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Mostrando postagens de novembro, 2009

Desaforismos inoportunos

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Não há fonoaudióloga capaz de ensinar a hora certa de se calar. Aceitação é uma maneira eufemística de comiseração Seus sonhos eram de princesa, suas conquistas de mulher. O centro do homem não é o pensamento mas o umbigo. Relacionamentos duradouros sempre são os mais maleáveis. A arte não imita a vida. É a vida. Não fale com uma porta, prefira as paredes que não são volúveis. Se a valsa lhe assusta, dance um tango.

Conto de fadas

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Nunca tinha dado muita importância às janelas do prédio vizinho, apesar da pouca distância que estavam da minha. Voyeurismo nunca foi meu ponto fraco, e esse negócio de ficar olhando escondido atrás das cortinas sempre me pareceu coisa de adolescente. Até o dia em que a sala estava com as cortinas escancaradas e, da minha, janela, vi um vulto feminino no escuro de um quarto. Não dei muita atenção mas, quando passei novamente pela sala a vi no mesmo lugar, olhando, achava eu, na minha direção. Aquilo me incomodou. O que é que aquela mulher tanto olhava em direção à minha casa? E por quê com tamanha concentração. Fechei as cortinas e fui dormir encafifado. Na manhã seguinte não resisti e fui olhar. Ela ainda estava lá. Com a luz do dia me dei conta do meu rídiculo, era uma figura de uma silhueta presa na parede. Só um rosto desenhado até a linha do pescoço. Ri de mim mesmo e fui trabalhar. Contei a história para alguns colegas que também se divertiram às minhas custas. Estranhamente eu n

Para falar das flores

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Naquela noite Cristiano deixou Rosana em casa e vagou de carro pelas ruas. Estava apaixonado e encantado demais para voltar para casa e dormir. Quando passava pelo largo do Arouche viu as bancas de flores abertas. Parou. Entrou em uma onde o vendedor solitário estava sentado num canto. " - Preciso da sua ajuda. Que flores eu mando para a mulher mais maravilhosa do mundo?" O vendedor sorriu. Seu nome era Ciro,um romântico que admirava homens apaixonados. " - Pois não. Mas acho que preciso de um pouco mais de informação para te ajudar. Tem idéia de que tipo de flores ela gosta." " - Não faço a menor idéia. As melhores e mais bonitas." "- A beleza das flores vai depender de como ela encara a vida. Mas se é a primeira vez, vamos ficar nos clássicos." Cristiano comprou uma dúzia de rosas champagne (o vendedor não recomendou cores fortes) e mandou entregar. Voltou na semana seguinte. Para agradecer o florista e para comprar mais flores. " - Ela ad

Dante e Beatriz

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...che nessun la si può recare a mente, che non sospiri in dolcezza d'amore. (Dante Alighieri) Muito jovens se conheceram, mas não passou de um encontro fugaz. Apesar disso, Dante gravou na sua mente a imagem de Beatriz, e nunca mais se esqueceu dela. Tinham a mesma idade, ou algo muito próximo disso. Cresceram separados. Os poucos encontros que tiveram não permitiram que se conhecessem de fato. O que não impediu Dante de ser eternamente apaixonado por ela. Um dia, Dante começou a ter visões de Beatriz. E as visões se multiplicavam de tal forma que começou a anotar e arquivar cada uma delas. Ele tinha a impressão até de que estava roubando algo da amada. Ela nem sabia que o fato estava ocorrendo. Nesse momento ele ensaiou uma aproximação sem muitas perspectivas, apesar disso ela deu sinais que percebia sua existência. Ele já estava começando a ficar animado quando, um dia, ela desapareceu sem deixar sequer sinais de fumaça. Ninguém mais tinha notícias dela. Tentaram falar com o pa

