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Mostrando postagens de novembro, 2007

Uma linda mulher

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Sabores tão delicados Temperos que não provei Os gostos desperdiçados Nos anos que me atrasei Se fosse me apaixonar Seria só por você Meigos risos intocados De lábios que não beijei Desejos sofisticados Retratos que não sonhei Se fosse só por você Seria me apaixonar Sabores desperdiçados Retratos que não beijei Meigos risos delicados Nos anos que não sonhei Se fosse só por você Seria me apaixonar Os gostos tão intocados Temperos que eu me atrasei De lábios sofisticados Desejos que não provei Se fosse me apaixonar Seria só por você

Sem penas

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Bipes implumis (atrib.Aristóteles ) Não sei exatamente o por quê mas, certas vezes, eu tenho a impressão de que tudo em volta gira perigosamente em torno de mim. Talvez seja culpa do whisky, mas é difícil acreditar que apenas duas garrafas em uma hora possam provocar esse tipo de efeito. Como agora, após passar o dia ouvindo música dodecafônica, bateu-me a irresistível necessidade de cortar as unhas. Minha namorada dizia que eu estava ficando pinel, mas acho que isso era só uma desculpa para dizer que arranjara outro. Outro dia mesmo fomos ao cinema e, no meio da sessão, ela resolveu me dizer que eu havia esquecido de colocar as meias. Achei a observação inoportuna pois foi no exato momento em que eu ia lhe beijar. Quando olhei para os meus pés notei que ela murmurava algo para o cara sentado do outro lado, algo como o seu número do celular. Fingi que não havia notado nada mas, na saída, ela foi ao banheiro e demorou quase duas horas para sair. Se o filme não fosse tão chato eu teria a

Velhos como vinho

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Se você já passou dos 40, duvido que tenha conseguido evitar dizer ao menos uma vez que você é como vinho, quanto mais velho melhor. É um dos clichês mais clássicos e batidos dos nossos dias, repetido até por quem nunca experimentou um gole de vinho. Mas sou obrigado a dar uma má notícia, nem todo vinho melhora na medida em que envelhece. Pior do que isso, pouquíssimos são os vinhos que envelhecem com classe. O envelhecimento do vinho é um elemento importante para se aproveitar o melhor dele, mas apenas um pequeno grupo de vinhos se beneficia do envelhecimento na garrafa. A grande maioria dos vinhos deve ser consumida dentro de um ano, ou no máximo dois, após ser engarrafado. Quase todos já passaram por processos naturais ou artificiais de envelhecimento em barris ou tanques e a permanência na garrafa não vai trazer mais qualquer benefício. Entre os vinhos brancos, aqueles com PH mais baixo (mais ácidos) e, entre os tintos, aqueles que apresentam mais taninos, são os que tem mais chanc

Lá em cima do piano

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Nada poderia fazê-lo supor que algum dia acabaria sozinho. Tudo parecia levá-lo ao amor eterno. Não fosse a decisão dela até hoje estariam juntos. Sempre que recordava o passado Pedro pensava como tudo poderia ter dado certo. Sentava-se ao piano e tocava todas as músicas que lembrassem dela. Mesmo depois de tantos anos, depois de tantas mudanças ainda era ela que comandava as suas emoções. Era um bom profissional. Bem empregado e bem remunerado. Casara com outra e tiveram três filhos que já estavam adultos, uma família exemplar. Tudo desaparecia quando começava a tocar. Conheceram-se no colégio onde nunca foram mais que colegas cordiais. Uma vez foram ao cinema. Nada sério. Quando estava acabando a faculdade foi convidado para uma festa, estava sem companhia. Vasculhando velhos cadernos de telefone encontrou o seu nome. Arriscou ligar. Ela ficou surpresa. Aceitou o convite. Ela não mudara muito. Não era exatamente bonita. Elegante, delicada, agradável. Dançando beijaram-se. Apaixonados

