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Mostrando postagens de dezembro, 2010

Um ano e tanto

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2010 não foi um ano qualquer. Grandes mudanças aconteceram. Anos de perdas e de ganhos, de montanha russa emocional e, certamente de muito aprendizado. Trabalhei bastante, mais do que gostaria e menos do que poderia. Quem sabe se algum dia eu ganhe na loteria e pare de trabalhar, é verdade que minhas probabilidades são muito reduzidas considerando o fato de que eu não jogo, acho que esse cálculo nem meu amigo Rogério que é estatístico conseguiria fazer. Trabalhei na igreja até meados do ano. Parei temporariamente. Pretendo voltar assim que me queiram de volta, não me entendo como um cristão se não estiver trabalhando. Agradeço meus alunos que continuam sentindo saudades das minhas aulas. Minha militância inclusiva se manteve. O ritmo foi um pouco menor mas continuei batendo pernas para falar a respeito de um mundo onde todos os seres humanos sejam considerados seres e humanos e onde a educação seja de fato um direito indisponível. Conheci pessoas novas nesse meio. Me encontrei com outr

Para o levantamento de muitos

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“Eis que esse menino está destinado tanto para a ruína como para levantamento de muitos....e para ser alvo de contradição, para que se manifestem os pensamentos de muitos corações” (Lucas 2 :34-35) Quando o menino Jesus foi apresentado no templo, ele encontrou o velho e piedoso Simeão que falou as palavras acima a seu respeito. Palavras doces para os que crêem, palavras duras para os que não entendem o seu sentido. A cada Natal eu me impressiono como essa contradição fica mais aparente. Como alguns entendem essas palavras e como tantos se distanciam do sentido da comemoração, a ponto de muitos dos cartões que eu recebo, analógica ou digitalmente, sequer mencionarem o Natal, limitando-se a desejar boas festas. Para essas pessoas, o final do ano vai ser só mais uma oportunidade de comer e beber, talvez ganhar presentes. Talvez só um momento de desejar que 2011 seja melhor. Nós também desejamos que 2011 seja melhor para vocês todos, que seja o ano em que aqueles que ainda não tiveram a o

Crítica teatral

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Alguns autores buscam em sua vida real ou imaginária os temas para desenvolverem suas produções artísticas. Esse fato é mais ou menos perceptível a cada novo texto e varia muito de autor para autor. Por outro lado, existem escritores que conseguem extrair de fatos corriqueiros todo um edifício ficcional que beira o delírio lisérgico. Esse é o caso da nova obra do teatrólogo galês Oso von Bach, o monólogo "Uma mulher exaltada", atualmente em cartaz no teatro da Aldeia Circular. A protagonista, interpretada magistralmente pela atriz Elisabeth Bell estrutura-se sobre uma série interminável de pequenos fatos e cada uma das reações ensandecidas da personagem. A forma como von Bach cria situações absurdas alterna momentos hilariantes e deprimentes. Nem na mais profunda alucinação de uma mente corroída por ácidos nefelibáticos tais situações beirariam sombras de uma existência factual. O auge da peça e da interpretação de Bell acontece no momento em que ela descreve como se exaltou

A tupida antologia de Novembro

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A regra do jogo é simples. Leia os comentários que foram publicados no blog no mês passado sem voltar aos textos originais. Para cada um deles imagine a sua própria história: O que vc fez com as coitadas das rosas? ele tenha terminado morrendo por causa de uma glicemia alta muita estranha essa geleia... será que terei o mesmo fim? Sem querer estragar a beleza da mitologia celta, mas vou resignificar minhas palavras continuo seguidor fiel das tuas traições acho que meus neuronios ainda estão embriagados mamãe também é gente! Esse post foi inspirado na minha enxaqueca, pode confessar! eu já ouvi essa orquestra de pulgas amestradas,lá na Praça da Sé...faziam fundo musical,pra uma pregação sobre o livro de Jó... E vai saber quem elas tinham mordido antes né? Fiquei zonza, de olhos esbugalhados e nó na língua... Será que dizem isso ser careta? Isso é o que acontece com quem confia demais

Novo golpe na praça

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Seus amigos não acreditaram quando ele disse que estava deixando sua casa. Não que achassem que ele fosse feliz com Raquel, mas sabiam que ela nadava em dinheiro, como que Ronaldo iria perder esse boquinha, pior, de forma voluntária? Quando casaram ninguém achou que ele estivesse aplicando o golpe do baú*, Ronaldo não era milionário mas também não era nenhum pé rapado. Raquel era proprietária de uma indústria muito bem sucedida. Quando abriu a financeira para vender seus produtos no crediário ficou mais rica. Quando um banco estrangeiro comprou a financeira e a indústria ela ganhou o suficiente para viver lautamente as próximas 31 encarnações. Claro que Ronaldo foi beneficiário da fortuna de Raquel. Conheceu o mundo, passou a frequentar os melhores restaurantes, só viajava de primeira classe ou de aviões particulares, tinha até um helicóptero para levá-lo onde quisesse, na hora que quisesse. Nada disso seduzia Ronaldo. Ele não aguentava mais viver cercado de seguranças armados, não tol