Nem às paredes confesso

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Mário era um sujeito com uma vida sólida e tranquila. Desde jovem tinha se estabelecido objetivos e, um a um, tinha alcançado todos. Alcançara sua estabilidade financeira. Formara um patrimônio que lhe permitia viver confortavelmente. Casara com a mulher que gostava. Teve filhas, que já estavam moças e quase independentes. Tinha uma vida muito ativa. Além do trabalho praticava esportes, estudava música e frequentava um clube de discussões literárias. No entanto, apesar de todas essas coisas, ele não era um homem feliz. E ele sabia o porquê. Por mais de 30 anos tentava envolver sua família naquilo que ele fazia e não tinha resposta ou, quando tinha, era pior ainda pois só desvalorizavam seus méritos. Passou a falar cada vez menos. Quanto menos falava, mais inconformado ficava, uma vez que ninguém se dava conta disso. Ele até entendia as filhas, estavam moças e tinham outras preocupações. Mas jamais entendeu como é que a mulher o ignorava daquele jeito. Exceto no dia em que ela chegou em

Óleos essenciais

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Antonio chegou em casa já tarde, mas completamente sem sono. Tirou a camisa com todo cuidado e colocou-a em cima da cama. Começou a remexer em todos os armários, inspecionou cada um dos maleiros, revirou a despensa e não encontrava o que queria. Sentou-se à beira da cama e respirou fundo. E aí é que ficou mais ansioso para resolver o seu problema. Pensou em vidro, metal, papelão, nada lhe parecia adequado. Os saquinhos para congelar alimento não eram suficientemente grandes. Plástico. Era isso. Mas precisava ser um plástico que não tivesse cheiro. Ligou o computador e foi pesquisar. Encontrou um lugar que tinha exatamente o que ele queria. Mas teria de esperar até o dia seguinte. Como faria durante a noite? De qualquer forma, faltava pouco tempo para amanhecer. Ficou acordado. Às 7 horas estava na porta da loja que só abria às 8. Quando o primeiro funcionário chegou ele disse o que queria. Pagou em dinheiro, não quis que embrulhasse. Voltou rapidamente para casa com a caixa plástica e

Uma história de mattoso

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Marduque oscitava o dia inteiro coçando a omocótila observando o mareorama. Não passava de um arrieiro descansando o obélio sobre o escabelo. No entorno proximal avistava urodelos concóides cernindo-se até mirrar, como se fosse um venador de rinofimas. Uma manhã, entre estapes e amarantáceas, avistou o epacmo de um garotil que papujava numa tessitura sarilha. Acinésico, refugiou-se no ichó para não demonstrar seu inotropismo. Foi alcançado pelo janízaro que, à socancra, o malbaratou com o fanal. Arriscou um propinamento espagiríta. Recebeu de volta apenas increpações. O que não lhe devolveu miosina à sua acnemia. Obcordado, foi lançado onticamente na libata cacósmica, sob a acusação de ser um tafulão que atentava contra o uxório. Sentiu que o ecúleo lhe seriapintalgado de câncaros. Seu anapesto foi julgado uma laracha repleta de secância. Admoniu que sua egéria o levava a escorços cheios de fidúcias. O uale o condenou a prisão nos soles, sem acesso ao mégaro e sem adimentos de tretas.

Ela pôs o pé na sauna

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Luísa passava o final de semana num hotel em Visconde de Mauá. Era a primeira vez que ia para o lugar e, também a primeira que ficava num hotel de chalés. O lugar era bonito, amplo. O quarto também. A cama larga, a decoração elegante. Como era seu hábito em qualquer lugar estranho que conhecia ela resolveu explorar os seus detalhes. Foi até o bloco principal do hotel, viu o restaurante, a sala de jogos. Quando viu a placa indicando a sauna ficou curiosa. Claro que ela sabia o que era uma sauna, mas nunca tinha entrado em uma, até porque lhe soava como algo suspeito. Mas estava sozinha e não custava nada ver exatamente como era. A placa na porta dizia "Sudatorium". Descobriu que funcionava pela manhã para os homens e, à tarde para as mulheres. Entrou. O local estava vazio. Era um vestiário com bancos e armários de alumínio e uma porta de vidro. Abriu a porta e não viu nada além de um espaço todo coberto de madeira. Na parede um botão. Apertou. Assustou-se com o vapor que começ