Minha mais recente traição

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Nesse blog eu já traí em francês e até em alemão medieval , mas é a primeira vez que me arrisco a trair um compositor popular americano, com o agravante de você saber a melodia e tentar cantar com a minha versão. Morrer um pouco (Ev’ry time we say goodbye - Cole Porter) Cada vez o teu adeus Me mata um pouco Cada dia o teu adeus Provoca um sonho louco Será que anjos ao longe Não tendo como sorrir Me maltratam tanto Te deixando partir ? Quando estás por perto Há um ar de primavera O som de cotovias Cantando uma quimera Canto igual não existe Me quando o tom Vai de alegre ao triste Todo dia o teu adeus Também existe Ah....o texto original diz o seguinte Everytime we say goodbye, I die a little E verytime we say goodbye, I wonder why a little Why the gods above me, who must be in the know Think so little of me, they allow you to go. When youre near, theres such an air of spring about it, I can hear a lark somewhere, begin to sing about it, Theres no love song finer, but how strange the cha

Eu e você

Jon Anderson, Chris Squire, Steve Howe, Rick Wakeman e Alan White (que a essa altura tinha substituído Bill Bruford) para quem, em 1973, vivia perto das beiradas da Terra And you and I climb, crossing the shapes of the morning. And you and I reach over the sun for the river. And you and I climb, clearer, towards the movement. And you and I called over valleys of endless seas.

Alucinações anacrônicas

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Eu nunca fui consumidor de drogas, exceto aquelas prescritas por médicos. Só tomei um porre na vida e, como passei diretamente do estado sóbrio para aquele que encontramos o amigo Hugo, sem as etapas "alegre" e "engraçadinho inconveniente", foi o primeiro e o último, nunca mais me arrisquei depois disso. No entanto, descobri que já tive alucinações. Remexendo meus alfarrábios encontrei o texto abaixo que eu escrevi em 1984. Não consegui me lembrar nem o por quê, nem para quem. Procurei nas agendas velhas e não encontrei nada que me explicasse o sentido do mesmo. Não sei por onde eu estava viajando... Declaração de amor/pavor Mesmo que eu quisesse, não poderia fazer nada. Apenas olhava atento dentro dos seus olhos. De vez em quando desviava a atenção. A sensação de estar sendo consumido em fogo lento me incomodava. Poemas sobre a mesa. Vinho e cigarros. Você falava calmamente sobre o medo. O mesmo medo que me corroía. Vontade de explodir e despencar num temporal. O

100

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Cheguei ao post número cem do blog. Achei que mereceria uma comemoração estrepitosa, quem sabe uma Roederer, mas o bolso sofreria um desfalque perigoso. Também pensei em colocar as estatísticas de visitação. Me pareceu um tanto entediante. Resolvi ser mais simples e deixar um agradecimento às pessoas que têm tolerado meus e-mails, visitado e comentado o Mens Insana. No começo achei que não conseguiria manter o ritmo de publicação mas vocês me estimulam todos os dias a pensar em alguma coisa nova. Forte abraço a todos e todas. Amanhã tem mais. Ah ! Essa mensagem tem 100 palavras, incluindo essas.

Meninas e o café

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Soneto do desconforto

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Ela disse que eu a quebrava ao meio Mas a queria inteira, delicada, Conduzindo o meu barco sem receio No rumo de uma angra abrigada Como se ela temesse seu anseio A pele em outra pele afagada De um tempo num desejo que não veio Levamos nossa nau na madrugada As vísceras expostas do seu seio A faca no meu peito encostada O sangue jorra intenso em devaneio Nas horas da vigília bem guardada Desconforto é só um peso fugaz Carinho mesmo nunca se desfaz

A alma feminina

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Ontem navegando por poemas, hábito antigo meu, me deparei com a trágica Alfosina Storni. Não que todos seus poemas sejam trágicos, mas o foi a sua vida. Um dia entrou no mar. Entrou e entrou para nunca mais voltar (a Violeta Parra fez uma música linda dessa história). Mas não é só de quando se foi que surgiram obras de arte, ela mesmo escreve a respeito de quando chegou num soneto chamado "Quando cheguei à vida" onde perscruta a alma feminina. Não sei se as mulheres, da perspectiva feminina acham a mesma coisa....mas eu me encanto com essas variações da alma feminina. Algumas são assustadoras, outras deliciosas. Já me disseram que a alma feminina não é nada objetiva, que é regida pelas emoções, muitas vezes fica quase que à deriva, correndo o risco de sucumbir à loucura. Até tenta se manter vigilante como se realmente segurassem o leme, mas as ondas e pedras do caminho acabam provocando desvios inesperados e, não poucos, beirando o abismo (ou serão as beiradas da Terra ?) .