Caparidáceas

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Ele sabia que aquele era o jantar da sua vida. Não poderia cometer nem um erro, nem um deslize. Depois de muito tempo ele finalmente tomara coragem de convidá-la para jantar na sua casa e, surpreendentemente, ela aceitara o convite. Justo ela que sempre lhe pareceu ser a estrela inatingível. Até o seu melhor amigo tentou dissuadí-lo de qualquer tentativa. Era areia demais para seu caminhão. Dormiu muito pouco nas noites que antecederam o encontro. Noites em busca de pratos perfeitos, testando e retestando as receitas. Recorreu a um sommelier para escolher os vinhos. Nada. Nada podia dar errado. Nada. Quando ela chegou a mesa da sala parecia um restaurante de luxo. Louça inglesa, taças de cristal tcheco, talheres de prata e guardanapos bordados a mão. Serviu a salada de endívias com queijo de cabra e amêndoas com um vinho suave. A carne assada com um molho de alcaparras, acompanhada de risotto milanese e de um borgonha valente, mas macio. Não se arriscou na sobremesa, preferiu comprá-la

O melhor caminho

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" - ZYD456, a sua Rádio Tráfego (não confundir com tráfico que é sempre um mau caminho) indicando os caminhos menos péssimos para se deslocar na cidade. Patrocínio exclusivo da Norte Oceânia - "Não há turba que me perturbe" e apoio inestimável da CET - Companhia do Engarrafamento do Trânsito, sem a qual essa rádio não existiria. Abrimos nossos microfones agora para os nossos ouvintes. Conte de onde você vem e para onde vai, e nós te ajudamos a chegar. Na linha está o Astrogildo. Fala Astrogildo, onde é que você está encalacrado..." " - Oi cara...preciso de ajuda. Eu estou indo de Guarulhos para Santo Amaro, peguei a Marginal Tietê e o trânsito está fluindo bem demais, será que não pode me dizer como é que eu faço para pegar um engarrafamento?" " - Astrogildo, o melhor caminho é exatamente esse marginais Tietê e Pinheiro até a ponte João Dias, está tudo livre, em 15 minutos você chega lá..." " - Mas eu não quero chegar em 15 minutos, não tem

Cefalalgia

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Não era nada diferente do que acontecia entre outros casais. Mariana algumas vezes estava com dor de cabeça e, quando isso acontecia, Jorge ficava desconcertado olhando para o teto. Acontece que, num dia em que Mariana realmente estava com uma dor de cabeça infernal Jorge não se conteve e disse que ia ser com ou sem dor de cabeça. Mariana ensaiou um protesto, mas acabou cedendo. Era melhor aguentar a dor de cabeça do que se arranjar outra. O que ela não esperava é que mal tinham acabado, a dor de cabeça desaparecera completamente. Quando comentou isso com Jorge ele deu um riso irônico, até parecia que ele tinha acreditado na tal da dor. Mas Mariana sabia que a dor era real antes e inexistente depois. Tentou entender o que tinha acontecido, não conseguiu e resolveu que aquela situação precisava de uma comprovação científica. Dias depois Mariana teve um dia cheio de reuniões externas. Ficou muito tempo na rua, debaixo de sol forte. As pontadas na cabeça começaram no final da tarde. Ao ch

A cor do som

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Elisa chegou em casa cansada e nervosa. O dia, definitivamente, não tinha sido dos melhores. O calor acentuara a sua dor de cabeça, o chefe a culpara por um erro que não era dela e quando ela pediu ajuda a um dos colegas de trabalho ainda teve de ouvir que ele não era mágico para resolver os problemas do mundo. Olhou para o relógio e ficou ainda pior, faltava um pouco mais de uma hora para os seus convidados chegarem e ela nem tinha começado a fazer o jantar. Entrou no chuveiro, tomou um banho rapidíssimo e voou com as suas tarefas. Arrumou a mesa enquanto a carne assava no forno, arrumou os vasos de flores, escolheu os discos para tocar durante o jantar, colocou a água no fogo para cozinhar o macarrão. Estava dando os últimos retoques na salada quando seus amigos começaram a chegar. Depois de muitos anos iria rever parte da turma da faculdade. Mantinha um contato remoto com alguns deles e mais próximo com duas amigas. Ela não via André desde o dia da formatura, mas lembrava da admiraç