Lepidopterae

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Papilionoidea sempre diz Hamearis me faz feliz Pieridae é sedução Pieris rapae o coração Delias seu perfume Lycaenidae seu lume Glaucopsyche seu ardor Lycaeides do meu amor Talicada sensação Riodinidae delicada Abisara o mar profundo Danaus é o meu mundo Nymphalidae brilho só Pararge nem te dó Hesperioidea paixão Carcharodus a canção Hedyloidea de verdade Rhofalocera na eternidade

Um brinco para a princesa

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Magenta passeava todos os dias pelo parque. Era muito cuidadosa na escolha das suas roupas, sempre combinando perfeitamente as cores de sua calça pescador e seu top. De todas as combinações, a sua preferida era o conjunto azul cobalto com vermelho da china que transmitiam, juntos, a sedução e a serenidade, resultando numa aparência alegre e vistosa. O resultado primário desse cuidado no vestir era que Magenta era admirada por todos os homens que também faziam suas caminhadas no parque. Mas ela também provocava efeitos secundários, iluminando a todos com seu sorriso e suas elegância. De tempos em tempos Magenta usava também um lenço verde para complementar seu uniforme. Mesmo porque não acreditava que uma cor ocupasse todo o seu espectro de gosto. A vida vem em ondas, repetia sempre. E nem sempre as ondas vem com a mesma força, ou mesma quantidade. Um dia, num dos seus passeio, Magenta parou diante de uma planta coberta de flores. Eram de um rosa vívido, quase rosa choque, quase carmim.

Sombra e luz

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Quando Platão escreveu o seu mito da caverna (que nada tem a ver com a Caverna do Lou , apesar dessa também ser mitológica) ele não imaginava que seria o maior influenciador do tenebrismo, ideologia desenvolvida por Ugo da Carpi no século XV. Ugo ao se deparar com a problematização da luz como modeladora da imagem, ficou perplexo ao descobrir que as sombras, que ele tomava como verdadeiras, eram, de fato a falta de um conhecimento filosófico irreflexivo. Quando compreendeu a metáfora da condição dos objetos reais, contrariando a linearidade platônica da eikasia, logrou alcançar o contraste incontornável entre entre a dianóia e a paranóia. A partir desse momento, cada vez que olhava para a sua mulher entendia que a estruturação espacial do corpo feminino não acontecia por acaso, mas por causalidade. Essa técnica de observação fora do senso comum de outras visões de mundo exigiam conhecimento da perspectiva, do efeito matizador dos vestidos que usava. Dizem as más línguas que, como a sen

O medo

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Januário amava Camões. Tudo que fosse referente ao poeta luso lhe interessava. Já decorara toda a lírica e não poucos cantos de Os Lúsiadas. Durante sua vida vários exemplares passaram por sua mão. Edições de bolso, capa duras, edições brasileiras e portuguesas. Apesar da sua paixão pelo tema, Januário nunca foi apegado aos livros. Esses estavam sempre disponíveis em algum lugar, pensava ele. Conforme lia novos exemplares, guardava-os por um tempo, mas não se incomodava em dá-lo para outras pessoas ou para bibliotecas. Até o dia que um amigo advogado mencionou um autor alemão, Wilhelm Storck, que tinha escrito uma biografia e análise da obra de Camões no século XIX. No dia seguinte ele partiu em busca dela. Mandou e-mails para livreiros conhecidos, pesquisou em comunidades de redes sociais. Finalmente encontrou-a. Soube de uma pessoa que tinha um exemplar. Foi visitá-la para tentar negociar a compra do livro. Descobriu que o dono não dava muito valor para o tesouro que tinha. Era uma p