Contículo cacofônico

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Quando eu vi ela a vez passada achei que parecia uma moça fada. Pelo menos como a concebo não poderia imaginar outra cena que não a de Eva e Adão , eu paraninfo dela e ela, alma minha. Eu havia dado a essa fada um prêmio por ter me tido em seus braços. Uma mão de pelica e a boca dela cheia de batom. Por cada momento eu, antes um homem de pouca fé no amor, comecei a oscilar entre episódios de fé de mais e fé de menos. E até nos dias em que meu coração por ti gela, ela tinha o hábito de usurpar os sentimentos que por ti são. Ela tinha voz de rouxinol. Nosso hino ela trinava muito bem. Como ela nenhuma ouve. Eu que nunca ganho no amor via-a partir dizendo : vou-me já ! Hoje ela confisca gado no sertão e não me pergunta mais do que : como está tu ? Essa apenas uma brincadeira em cima dos vícios de linguagem, a anterior foi sobre Tautologia

Swing no supermercado

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Outro dia fui fazer compras no Sam´s Club. Para quem não sabe, o Sam´s é um supermercado semi atacadista da rede Wal Mart. Como toda loja de atacado ela é feia e confusa. O atendimento é próximo do zero, o check-out não tem nem esteira para colocar os produtos que o caixa vai passando pelo leitor de código de barras do carrinho cheio para outro vazio, não existem sacolinhas e, a grande maioria dos produtos só pode ser comprada em lotes (alguns de apenas 3 unidades, mas outros como açúcar e sal, só em pacotes de 10 quilos - o que é que vou fazer com 10 quilos de sal ?). O benefício de comprar lá é que os preços são realmente muito mais baixos que em qualquer outro lugar. Muito mesmo (o merchandising, nesse caso, não foi patrocinado pelo Sam Walton) Uma das características do local é que os carrinhos são imensos. Como os corredores de gôndolas sempre estão abarrotados de produtos no meio deles é impossível entrar com o carrinho. Você para na ponta da gôndola, entra no corredor, pega os p

Novos hai-kais

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Essa é a minha segunda tentativa com Hai Kais. Vale a comparação com a primeira . Também naquela deixei uma breve explicação do que eles são. Alimento sóis Cena de brilho fugaz Intenção no ar Libera a alma A bandeira distante Da maresia Incenso ronda Acende flor girassol Um pouco depois Celacantos sós Na imensidão gelada Dores ancestrais Espero o canto Inda que chovam hoje pedras lilases

Le Beaujolais Nouveau est arrivé

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Em uma de suas cartas à igreja de Corinto, o apóstolo Paulo escreve: "Quando eu era menino falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem desisti das coisas próprias de menino" (Carta de Paulo aos Coríntios capítulo 13, versículo 11). Todos os anos, quando é lançada mais uma safra do Beaujolais Nouveau, me vem à mente esse texto. Quando eu era menino, enologicamente falando, eu gostava de um vinho levíssimo, frutado, um pouco mais do que um suco de uva. Quando eu deixei de ser menino, ele passou a ser apenas um grande sucesso de marketing. Todo mês de novembro é lançada a nova versão do Beaujolais Nouveau, um vinho que surgiu da ansiedade que os vinicultores da região do Beaujolais (extremo sul da Borgonha) tinham para experimentar os seus vinhos recém-colhidos e produzidos. Acabou se tornando um vinho cheio de regras para a sua produção: a única uva que pode ser utilizada é a gamay (gamay noir à jus blanc, uma variedade diferente da q

Lua cheia na Bourbon

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Os meus passos nada passam Meus desejos ultrapassam Tanta gente caminhando em meio à fumaça Atravessando o som. Enquanto isso a lua brilha na Rua Bourbon Certos sonhos deveriam ser assim Olhares tristonhos veriam enfim As cores transparecendo através de instrumentos no mesmo tom Enquanto isso a lua brilha na Rua Bourbon Assim se vão os sonhos Se vão também os desejos Cores, música, fumaça Gente, instrumentos, olhares Tudo triste, tudo bom Enquanto isso a lua brilha na Rua Bourbon

