma pena. Parece o clímax de tudo o que
Bob vem tentando fazer como músico nos últimos vinte anos. E em suas letras é
exatamente o que ele trabalhou tanto por tanto tempo: uma música que
simplesmente descreve um lugar, descreve o que acontece lá e deixa o conteúdo
temático subir à superfície por conta própria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Finalmente, o disco acaba
com a gigantesca <i>Murder Most Foul</i> (O assassinato mais imundo). São 1.376
palavras distribuídas em 16 minutos e 56 segundos em que o cantor revisita
acontecimentos e figuras icônicas de seus anos mais intensos, os anos 60 e 70. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É a música mais longa de sua carreira. Há
uma armadilha: não é uma canção que Dylan compôs no últimos meses,
quando nosso mundo foi revirado pelo coronavírus. É provável que seja uma
música registrada há relativamente pouco tempo (alguns meses, alguns anos),
porque a canta com essa voz quebrada que exibiu nas últimas gravações.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Os dias continuarão
tenebrosos, mas espero que as musas continuem a inspirar Dylan por um bom
tempo.<o:p></o:p></span></div>
<br />Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-50076764342338925942020-05-15T20:37:00.000-03:002020-05-15T20:37:54.933-03:00Todo mundo se acha expert em estatística<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglDzLEhVwYB4FjIcOWXdGzjR1LYaVzKCy7fW424FAUTt7F-obvcMRfpz99tq41SCsEfyec1AtIPea7HbbFGWiYCpqh_2S1LyzWphmHUlVNPQk_mKZT4WvAqAmpv72S3JqEW-Sm_pMuNTV-/s1600/estat%25C3%25ADstica.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="458" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglDzLEhVwYB4FjIcOWXdGzjR1LYaVzKCy7fW424FAUTt7F-obvcMRfpz99tq41SCsEfyec1AtIPea7HbbFGWiYCpqh_2S1LyzWphmHUlVNPQk_mKZT4WvAqAmpv72S3JqEW-Sm_pMuNTV-/s320/estat%25C3%25ADstica.jpg" width="293" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Paramécio sofria de
cibercondria, uma doença cada vez mais comum nos meios digitais. Ele era uma
pessoa média, nem sempre muito ponderada, mas habitualmente bastante móvel. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Sua principal margem de erro
era ter alguns desvios padrões de personalidade que se manifestavam com muita
frequência e que eram derivados integralmente de sua autoestima
superdimensionada e do fato de nunca ter passado nas provas de matemática sem
colar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Todas as manhãs acordava
com dores nos quartis, o que sugeria um quadro sinóptico de inflamação da
mediana. Apesar desse mal estar fora de moda, isso provocava grande dispersão
de sinapses e crises de variância que eclodiam em opiononite aguda em redes
sociais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Palpitava, aleatoriamente,
sobre qualquer número que lia, de forma determinante. Nenhum senso crítico. Nenhuma
correlação. Um hiperbólico sem efeitos de tratamento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Ignorava os intervalos
contextuais, desprezava as relevâncias e, à guisa de impropério, atribuía a
seus desafetos a alcunha de qui-quadrados irracionais ou de vetores quadráticos
de Bernoulli.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Defendia uma cosmogonia
sem regressão, que julgava ser apenas uma falácia histogramática dos seguidores
de Bayes, um bando de outliers de uma amostra desparametrizada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">A eventual probabilidade
de estar errado era, para ele, uma hipótese nula. Os que se atreviam a
corrigi-lo eram obtusos insignificantes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Um amigo lhe sugeriu se
tratar, fosse com um psicanalista indutivo ou com um descritivo. Talvez uma
análise de variância ou um teste F pudesse lhe indicar um tratamento para essa propensão
não preditiva.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Rejeitou peremptoriamente
essa possibilidade. Afinal, sua função bidimensional era cumulativa e
atemporal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Deseducadamente, mandou o
amigo catar ocorrências multivariadas em Niterói e guardá-las num box-plot
matricial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-size: 14.0pt;">Veio a óbito tentando
saltar de uma rede elástica, acreditando que efeitos binários fatoriais lhe
salvariam.<o:p></o:p></span></div>
<br />Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7994103180239609759.post-65451282814963366712020-05-12T21:22:00.001-03:002020-05-12T21:30:30.135-03:00A vã filosofia<br />
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXe1UXRE64nvwNtFcxiJvqFT8l5sM1kNEwdQXEX45oEUoD_tvyXOY3h5WqCty2NKL1iwZInA6aNXZ9JxBWpJ4hiFRNNbNow1F0MOYmkNgwAgrLrVAIAMjDlqA7NBAkZNP2yJyejfLoUaMX/s1600/aporia.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="1200" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXe1UXRE64nvwNtFcxiJvqFT8l5sM1kNEwdQXEX45oEUoD_tvyXOY3h5WqCty2NKL1iwZInA6aNXZ9JxBWpJ4hiFRNNbNow1F0MOYmkNgwAgrLrVAIAMjDlqA7NBAkZNP2yJyejfLoUaMX/s320/aporia.jpeg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12.0pt;">No
meio da diafonia tinha uma eidos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12.0pt;">Tinha
uma eidos no meio da diafonia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12.0pt;">Tinha
uma eidos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12.0pt;">No
meio da diafonia tinha uma eidos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12.0pt;">Nunca
me esquecerei dessa aporia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12.0pt;">Na
minha vida de doxas isostheneias em epokhe<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12.0pt;">Nunca
me esquecerei que no meio da diafonia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12.0pt;">Tinha
uma eidos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12.0pt;">Tinha
uma eidos no meio da diafonia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12.0pt;">No
meio da diafonia tinha uma eidos.<o:p></o:p></span></div>
<br />Fábio Adironhttp://www.blogger.com/profile/01288902666350872870noreply@blogger.com0