Insano rural

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Eu nunca fui um sujeito muito rural. Não que não goste do campo mas nunca tive mão boa para as lides agrícolas. Ou melhor, não tinha. Até descobrir minha afinidade com as cucurbitáceas. Aliás, a minha afinidade com uma, em especial, Cucurbita pepo L. Das demais plantas da família, a única outra que me cai em mãos, de tempos em tempos, é algum pepino, mas só para descascar. Já a Cucurbita à qual me afeiçoei é um fruto de fácil digestão, rico em niacina e vitamina B e possui poucas calorias (o que é bastante recomendável no meu caso). Se bem que não é o consumo que me atrai, mas a produção. Tanto de um tipo como do outro. Um deles é a cucurbita menina, que tem corpo curto e pescoço longo. Sua parente, a italiana, já é esguia e sem pescoço. A menina aparece de julho a dezembro, a italiana de setembro a janeiro. De fevereiro a junho eu fico de mãos abanando. Normalmente são verdes, mesmo quando estão maduras. Raramente amarelas. Elas precisam de trato cuidadoso, são sensíveis e se machucam

Solilêncios

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Um silêncio que fere a alma Espalha-se pela sala Preenche todos os espaços Vazios como ele próprio Um coração repleto de vazios Solidão é ter a alma inundada de silêncios Solilêncios pela sala Esparramam-se pelo tapete Manchado de recordações Solilêncios pelas ruas Sufocando os sons da multidão Impregnando o ar Solilêncios pelo mundo Solilêncios nas estrelas Só silêncio em mim

Maravilhamento

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Manuel gostava de falar diferente, não que usasse palavras difíceis ou desconhecidas, mas sempre encontrava um jeito qualquer de deixar sua marca pessoal com alguma palavra que todos conheciam, mas não tinham o hábito de usar, ou pelo menos não usavam nos mesmos contextos que ele. Era capaz de elogiar um prato dizendo que pipocavam bolhas de sabão no estômago. Ou dizer que o trânsito estava sofrendo de incontinência de semáforos. Um café nunca era simplesmente bom, era estimulador de devaneios frugais. Quando via um filme romântico dizia que tinha sido afetado por debulhamentos lacrimais. De todos, o termo que realmente marcou sua pessoa, foi o que usou a vida toda para se referir a Joana, a mulher que sempre foi sua amada e companheira inseparável. Nunca a chamou de esposa, bem ou querida. Também não a chamava pelo nome ou por qualquer apelido carinhoso que, por sinal, nunca tiveram. Se referia a ela sempre como sendo o maravilhamento dos sentidos. De fato, ela o maravilhou quando se

Um caos de matemática

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Outro dia, num café da cidade, eu conversava com um amigo engenheiro quando ele resolveu falar a respeito de matemática do caos. Eu devo ter olhado com uma cara de apalermado. Como assim? Se é matemática, a mais exata das ciências, a ferramenta que serve de base para organizar o mundo, não pode ser um caos. Ele retrucou que era um caos organizado. Ora, se é organizado não é caos, é um oxímoro, eu disse. E aí foi a vez dele de me olhar com cara de bobo. Ele insistiu, afinal mesmo em sistemas dinâmicos complexos, determinados resultados podem ser "instáveis" no que diz respeito à evolução temporal como função de seus parâmetros e variáveis. Ainda veio me dizer que, a matemática do caos demonstra como o bater de asas de uma borboleta pode provocar um furacão. Eu pedi mais um café, me certificando de que o dele não tinha nenhum alucinógeno. Depois fui para casa pensando no assunto, pesquisei, estudei, avaliei e cheguei às seguintes conclusões (por favor, me acompanhe devagar para

Receita luminar

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Desafiado que fui a criar uma receita inusitada e sabedor das perorações culinárias dos meus leitores, resolvi fazer uma experiência incomum, seja na escolha dos ingredientes, seja na forma de cozimento. Inspirado pelos contos de fadas infantis, pesquisei detalhadamente as fórmulas usadas pelas bruxas e fui em busca de uma coruja e de uma borboleta. Admito que não foi fácil. A coruja precisava ser de grande porte e a borboleta leve e delicada, com o maior número de cores possível. Curiosamente fui encontrá-las onde menos esperava, no mercado marítimo da Ilha Negra. Uma vez de posse das carnes, fui para a cozinha. Procurei uma panela que fosse larga e funda. Enchi-a de água quente, mas não excessivamente para não queimar as asas da lepidóptera. Misturei à àgua essência de baunilha e de cacau e deixei que dissolvessem, antes de mergulhar as carnes previamente temperadas em flor de sal umedecida e amarradas uma à outra com um fio de seda. A amarração é fundamental na execução da receita,