Vulgus vult decipi, ergo decipiatur

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Dura lex, sed lex : no cabelo só Gumex Certamente você já deve ter recebido pelo menos uma vez uma mensagem contando a história de um família que morreu de leptospirose por ter tomado cerveja direto da latinha. Ou aquela do sujeito que acordou numa banheira de gelo num hotel de Buenos Aires sem os dois rins. Não ? Mas aquela do sujeito que estava morto na sua mesa de trabalho há uma semana e ninguém percebeu você já recebeu... Esse tipo de “literatura”, onipresente na Internet já recebeu um nome e até existem sites dedicados a checar a veracidade das histórias. Um grande negócio que está se multiplicando tendo como alicerce a sua ingenuidade e a sua boa fé. Com certeza é preciso ser muito ingênuo para acreditar nessas histórias que imediatamente você repassa para todos os seus amigos e até para alguns inimigos. O que as lendas urbanas tem em comum ? Elas aparecem misteriosamente e se espalham espontaneamente e, como quem conta um conto aumenta um ponto, vão tendo suas variações. Todas

Nossa (???) língua portuguesa - o retorno

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Trudia m'ia amiga chegô falano : - Põe log'es chinelu, mininim, peg' lá u'copim procê qui mi cuntaram uns causo ingraçado. Quéu'ma carninha? Não ? Intonce iscuita : - Esturdia cumpai contô qui u Zé chegô tardi in casa tontim qui nem gambá moiadu i a Maria num quissabê cunversa e sentô a mão na cara du infiliz. Ele inté qui quis dizê qui tava trabaianu inté mais tardi mas uns cumpanhero de sirviço tinha passado preguntanu pru ele. Ah, vixe santa o Zé ficô dirrubado i apanhô inté debacho duis suvaco. Deu no rádindagorinhamês. Cê iscutô? Ela inté falô qui vai largá deli. - Nú ! Credeuspai ! Vixxxxxxx isso é doidimais. - Imagine que sapassado lánacadavó taveu na cuzinha tomando uma picumel e cuzinhando um kidicarne com mastumate pra fazê uma macarronada com galinhassada. Quascaí de susto, quando ouvi um barui de dendoforno, pareceno um tidiguerra. A receita mandopô midipipoca dentro da galinha prassá. U forno isquentô, u mistorô e o fiofó da galinha ispludiu!! Nossinhor

Meninos e meninas

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Vírus estranho. Dizem que até hoje nenhum prêmio Nobel de biologia ou medicina conseguiu isolá-lo, nem descobrir antídotos para suas manifestações. Alguns céticos não acreditam na sua existência. Até serem atingidos por ele. A relação causa-efeito também não foi detectada, conhecem-se os sintomas, não a origem exata. Um dos mais graves é o total embobecimento da pessoa atingida. Mas, acredito eu, o mais interessante é aquele que gera histórias. Reais ou não. Quase todas começam assim : era uma vez, num distante país tropical do hemisfério sul um Rapaz. Sem adjetivos, o que simplifica bem o texto e estimula a imaginação do leitor. Rapaz tinha uma amiga chamada Amiga. Eram muito amigos desde que Amiga e Rapaz descobriram o que poderiam dividir entre eles. Rapaz já fôra apaixonado por Amiga, quando ela ainda não era amiga. Mas essa é outra história e, para evitar o prolixo vai, momentâneamente, para o lixo. Acontece que Amiga tinha uma amiga chamada Menina. Menina era amiga de Amiga há ma

Tempo de despertar

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Como poema

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Triste como nuvem Meu coração não tem Água para contar O tempo passando Suave como o mar Minha canção não quer Dizer palavras azuis Nem viajar Doce como flores Tua paixão não quer Chorar em adagios A falta de céu Triste como o mar Suave como flores Doce como nuvem Não podemos nos render à esperança de esperar que nasça num poema O que nunca surgiu no nosso caminho Triste como flores Suave como nuvem Doce como o mar Nada mais resta a dizer Esqueço-me nos braços e durmo no colo De um bicho-papão

