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Mostrando postagens de agosto, 2010

Um dia crítico

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Gianluca tinha acabado de sofrer um grande revés. Depois de anos trabalhando fielmente para a mesma empresa fora demitido sumariamente por mascar chiclete na porta do banheiro feminino. Sua nova chefe era uma feminista radical e entendeu que aquela atitude configurava assédio sexual à estagiária que saia do banheiro no exato momento em que ele estourava a bola da goma de mascar. Além do desemprego ele teria de enfrentar a penúria. Demitido por justa causa não iria receber um centavo de direitos trabalhistas. À medida que caminhava para casa pensava em como explicar a situação para a mulher. Ana era amorosa e compreensiva, mas será que seu argumentos a convenceriam que não estava abordando outra mulher? Como explicaria a demissão? Resolveu preparar o espírito de Ana. Enviou um torpedo dizendo que tinha más notícias. Ela respondeu cheia de interrogações. Disse que tinha sido demitido. Em segundos seu celular tocou. Contou parte da história, omitindo a cena do chiclete. Queixou-se da inju

Traição fosfórica

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Quem está habituado a frequentar esse blog sabe que eu sou um traidor contumaz , já traí aos montes e quando me dá a coceira eu traio sem perdão. Dessa vez a vítima foi Jacques Prevért e a sua caixa de fósforos. Não tenho direito a perdão. Três fósforos Três fósforos acesos um a um noite adentro O primeiro mostra teu rosto inteiro O segundo a refletir o brilho dos teus olhos A iluminar tua boca o terceiro E toda escuridão a me lembrar cada pedaço Enquanto te acolho nos meus braços Para quem prefere a versão original sem legendas, aí vai: Trois allumettes une à une allumées dans la nuit La première pour voir ton visage tout entier La seconde pour voir tes yeux La dernière pour voir ta bouche Et l'obscurité tout entière pour me rappeler tout cela En te serrant dans mes bras (Jacques Prevért)

O efeito boursin

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Raquel não era nenhuma especialista em queijos, ainda que gostasse de experimentar variedades diferentes de tempos em tempos, mas admitia que não entendia nada do assunto, limitava-se a gostar ou não gostar. Até conhecer Amaral. O namorado era um fanático pelo assunto. Era capaz de diferenciar cada um dos 246 tipos de queijos franceses de olhos fechados. Não era um chato que só falava disso ou que ficasse fazendo citações de Mucor Miehei mas, sempre que podia apresentava um novo tipo de queijo para Raquel. Numa das vezes que sairam para jantar ele pediu, depois do café, um queijo de nome diferente. Explicou que era um queijo fresco feito a partir de leite de cabra e creme de leite, originário da Normandia, geralmente acrescido de ervas ou amêndoas e frutas secas. Raquel adorou o queijo, a ponto de Amaral pedir uma segunda porção. A partir daquele dia, todas as vezes que ia ao supermercado, Amaral trazia uma fatia do tal queijo para ela. Um dia, ao encontrar Amaral, Raquel comentou que

Bacalhau do Alberto

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Na semana passada recebi a ilustríssima visita do meu primo Alberto (que nunca gostou de ser chamado de Alberto Carlos por temer ser atropelado por um trem antes que alguém conseguisse dizer seu nome inteiro...Alberto Carlos olha o trrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr...pluft!!) Como nos tempos ancestrais quando ele me levava para almoçar em restaurantes do centro financeiro do Rio de Janeiro, o papo foi muito mais do que agradável. Falamos de música, de cinema, de casamento, de mercado imobiliário (onde ele trabalha), de igreja, da família, dos filhos (não, sobre esses eu não falava na época do Rio, pois não os tinha). Para preparar um jantar adequado perguntei antes se ele tinha alguma restrição alimentar. Ele só dispensou a buchada de bode, por motivos religiosos, é claro. Resolvi fazer bacalhau. Como não tenho o hábito de fazer um prato duas vezes da mesma maneira matutei como deveria cozinhar o ilustre cod gadus morhua e me saí com a seguinte receita: Peguei duas postas de lombo de bacalhau d

Amarradona

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Marilda olhou para a placa presa no poste e achou que não custava muito arriscar. Amarração para o amor, dizia, efeitos garantidos. 200 reais. Há tempos que ficava com Antonio, mas nada dele pensar num namoro mais firme, pelo contrário, o rapaz era um mulherengo que trocava de companhia todas as semanas. Marilda queria casar antes dos 30 e o prazo estava correndo rapidamente. Ligou para o amarrador. Dois dias depois estava no consultório do mágico do amor levando o que ele pedira. Uma foto de Antonio, uma folha qualquer onde estivesse sua caligrafia, uma lista de gostos e preferências e seu endereço. Explicaram que o trabalho demoraria alguns dias para surtir efeito e que ela poderia deixar um cheque pré-datado, se em um mês não acontecesse nada poderia sustar o cheque. O mágico era dos bons e menos de uma semana depois Antonio apareceu com uma caixa de bombons e pediu Marilda em namoro. Ela ligou para o consultório dizendo que podiam antecipar o depósito do cheque. Além de arranjar um