O melhor choro

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Ele não se surpreendeu quando, na saída do jardim zoológico, ela sentou na calçada e começou a chorar. Sentou ao seu lado, tirou o lenço amarrotado do bolso e ofereceu para ela que, num primeiro momento recusou, depois acabou aceitando. Por mais simples que pudesse ter sido o passeio, aquele dia tinha um significado mágico para ela. Desde sua infância, tinha pedido às mais variadas pessoas para ir aquele lugar que ela só conhecia de ler e de ver fotos. Talvez por ser um passeio comum demais, ninguém jamais atendera o seu desejo. Seus pais mais de uma vez a tinham levado para viagens aos exterior, o marido sempre a mimou com programas sofisticados. Não que ela não tenha aproveitado todas essas oportunidades mas, porque diabos ninguém a levava ao zoológico? E ninguém entendia que tudo que ela queria era olhar os bichos. Ninguém prestava atenção no que ela dizia. E quando ouviam, empurravam com a barriga. Um programa tão vulgar, pensavam. Ela poderia até ter ido sozinha. Nunca, dizia, que

Pacote completo

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Alice e Ruy tinham saído para jantar para comemorar mais um aniversário de casamento. E não era qualquer um. Completavam 10 anos de vida em comum. Dez anos de felicidade. Claro que tinham passado por bons e maus momentos, mas o saldo era extremamente positivo. Num determinado momento o assunto passou a ser o sucesso do casamento. Ruy entendia que a felicidade morava na compreensão mútua, nunca ninguém o entendera como ela. Alice acreditava que o amor dispensava compreensão, não havia nenhum esforço intelectual para amá-lo, mesmo sabendo que seus intelectos eram um ponto crucial no relacionamento dos dois. Não precisava raciocinar para amá-lo, tudo fluia naturalmente, como um rio sem obstáculos. Ruy concordou e fez questão de reforçar que o principal é que ele a aceitava do jeito que era. Alice sorriu, propôs mais um brinde e o jantar transcorreu em clima de festa e de paixão. No dia seguinte, Alice acordou com dor de cabeça. Não sabia se tinha sido o vinho, o tempero do risotto ou as p

Conticulóides zôoftalmológicos

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Miopia A leoa, exímia caçadora das savanas, escondida, observava a manada de gnus que se aproximava lentamente dela. Lambia os beiços só de pensar no regabofe que teria naquela noite. Deu o bote e avançou feroz. Quando chegou perto percebeu que não eram gnus, mas rinocerontes. Demorou mais de dois meses para se recuperar das múltiplas fraturas Hipermetropia Arnolfo, o jacaré, morava naquela lagoa desde que nascera. Ali dera suas primeiras nadadas, comera as primeiras tilápias, casara e reproduzira. Conhecia cada palmo do lugar e vivia sossegado. Até o dia em que, chegando em casa encontrou a mulher e deu-lhe um abraço de tamanduá. Foi o suficiente para sentir uma forte mordida no rabo. Não era a sua casa, nem aquela a sua mulher. Astigmatismo Tato, o sapo, estava emagrecendo a olhos vistos, mas ninguém conseguia descobrir o porquê, ele se recusava a admitir qualquer problema. Um dia sua amiga rã Zinha observando-o à beira do brejo descobriu seu segredo. Ele não conseguia caçar mosquito

Animalgia

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Eles já tinham passado por muitas dificuldades. Problemas de saúde na família, crises amorosas, apertos financeiros, luto. Mas sempre souberam se cuidar. Quando um fraquejava o outro rapidamente intervinha acudindo. Não importava de quem era a mão ou quem estava desmoronando, sempre escapavam dos buracos. Em alguns momentos com humor, outros com atenção redobrada. Sempre com um amor que ninguém mais tinha. Houve até casos em que um repreendeu o outro, e isso serviu para resolver a situação. Exceto naquela manhã, em que ela acordou com dor na alma. Uma dor como ela nunca sentira. Ele tentou animá-la com brincadeiras. Depois, relembrando-a a cada meia hora do seu amor. Mandou flores no meio da tarde, chegou em casa com uma caixa dos seus bombons de damasco preferidos. Nada. Pegou o primeiro livro que deu para ela e leu. Cantou a música que era deles desde sempre. Ela pediu que ele parasse. Para piorar, a dor que ela sentia começou a refletir no corpo. Enjôos, dor no peito, câimbras. Ele