História banal

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"La arena de los ciclos es la misma E infinita es la historia de la arena Así, bajo tus dichas o tu pena, La invulnerable eternidad se abisma" Jorge Luís Borges Era verão, bem no seu começo. Só um almoço cotidiano. Sem compromisso, falar sobre o tudo e o nada . Era verão, fazia calor , uma ou outra pancada de chuva caía . Era verão, bom motivo (ou boa desculpa) para um passeio. Passarinhos se espalhavam pela calçada. Bem-te-vis, sabiás, garrinchas e pardais. Afinal eram bem-te-vis ou sabiás ? Era verão e eram dois olhos azuis olhando para ele. Um braço no seu braço. A mão na sua mão. Um abraço. Um beijo. Era verão. Aquele beijo transformou sua vida . Era verão, ele não ia esquecer. Os dias seguintes foram um tal de trocar e destrocar olhares. Trocar e destrocar bilhetes e vontades de pular sobre a mesa do outro e fazer um escândalo... Dias de falar em jardins florescendo. Dias de poesia. Da troca de poemas. Da troca de olhares e de desejos foi crescendo o desejo. O desejo de

Insano, como de hábito

Pérolas musicais, muitas vezes vêm de onde menos esperamos. A letra é do velhinho cabeludo : I'm crazy crazy for feeling so lonely I'm crazy crazy for feeling so blue I know you'd love me as long as you wanted then someday leave me for somebody new worry why do I let myself worry wondring what in the world did I do crazy for thinking that my love could hold you I'm crazy for crying I'm crazy for trying I'm crazy for loving you

Aforismos, cada vez mais inconsequentes

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Odiar é um grande gasto de energia. Eu sou muito preguiçoso para tanto. Não xinguem minha mãe. Meu mau comportamento não provém de determinismo biológico. Concretismo é um estilo que fica melhor na arquitetura do que na poesia. Eu desconfio de pessoas que, no Orkut, tenham mais comunidades que amigos. Existem seres tão auto suficientes que nem percebem que o são. Quem muda muito de direção acaba no mesmo lugar. Se mais doce é a vingança, onde é que se vende insulina para alguns diabéticos ? Na minha cidade, transitar é um verbo intransitivo. Estou ficando velho. Constatei isso ao descobrir que já sirvo de referência bibliográfica.

A extensão do Filomeno

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Eu tenho espelho em casa. Aliás, mais de um e, desde que me mudei, não só tenho aqueles tradicionais espelhos de banheiro onde a gente se enxerga da barriga para cima, como também tenho um espelho na porta de um dos armários do quarto que vai do teto até o chão, ou seja, nada me escapa. Além disso, eu enxergo bem. Tirando as letras miúdas escritas em negativo e à noite, minha visão, apesar da idade, não anda me traindo. Mais que isso, tenho senso crítico e consciência plena das minhas imperfeições anatômicas. Tenho muito mais peso que seria necessário e, em especial, o abdômen avantajado (melhor que falar que eu sou barrigudo, não é mesmo ?). Estou ficando com os cabelos brancos, mas pelo menos não estão caindo. Na minha pele proliferam cravos (a dermatologista me falou um nome bonito que eu sempre esqueço) que, graças ao meu intenso cutucar, muitas vezes se convertem espinhas. Não sou nenhum monstro e nenhum galã. Tirando os regimes, de tempos em tempos, mais por questões de saúde do

A galera fantasma

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Eu poderia simplesmente ter esquecido aquele sonho e tocado a vida em frente. Mesmo porque faltava apenas um semestre para o fim do curso e São Carlos não era uma cidade de todo ruim. Mas o pique era outro, o coração também. Larguei tudo. Hoje só me arrependo de ter demorado tanto para resolver . Era um domingo. Eu e Mauro, colega com quem dividia a casa, resolvemos dar uma volta. Lívia, minha namorada, tinha ido passar o fim-de-semana com os pais em São Paulo. Eu não achara ruim. Antigas latas de conservas serviram para preparar o almoço, acompanhado da última garrafa de vinho. Saímos depois de almoçar. Passamos na Federal (universidade, não polícia) onde encontramos um pessoal na piscina. Nada de novo. Sugeri que fossemos à casa de Edna beber um pouco de "frutilla". Memórias. Coleção de fatos que se acumularam em pouco tempo. Hoje se refazem como uma coleção de fotos antigas encontradas num velho baú. Quando cheguei em São Carlos achei tudo muito estranho. O preconceito con