Vermelho

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Vulto vermelho Vaga avalanche vindo ávida, veloz. Vejo veredas Vasculho o vazio Vislumbro a viagem Volúpia de vulcão Vestida de vento vem sem avisar. Vida avança Veia valsa Voa o verão Evapora o verbo Evanesce o veneno Ouvindo aves Vislumbro a ventura Avalanche Ávida Vulcão Vento Vermelho

Inútil paisagem

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Jorge passeava pelo shopping quando passou em frente a uma agência de viagens. Nem estava prestando muita atenção mas, subitamente, seus olhos foram atraídos por um dos quadros que estava na parede. Qualquer outra pessoa que visse as fotos iria somente ver uma paisagem bonita. Ele nem viu as paisagens, apenas uma chamou sua atenção. Jorge não sabia exatamente que lugar era aquele e, ao mesmo tempo sabia perfeitamente para o que estava olhando. Ficou extático, parado, olhando pela vitrine. Sonhando acordado. Era o brilho dos cabelos dela que estava ali. As nuvens que o encobriam eram os reflexos que ela aplicava cuidadosamente em alguns fios. Lá estava também a água dos seus olhos. A encosta dos seios. A planície do ventre. Até mesmo a vegetação da sua púbis estava lá. Entrou na loja e perguntou quanto custava o quadro. A atendente lhe explicou que aquela era uma agência de viagens, que eles não vendiam os quadros, mas poderia lhe oferecer uma excursão para aquele destino. Jorge não que

A contumaz antologia de Outubro

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A data de hoje homenageia os mortos. Eu prefiro homenagear aqueles que dão vida a esse blog. Com vocês os melhores comentários de Outubro: estarei assim insano??? ...tua traição ficou realmente boa. A paixão é mesmo um exercício para machucar a alma. ...tem gente que iria ficar atrás do cocô do panda... Domingo é dia de batizado das vaquinhas. Estamos românticos hoje? Caramba! O pernilongo bem que poderia ter pousado no pé... ...todos os caminhos dão no mesmo lugar... Que você nunca tenha um mínimo de juízo... Daqui a pouco você vai dizer que tamarindo de Java é bom para a tosse. foi corajoso porque amou ou amou porque foi corajoso? Lição de amor... poderia ser o título. Vou ali tirar sangue. O papel higiênico foi inventado antes ou depois da grande diarréia? Ando lendo coisas por aqui bem piores que o latim. mexer em defunto que já foi enterrado.... eu fico aqui "viajando" na maionese ...se assemelharia mais a um tarado enquanto ela à uma lolita. Onde se localiza o ponto de

In vulcano veritas

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Vulcão é uma estrutura geológica, o que nos permite concluir, antes de qualquer outra elocubração que a lógica estrutural da metafísica não se aplica diretamente às erupções dermatológicas. Um vulcão, só se constitui como tal, quando o magma, gases e partículas quentes escapam para a superfície terrestre, ou seja, não é qualquer buraco fundo no alto de uma montanha que pode ser chamado por esse nome. Quando eles ejetam altas quantidades de poeira, gases e aerossóis na atmosfera, podendo causar resfriamento climático temporário. Sei que isso pode parecer um contrassenso, imaginar que particulas quentes sejam geradoras de climas frios, mas lembre-se a lei de gravidade térmica diz que tudo que esquenta, esfria, nem que para tanto seja necessária uma ducha gelada ou uma garrafa de champagne. Os vulcões são os únicos elementos naturais que causam poluição. Mesmo os não fumantes. Quanto ao formato, geralmente são cônicos, o que lhes permite direcionar melhor seus fluxo de lava. A lava, é uma