Canículas

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Durante algum tempo eu escrevi sobre vinhos para um site chamado Redemoinho, na categoria de amador metido a besta. Claro, nunca cheguei a ser tão besta a ponto de falar sobre os aromas secundários de frutas tropicais subsaarianas. Então vou reeditar os melhores momentos e também escrever alguns inéditos. Aproveitando a onda de calor, vou começar com Canículas, ou porque só os vinhos são discriminados no verão. Canículas Rio de Janeiro. 40 graus à sombra. Num boteco do Leblon come-se uma farta feijoada acompanhada de doses nada homeopáticas de caipirinha - de pinga, é claro. Ijuí. 35 graus. Hora do almoço no campo. À beira da fogueira come-se um churrasco gordo. De mão em mão vai circulando a cuia de chimarrão, quente - é óbvio. São Paulo. Temperatura do ar : 30 graus, temperatura do asfalto: 45. Dentro de um restaurante japonês bebe-se saquê em xícaras de porcelana. Morno - como manda a tradição. Mas experimente pedir um vinho e rapidamente alguém vai perguntar: - Vinho no verão? Você

Antologia de Outubro

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"A descontextualização faz o mundo girar como roda gigante na cabeça dos quem tem alforria literária." Seja lá o que isso quer dizer, descontextualizar os comentários do blog é uma das minhas diversões pode ser a sua também : faça o exercício de ler as frases da antologia sem ir para o post que a gerou e criar uma situação onde ela se aplique. Vai rir junto comigo e descobrir que a insanidade compensa. Aí vai a antologia de Outubro : ...nada como estar de costas pra porta da cozinha.... Meu grande trauma (e o da minha mulher) é a bagunça que deixo afterwards ... ...os estragos são parecidos, as vítimas não... ...neste percurso, considerei acidente de trabalho alguns procedimentos das chefias... Eu uso óculos há anos e muitas vezes prefiro tirá-los para não ouvir o que os sóbrios dizem por ai. Céus! Jamais imaginei que aquela voz fosse de um senhor de cabelos brancos! Não há molde que seja bom, nem (in)sanidade que o justifique. ...são vampiros emocionais conduzindo uma carroç

Toma este vals

Só um cara genial consegue pegar a obra de outro gênio e fazê-la ainda melhor. Federico Garcia Lorca - Pequeño Vals Vienés En Viena hay diez muchachas, un hombro donde solloza la muerte y un bosque de palomas disecadas. Hay un fragmento de la mañana en el museo de la escarcha. Hay un salón con mil ventanas. ¡Ay, ay, ay, ay! Toma este vals con la boca cerrada. Este vals, este vals, este vals, este vals, de sí, de muerte y de coñac que moja su cola en el mar. Te quiero, te quiero, te quiero, con la butaca y el libro muerto, por el melancólico pasillo, en el oscuro desván del lirio, en nuestra cama de la luna y en la danza que sueña la tortuga. ¡Ay, ay, ay, ay! Toma este vals de quebrada cintura. En Viena hay cuatro espejos donde juegan tu boca y los ecos. Hay una muerte para piano que pinta de azul a los muchachos. Hay mendigos por los tejados, hay frescas guirnaldas de llanto. ¡Ay, ay, ay, ay! Toma este vals que se muere en mis brazos. Porque te quiero, te quiero, amor mío, en el desván

Olhos mouros ou isso lá é hora de poesia ?

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Olhos mouros Quantos segredos contados Quantos mistérios desfeitos Quantos sinais, quantos finais Nada demais Quanta luz é revelada Quando não esconde nada Uma expressão, uma canção Sem comoção Quanto tempo perdido Metafísica sem sentido Mesa de bar, não vai calar Um olhar